terça-feira, 17 de maio de 2016

A Situação é Mais Grave do que as Pessoas Imaginam

17/05/16    -    Coluna: Zé do Caroço    Autor(a): Guilherme Cunha




Neste momento, a Presidente Dilma Rousseff foi afastada mesmo sem crime de responsabilidade, e o vice, Michel Temer, assumiu seu lugar. Lembrando que tanto alguns dos que a julgaram (como Antônio Anastasia, relator do impeachment no Senado) quanto seu sucessor, praticaram eles mesmos muito mais das tais "pedaladas fiscais" do que ela. O Brasil vive um estado de exceção. E o mais preocupante é a inquietante sensação de quase "normalidade" que se sente no ar.

Porém, em poucos dias de Governo Temer muita coisa aconteceu. Por medida provisória o Ministério da Cultura e o Ministério da Ciência e Tecnologia e Controladoria Geral da União (CGU), foram extintos. Os dois primeiros vão ser fundidos ou virar secretaria dentro de outros ministérios (ou seja, Cultura e Ciência vão perder verba) e a corregedoria, que era autônoma, vai se transformar num bizarro ministério de combate à corrupção, só que dessa vez diretamente ligado à Presidência da República.

Nenhuma mulher assumiu nenhum ministério, algo que não ocorria desde o Governo Geisel. Pior, toda a equipe ministerial é formada por homens velhos, brancos e ricos, algo tão fora da realidade que chamou a atenção da imprensa mundial - a qual já estava chocada com o ridículo processo de impeachment, que serviu de desculpa para a ruptura democrática no país.

Entre os ministros escolhidos, vários tem contas a prestar na Justiça. Aliás, Michel Temer pode não ser o primeiro homem branco e rico a assumir a presidência, mas já é oficialmente o primeiro presidente em exercício com a ficha suja em toda a história da República, pois foi considerado inelegível por oito anos, por crimes de campanha.



Dois ministros se destacam: Henrique Meirelles da Fazenda, e Alexandre Moraes, da Justiça. O primeiro já acenou com a volta da CPMF - extremamente criticada quando tentada pelo governo Dilma pelos mesmos que agora a querem - além de deixar claro que vai aprofundar a política de austeridade e que o povo vai pagar a conta. E inclua no povo, dessa vez ao menos, uma boa parte dos empresários e da classe média que ajudaram a tirar Dilma.

O segundo ministro é um caso à parte. Até então Secretário de Segurança São Paulo, e responsável por uma das polícias militares mais violentas do país, Alexandre Morares tem no currículo um momento singelo: em mais de cem ocasiões foi advogado da Transcooper, uma cooperativa ligada a lavagem de dinheiro e corrupção da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). Moraes já deixou claro em entrevista estar incomodado com a autonomia que o Ministério Público tinha no governo do PT.

De quebra ainda temos Ricardo Barros, Ministro da Saúde, querendo diminuir os recursos do Sistema Único de Saúde (SUS) e Mendonça Filho, Ministro da Educação, dizendo que apoiará as universidades públicas que cobrarem mensalidades de cursos de extensão e pós-graduação.

Enquanto isso, o próprio Temer exonerou o Presidente da Empresa Brasil Comunicação (EBC), responsável pela TV Brasil e pela Rádio Nacional, entre outras), que teoricamente pela lei deveria ficar lá por quatro anos. E também nomeou Gustavo do vale Rocha, advogado de Eduardo Cunha, para Subchefe para Assuntos Jurídicos da Casa Civil da Presidência da República.



Mas o mais grave veio de fora do Brasil. Além da rejeição maciça de diversos países aliados e organizações internacionais o Wikileaks chocou o planeta (mas não o globo, que ignorou) com a revelação: Michel Temer foi informante da embaixada norte americana em 2006. O atual presidente em exercício de nosso país teria trocado emails com a embaixada dos EUA sobre as eleições para presidente de 2006, quando Lula do PT concorria à reeleição contra Geraldo Alckmin do PSDB.

As mensagens de Temer na época soam quase um consolo aos norte americanos, preocupados com a continuidade de Lula e do PT, onde ele assegura que quem quer vencesse teria que tentar uma aliança com o PMDB, que desde então detinha maioria no Poder Legislativo. Foi o que aconteceu, o PT foi bastante criticado por se unir ao PMDB, até que o último resolveu traí-lo no golpe travestido de impeachment contra Dilma.

E agora sabemos com o respaldo de quem Temer aceitou participar desta farsa para assumir o poder da forma mais absurda, mesmo sendo massacrada pela opinião pública internacional. E eu entendi porque Dilma não deixava Temer participar de seu governo, fato que tanto o indignava, fazendo-o chamar a si mesmo de vice decorativo.

Com tanta gente com as piores intenções no governo talvez a única esperança seja um despertar da maioria da população brasileira alienada e teleguiada a demonizar o PT. Isso pode ocorrer justamente porque Temer ainda é interino e Dilma terá uma votação final no Senado. E nesse meio tempo ele não está sabendo se controlar nem a sua equipe sobre as verdadeiras intenções para com o Brasil. Ao menos não está conseguindo escondê-las do resto do mundo.



Manifestações contra a atual gestão - incluindo o famigerado panelaço - não param em todo o Brasil. A repressão a elas parece ser inevitável. Basta ver como o atual ministro da Justiça tratava manifestações quando era Secretário de Segurança em São Paulo. Resta saber o que nos aguarda. A cada dia surge uma notícia pior e a tendência é ainda piorar muito mais.

Felizmente, sempre podemos contar com a ética e isenta imprensa brasileira pra nos manter bem informados. Só que não.




Imagens:
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