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Elza Soares canta e protesta em "A Mulher do Fim do Mundo" Foto: Stephane Munnier |
Ela brada contra a violência doméstica como se fosse uma
“Maria da Vila Matilde” quando diz que “cê vai se arrepender de levantar a mão
pra mim”. Agoniza mas não morre quando grita que “é a mulher do fim do mundo.
Me deixe cantar até fim”. Quando esbraveja sob a “Luz Vermelha” e afirma que “o
mundo vai terminar num poço cheio de merda”. Entre outras coisas.
É brava, protestante, denunciando a violência com sua voz
forte na luta contra o preconceito, machismo, homofobia e outras desigualdades
que Elza Soares “chega chegando” em “A Mulher do Fim do Mundo”, seu último e
recente álbum. Lançado no final de 2015, o CD foi eleito o Melhor Álbum do Ano
e está indicado para três categorias no 27º Prêmio da Música Brasileira em
2016: Melhor Canção por “A Mulher do Fim do Mundo”, Melhor Álbum e Melhor
Cantora. E não é para menos. Como uma mulher que viu e viveu de tudo, a “Voz do
Milênio” imprimiu tintas fortes e escuras sob seu novo trabalho. Elza conseguiu
se despir como nunca e com palavrões – não espere delicadeza – e muita
personalidade fez desse CD um dos melhores da sua carreira.
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Elza em um dos shows de sua turnê: nem sem poder andar ela deixa de cantar. Foto: Divulgação |
Depois de anos sem lançar um álbum de inéditas, aos 78 anos a cantora mostra que está melhor do que nunca, cheia de gás e com
capacidade suficiente para continuar surpreendendo e abrilhantando seus fãs e a
MPB. Antenada, a artista experimenta e mistura elementos musicais quando
explora um tango em “Dança”, frases e gírias em “Firmeza?!”, um samba rápido
com metais, tesão e no talento em “Pra Fuder” ou ainda um toque lírico em
“Benedita”, além de guitarras e distorções. Mulher negra, criada no samba, que
sofreu com perdas de filhos, traições, agressões e outros traumas, Elza dá luz
e voz às favelas em “A Mulher do Fim do Mundo”. Dali, em meio a todas as
agruras e vicissitudes que a vida impregna no cotidiano de cada um, ela buscou
inspiração e a reação para renascer das cinzas, característica peculiar da
Fênix, que como tatuagem é também sua marca. A prova disso é a lotação das casas de espetáculos em que
seus shows são realizados – cada vez mais concorridos e esgotados por onde
passa.
Para aqueles que ainda não ouviram, ouçam essa preciosidade
de álbum de uma das maiores cantoras desse país, que mesmo presa numa cadeira
de rodas (resultado de uma cirurgia na coluna), não perde o pique e nem
silencia seu canto.