segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Xuxa não emplacou na Record ou a Record não emplacou Xuxa?


28/02/16   -   Coluna: Segunda Tela   Autor: Jean Pierry Leonardo

Desde que foi contratada pela Rede Record, que a presença de Xuxa Meneghel pelas bandas do antigo Recnov (agora pertencente a uma produtora independente e parceira da emissora), causava furor, ansiedade e muita expectativa por aquilo que ela poderia trazer para o canal. Passados seis meses, a sensação é de frustração da alta cúpula dos Bispos pelo desempenho abaixo do esperado do programa “Xuxa Meneghel”.


Competindo diretamente com o “Programa do Ratinho” e, em seguida, com o “Máquina da Fama, de Patrícia Abravanel, a Rainha dos Baixinhos vem perdendo em quase todas as noites de segunda feira. No último embate, no dia 22/02/16, Xuxa chegou a 6 pontos no ibope, contra 9 de Ratinho (cada ponto equivale a 69 mil domicílios na Grande São Paulo e 198 mil telespectadores). Isso, em outras palavras, traduz a 23ª derrota consecutiva da atração para a concorrente. Já quando enfrentou o Máquina da Fama, perdeu de 6 contra 5. Apenas o terceiro lugar, com 10% dos televisores sintonizados e o menor índice do dia para a Record.







Após quase 30 anos na Rede Globo, com uma história de sucesso irrepreensível, era de se esperar que Xuxa +Record ou Record +Xuxa levassem um tempo – aliado ao “timing” do telespectador – para adaptar-se uns aos outros. Entretanto, o que poderia ser um recomeço para a apresentadora, assim como uma ótima contratação da Record – o que não deixou de ser – está indo por água abaixo. Muitos fatores podem explicar isso:

  • A emissora importou o formato e quer fazer de Xuxa a nova Ellen Degeneres (apresentadora americana), no Brasil. Apesar de carisma, talento e público tão cativos como a inspiração, o que o canal dos bispos esqueceu é que Xuxa não é Ellen. Ou seja, parecido não significa ser igual. Logo, erram em querer imprimir uma imagem que a loira não tem.
  • A falta de pautas interesses deixa o programa morno. Quem não se lembra do elenco principal de “Os Dez Mandamentos” na estreia do programa, sentados no sofá, e falando sobre a novela... que havia acabado de ser transmitida?! E meio perdidos. Renovação é preciso. Fora alguns quadros que não combinam com o formato e/ou são mal adaptados da versão americana.
  • Além disso, a principal condição de Xuxa para trocar Rede Globo pela Rede Record, foi ter liberdade para poder ser, falar, criar, apresentar e vestir exatamente aquilo que ela queria. Algo que na Vênus Platinada, não era mais possível. Pois bem, passado os primeiros meses, Xuxa foi perdendo força, seu programa ao vivo passou a ser gravado (o que resultou na perda de espontaneidade no ar), suas falas e temas considerados “polêmicos” cortados; e até seu diretor foi trocado.

Brigando pela vice-liderança e com uma artista de peso em seu casting, a Record mais uma vez desperdiça a chance de fazer frente as rivais.
 
 
Outros motivos poderiam ser listados, mas a verdade é que esse “casamento” não está vindouro como se anunciava na estação. Seja as imposições e limites ofertados pela emissora, majoritariamente, controlada por Bispos ou  pela falta de interesse do público na apresentadora – com muitos comentários e ataques desnecessários nas redes sociais da artista, criticando seu programa e pedindo sua aposentadoria da telinha – Xuxa e Rede Record já não tem uma relação do tipo “tá tranquilo, tá favorável”.
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Parques de diversões!

