Thaís Carlos
thais-figueiredo@hotmail.com.br
Talvez o grande motivo desta obra ter
dividido tanto a crítica seja pelo fato de ser mais um filme do Tarantino, e
não O FILME do Tarantino. Não que todos eles sejam iguais, mas em essência
possuem os mesmos elementos. Se seus filmes são tão aclamados por sua quebra na
narrativa clássica, hoje ela está repetitiva, deixando de ser algo muito
inovador. Porque enquanto a maioria dos filmes seguem roteiros baseados na
jornada do herói, iniciando e fechando um ciclo, Tarantino simplesmente nos
joga no presente do personagem. Quem ele era e quem ele se tornará não importa.
Só saberemos do passado aquilo que for necessário para entender as ações no
presente. O personagem simplesmente está ali: fez uma ação, sofreu uma reação e
acabou. Não há moral, não há transformação. Há apenas violência e sangue. Muito
sangue.
Seja por pesquisas de comportamento, em grupo as pessoas tendem a fazer
coisas que não fariam sozinhas, tudo depende de uma pressão ou palavras de
apoio. Somos seres sociais e para sobrevivermos necessitamos pertencer a um
meio - E isso Tarantino soube explorar muito bem.
Pessoas que não são santas, e mesmo se passando a tanto tempo, sabemos
que nada disso mudou. O presente acaba imitando o passado de alguma forma.
No fim é apenas um filme feito para entreter que aborda um tema sério
para ser um mero gancho nos acontecimentos. Não é uma fórmula ruim, mas com
tudo que vem acontecendo no mundo, insistir em entretenimentos que mostram a
violência, mas não a questionam, é preocupante, pois fica dúvida sobre o que
está se acrescentando à sociedade. Não é uma obrigação dos filmes servirem de
exemplo, mas quando se estuda os efeitos que o audiovisual tem, cabe aos
profissionais do meio e público refletirem sobre os motivos de fazer ou
assistir tal tipo de obra.
Frustra um pouco é ver
um filme que tinha um grande potencial para explorar um assunto polêmico,
acabar tornando-se apenas um motivo para uma carnificina. Diferente do que
alguns têm dito, Os 8 Odiados não me pareceu uma critica ao racismo e um
empoderamento feminino, mas sim um longa com 3 horas para assistir a uma
chacina motivada por vingança, que se aproveita da temporalidade pós guerra de
Secessão, onde o racismo e desprezo dos sulistas sobre os nortistas imperava.
Nada mais que isso. O latino continua com o estereótipo de bandido, o homem
negro continua sendo o mercenário vingativo, e a mulher continua sendo a vadia
objetificada que apanha o tempo todo por gerar um forte asco porque não cumpre
seu papel de boa moça na sociedade.
Mas não deixa de ser interessante analisar a forma em que a diversidade
é abordada, a personalidade dos personagens e a forma como são tratados. A
mulher, Jennifer Jason Leigh, não
é uma mocinha indefesa. Mas uma bandida que não se intimida, e que só está
sendo resgatada por ser uma peça importante numa gangue. O novo xerife da
cidade, Walton Goggins, o homem branco que
está longe de ser um cidadão de bem símbolo de justiça. E ao
personagem principal de Samuel L. Jackson, que mesmo sofrendo com o racismo não
permite se abalar. Mas tirando algumas poucas falas, o filme é como quase todos
os outros do Tarantino: um banho de sangue violento com diálogos criativos.
A obra ainda é dividida em 4 capítulos, sendo o terceiro não muito bem
visto pelos críticos, pois cansa pelo fato de ser extremamente explicativo,
contando até com narração do próprio Tarantino. O resto basicamente arrasta-se
num jogo de detetive, onde o mercenário tenta descobrir o que aconteceu com os
donos da estalagem. Enquanto todos vão revelando suas identidades, cada um com
seus preconceitos, mas que no fim, ao descobrir um inimigo em comum ou para
sobreviver, ignoram as diferenças e cooperam em união.
Seja por
pesquisas de comportamento, em grupo as pessoas tendem a fazer coisas que não
fariam sozinhas, tudo depende de uma pressão ou palavras de apoio. Somos seres
sociais e para sobrevivermos necessitamos pertencer a um meio - E isso
Tarantino soube explorar muito bem. Pessoas que não são santas, e mesmo se passando a tanto tempo, sabemos
que nada disso mudou. O presente acaba imitando o passado de alguma forma.
Imagens:
1, 2, 3 - Reprodução