sexta-feira, 3 de junho de 2016

“A Mulher do Fim do Mundo”: o histórico e protestante álbum de Elza Soares

Jean Pierry Oliveira

Elza Soares canta e protesta em "A Mulher do Fim do Mundo"
Foto: Stephane Munnier


Ela brada contra a violência doméstica como se fosse uma “Maria da Vila Matilde” quando diz que “cê vai se arrepender de levantar a mão pra mim”. Agoniza mas não morre quando grita que “é a mulher do fim do mundo. Me deixe cantar até fim”. Quando esbraveja sob a “Luz Vermelha” e afirma que “o mundo vai terminar num poço cheio de merda”. Entre outras coisas.

É brava, protestante, denunciando a violência com sua voz forte na luta contra o preconceito, machismo, homofobia e outras desigualdades que Elza Soares “chega chegando” em “A Mulher do Fim do Mundo”, seu último e recente álbum. Lançado no final de 2015, o CD foi eleito o Melhor Álbum do Ano e está indicado para três categorias no 27º Prêmio da Música Brasileira em 2016: Melhor Canção por “A Mulher do Fim do Mundo”, Melhor Álbum e Melhor Cantora. E não é para menos. Como uma mulher que viu e viveu de tudo, a “Voz do Milênio” imprimiu tintas fortes e escuras sob seu novo trabalho. Elza conseguiu se despir como nunca e com palavrões – não espere delicadeza – e muita personalidade fez desse CD um dos melhores da sua carreira.

Elza em um dos shows de sua turnê: nem sem poder andar ela deixa de cantar.
Foto: Divulgação


Depois de anos sem lançar um álbum de inéditas, aos 78 anoscantora mostra que está melhor do que nunca, cheia de gás e com capacidade suficiente para continuar surpreendendo e abrilhantando seus fãs e a MPB. Antenada, a artista experimenta e mistura elementos musicais quando explora um tango em “Dança”, frases e gírias em “Firmeza?!”, um samba rápido com metais, tesão e no talento em “Pra Fuder” ou ainda um toque lírico em “Benedita”, além de guitarras e distorções. Mulher negra, criada no samba, que sofreu com perdas de filhos, traições, agressões e outros traumas, Elza dá luz e voz às favelas em “A Mulher do Fim do Mundo”. Dali, em meio a todas as agruras e vicissitudes que a vida impregna no cotidiano de cada um, ela buscou inspiração e a reação para renascer das cinzas, característica peculiar da Fênix, que como tatuagem é também sua marca. A prova disso é a lotação das casas de espetáculos em que seus shows são realizados – cada vez mais concorridos e esgotados por onde passa.


Para aqueles que ainda não ouviram, ouçam essa preciosidade de álbum de uma das maiores cantoras desse país, que mesmo presa numa cadeira de rodas (resultado de uma cirurgia na coluna), não perde o pique e nem silencia seu canto.