29/02/2016   -    Coluna: Cronicronando   Autor(a): Bruna Rafaela 





Lá fui eu, em uma tarde calorosa, como uma transeunte atender a um pedido de socorro de uma antiga amiga. Entre soluços e suspiros derivados de um ponto final, o tema não poderia ser outro; o término de um tão adorado relacionamento! Juro que relutei, tentei de todas as maneiras mudar de assunto, corri pra cá, corri pra lá e mesmo assim, quando menos esperava, lá estávamos nós embarcando nesta tão conhecida montanha russa de nossas almas. Coitada! A pobrezinha chorava de soluçar, há dias atrás foi a um parque de diversões com uma amiga e quem ela encontra lá, o zé ruela do namorado- COM OUTRA GAROTA-, cheio de romancinho tomando sorvete pra completar a história macabra. Daí eu perguntei, e o que você fez minha frôr de laranjeira? E a bendita me responde: "FIZ UM ESCÂNDAAAAALO, chamei ele de tudo de ruim que você pode imaginar. Neste momento eu quis dar na cara dela! Fala sério, você se dedica a um pessoa, ela te sacaneia, te atinge e você ainda deixa ela saber que atingiu? Não, não e não…Mas enfim, o papo aqui é outro... Falando em parques de diversões, a atribuição de suas más manutenções poderia facilmente ser atrelado aos relacionamentos atuais. Abre-se o parque e depois lá estão as notas nos jornais, de alguém que despencou da montanha-russa ou foi atingido por um brinquedo. Como um exemplo do Hopi Hari, um parque super famoso em São Paulo, onde uma jovem caiu da montanha-russa. Mas e a responsabilidade de zelar pela tal "manutenção" seria de quem? Passa o tempo, tudo enferruja, os equipamentos corroem e salve-se quem puder. Não resisto a tentação de comparar…É ou não é o retrato de muitas relações? No começo, tudo diversão, frio na barriga, vertigem e depois tudo se torna costumeiro. Falo de casamentos, paixões e amizades. Era pra ser feliz para sempre, mas muitos de nós preferimos acreditar que a longevidade dos amores deve ser atribuída ao destino, quando na verdade, somos nós quem devemos tomar conta. Nenhum encantamento se mantém sem o cuidado mútuo, e acredito piamente que a história de que "a grama do vizinho é sempre mais verde" é uma falseta sem pormenores. Oras, afinal a grama mais verde é sempre àquela que regamos mais. Não tem como tratar um relacionamento como algo que é só dar corda e cruzar os braços, não existe um botão mágico que apertamos para pausarmos e darmos o play quando bem entendermos. A engrenagem não se auto lubrifica, não é uma playlist que selecionamos as melhores músicas para serem repetidas a todo tempo. Mas o zelo exige paciência, e renovar o suspiro a tantos anos visto é como admirar uma obra de arte só por ela estar ali, quietinha, sobre seus cuidados. Então, os resquícios indeléveis do que foi no início da abertura do parque, se perpetuará, para o que ainda é, e o que continuará sendo por muito tempo. Afinal, é como diz Renato Russo: "Amar é uma arte, e nem todo mundo é artista."

Imagem: sbcoaching.com


domingo, 28 de fevereiro de 2016

Surpresa uruguaia no Rio Open 2016


28/02/16   -    Coluna: Esporte Manifesto   Autor: Leandro Soares


Na última semana, entre os dias 15/02 a 21/02 a cidade do Rio de Janeiro sediou o torneio de tênis no qual participaram grandes atletas da modalidade, como Rafael Nadal sendo a estrela maior a participar do torneio. Este tipo de evento começa a ser um dos preparativos para a capital Fluminense, que sediará os jogos olímpicos de 2016.



Realizado no Jockey Club Brasileiro, localizado na zona sul da cidade, Rio Open é o evento mais importante realizado no continente sul americano. O evento teve algumas mudanças com os horários, comparado com o da última edição, tendo suas partidas realizadas mais tarde, a pedidos dos próprios atletas, como o próprio Nadal, apoiaram a ideia, pois consideravam difíceis as condições de jogos sobre o forte calor na cidade carioca.
Mesmo com o grande favoritismo do espanhol Rafael Nadal, atualmente quinto lugar no ranking da ATP, foi surpreendido pelo uruguaio Pablo Cuevas ao superar o espanhol nas semifinais por 2 sets a 1.
Na final o uruguaio Pablo derrotou o argentino Guido Pella, na noite deste domingo (2102), no Jockey Club Brasileiro, por 2 sets a 1, com parciais de 6/4, 6/7 (5) e 6/4, e conquistou o título do Rio Open apresentado pela Claro. Foi o quarto título da carreira do tenista de 30 anos, o primeiro dele da série ATP 500. Com o troféu, Cuevas, atual 45º do ranking mundial, vai somar 500 pontos e se aproximar dos top 30 na lista que será divulgada nesta segunda-feira. Seu melhor ranking da carreira é o 21º lugar, obtido em março do ano passado.
Na decisão deste domingo contou mais a experiência do uruguaio contra Pella, que disputava sua primeira final da carreira. Mesmo tento eliminado jogadores como o norte-americano John Isner, cabeça de chave número 4, e o austríaco Dominic Thiem, favorito número 5, no caminho para chegar à final, o argentino de 25 anos não conseguiu repetir o feito na decisão.
"Agradeço o apoio dos torcedores nesses dias. Sei que todos queriam Nadal na final, mas de qualquer forma, obrigado", disse o uruguaio no discurso após o título. Mais tarde, na coletiva do campeão, revelou a admiração por Gustavo Kuerten, que lhe entregou o troféu. "É um grande prazer receber o troféu das mãos do Guga, um dos jogadores que eu mais admirava. Cheguei a sair mais cedo da escola para ver jogos dele em Roland Garros. Depois, no ano da despedida dele, tive o prazer de enfrentá-lo", lembrou.
Cuevas, que recebeu premiação de R$ 1.217.749,50, comemorou o fato de um tenista sul-americano vencer o Rio Open - nas outras duas edições os campeões foram os espanhóis Nadal, em 2014, e David Ferrer, em 2015. "Os espanhóis estão dominando os torneios no saibro, por isso foi importante termos dois sul-americanos disputando a final aqui", disse Cuevas, que não alcançava uma decisão desde abril do ano passado, em Istambul.
O uruguaio só enfrentou jogadores canhotos na competição. "Foi algo muito raro, porque talvez o circuito tenha uns 20% de canhotos. De uma certa maneira foi bom pra mim, porque não tive que mudar muito minha tática", contou.
Pella lamentou a derrota, mas tentou ver o lado positivo. "Foi a primeira vez que chego a uma final de um torneio desse nível. Fizemos um bom jogo, e ele foi melhor e mereceu o título. Tenho muito o que melhorar e vou seguir trabalhando", disse o canhoto, que chegou ao torneio como 71º do ranking e ficará próximo dos top 40 nesta segunda, sua melhor posição na carreira.
 
Imagem: Reprodução
 

sábado, 27 de fevereiro de 2016

Com “Formation”, Beyoncé denuncia o racismo e conhece o ódio


27/02/16    Coluna: Ultima Nota       Autor: Jean Pierry Leonardo




Sempre com um forte posicionamento, falas e postura feminista em seu trabalho artístico – para além de clipes, músicas e apresentações – a cantora Beyoncé resolveu ir mais longe ao seu lado militante e trouxe a tona um videoclipe onde denuncia fortemente o racismo e abusos de violência policial sofridos pela população negra e periférica, nos EUA, por parte de policiais brancos.



Lançado de surpresa no dia 06/02/16 – virou sua especialidade essa característica -, “Formation” chegou colocando o “dedo na ferida”, justamente no meio de duas situações bem peculiares e importantes para os americanos: a final do campeonato de futebol americano, conhecido como Super Bowl, e no meio da mais concorrida disputa presidencial entre Democratas e Republicanos, para ocupar o lugar de Barack Obama na Casa Branca. Isso tudo porque o clipe mostra como a população negra de Nova Orleans sofreu com as consequências do furacão Katrina, em 2005, além de também reverenciar os protestos do movimento “Black Lives Matter”, que balança o país há um ano e meio, desde a morte do adolescente Michael Brown. Desarmado, ele foi morto a tiros por um policial branco (inocentado) em Ferguson, no Missouri, caso seguido por vários episódios semelhantes em outras cidades norte-americanas.

Cheio de referências, “Formation” estampa alusividade a personagens e movimentos históricos na luta pela igualdade racial nos EUA, como o pastor Martin Luther King Jr. (com referências ao histórico discurso “I Have a Dream” / “Eu Tenho um Sonho”), ao movimento Black Panther (Panteras Negras), organização fundada em 1966, com o intuito de proteger moradores dos guetos negros da Califórnia contra a brutalidade policial, e a Malcom X, líder negro responsável direto pela aprovação da Lei de Direitos Civis que proibia a segregação racial e o linchamento dos negros. O single também pode ser considerado um hino de bravura, reconhecimento, pertencimento, resistência, orgulho e exaltação pela origem negra – de Beyoncé e da história de seu país.

Revestido por inúmeras simbologias e uma verdadeira “aula” de semiótica, Beyoncé traduziu e foi fundo em toda a sua revolta e descontentamento pela maneira como seus pares afro-americanos são tratados na América. Mais do que isso: a artista busca dar voz a quem não tem, levando consigo a responsabilidade de chamar a atenção para algo que não querem falar. Ou insistem em não enxergar. Mas que vitima inocente, com a mesma facilidade que ela tem pra cantar e dançar.   Para isso, não tinha melhor oportunidade do que apresentar-se ao vivo no maior evento esportivo e recordista de audiência nos EUA: a final do “Super Bowl 50”. No dia seguinte ao lançamento do novo clipe.


Assistida por mais de 114 milhões de pessoas (segunda maior audiência já registrada numa final de campeonato em 50 anos) e megalomaníaco, como sempre, a atração foi o estopim para que a apresentação de Beyoncé suscitasse incômodo, revolta, gerasse protestos, pedidos de boicote à cantora, a NFL (liga norte americana de futebol), discursos de ódio entre (alguns) telespectadores e a indignação de políticos mais conservadores (Republicanos, diga-se de passagem). Resultado: segundo relatórios divulgados pelo Washington Examiner, oficiais da polícia chegaram até mesmo a desligar seus televisores durante o Halftime Show para não ouvir Beyoncé cantar sobre o tema. No Facebook, membros da Associação Nacional dos Xerifes disseram ter baixado o volume e virado as costas para a televisão no momento da performance.
 

Rudolph “Rudy” Giuliani chegou a declarar que “foi revoltante ela usar o show como uma plataforma para atacar policiais que são as pessoas que a protegem e nos protegem, nos mantêm vivos”.  Isso porque Queen B não economizou durante sua perfomance. Convidada de honra da banda Coldplay, assim como Bruno Mars, ela convocou seu “exército” de bailarinas e juntas se apresentaram com roupas à la Panteras Negras. Estas, ainda formaram um enorme “X” no gramado do estádio numa clara referência a Malcom X. Para quem ainda não entendeu o porquê de tanto rebuliço, é simples: o Super Bowl não somente é uma “overdose” e fanatismo nacional – tão importante que o país inteiro, quase que literalmente, para. E seus ingressos chegam a custar R$ 5 mil reais – como também é majoritariamente assistida e praticada por brancos. 

Sinceramente, isso foi a melhor sacada de Beyoncé. Apesar de muitas críticas pela chance “oportunista” que atribuem a ela de fazer de um evento esportivo uma plataforma para suas aspirações político sociais, é inegável que a mesma tenha o direito de se expressar quando e onde quiser. Aliás, cabe aqui julgar os inúmeros comentários de que ela não teria propriedade para discutir racismo, por ser uma celebridade rica que só está atrás de atenção. O “mito” que sempre lhe foi empregado – assim como para com muitos outros artistas negros, sejam cantores, atores, apresentadores etc – de “esbranquiçá-los”, pois interessam ao desejo e peculiaridades do bel prazer alheio, é um problema pessoal de cada um daqueles que insistem em renegar ou não atribuir à negritude que cabe a Beyoncé e a quem mais quer que seja.

Beyoncé nunca pediu para ser “a negra que parece branca porque os brancos assim o enxergam e/ou querem”. Para estes, saibam: a artista é nascida em Houston, no Texas, de pais oriundos de Louisiana e do Alabama, dois estados do sul marcados pelo passado escravocrata. Logo, todo e qualquer discurso profanado de que sua riqueza é demérito para não assegurar-lhe responsabilidades, o dever ou a propriedade para contribuir com força a uma causa emergente, é utopia. Pior, é burrice. Portanto, “Formation” marca uma nova e (ainda) mais combativa fase de Beyoncé, que não teme ser perseguida e cair no ostracismo como fizeram com Nina Simone, nos anos 60. Aliás, à despeito disso, fica a dica: todos os 16 shows marcados em estádios para a “The Formation World Tour”, encerraram-se em 48 horas. Afinal, como ela canta no novo “hino”: “Ganhei esse dinheiro todo, mas nunca abandonei minhas raízes”.
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quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Os astros são outros


24/02/2016   -   Autor: Fabio Rodrigues   Coluna: Manifesto Futebol Clube




Normalmente, o que acontece nos gramados dos estádios de futebol é um espetáculo, seja por uma partida bem disputada ou por jogadas geniais executadas pelos astros da bola, entretanto, logo no maior palco futebolístico, outro tipo de espetáculo vem sendo mais atrativo. No último sábado, os astros do rock da banda inglesa Rolling Stones invadiram o Maracanã para um show de sua turnê "América Latina Olé". E no dia 10 de abril, será a vez do Coldplay se apresentar no lugar dos clubes.

Vale a pena lembrar que desde 2013, o Consórcio Maracanã S.A. (formado pelas empresas Odebrecht, IMX e AEG) – Odebrecht envolvida na operação Lava Jato – administra o local, decisão que gerou muita discussão, pois antigamente o Maracanã era do governo do Estado, ou seja, do povo, e com isso caiu em mão de empresários que iriam buscar o lucro, o que de fato está acontecendo.

Todos sabiam que com a chegada das Olimpíadas, os espaços que vão ser utilizados seriam fechados para melhorias ou até mesmo preservar as condições. Por saber disso, clubes Flamengo e Fluminense deveriam ter procurado uma alternativa para poder mandar seus jogos, contudo usar a apoteose do futebol como casa de show é um belo tapa na cara dos amantes desse esporte, sem contar que esses concertos causam mais danos e prejuízos ao gramado do que uma partida, porém se lucra mais com essas apresentações e essa é a razão delas estarem acontecendo.


Os cariocas tão acostumados a ver os craques mostrarem sua magia em um drible desconcertante, a cantar a música do artilheiro quando esse marca um gol importante, a vibrar com cada defesa do goleiro paredão, terá que se acostumar com essa nova realidade. Agora, os astros são outros...

Fotos: Site Globo Esporte

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Em Quem Eu Tenho Que Bater Pra Resolver Isso?


24/02/2016   -    Coluna: Zé do Caroço   Autor: Guilherme Cunha


Alguns anos atrás eu colecionava o gibi do Homem-Aranha e havia um roteirista cujas histórias me chamavam bastante atenção. Seu nome era Paul Jenkins. Jenkins adorava envolver o herói Peter Parker em situações que destoavam dos clichês típicos de super-heróis e que volta e meia apresentavam alguma crítica social.

Numa dessas HQs o Homem-Aranha reencontra um velho inimigo, o Verme Mental, e descobre que ele virou um mendigo. O outrora poderoso vilão telepata era agora um morador de rua aparentemente desequilibrado mentalmente, vivendo em farrapos num beco enquanto tentava em vão se encolher para se abrigar de uma tempestade. Reencontrá-lo nessas condições deixa o herói da Marvel completamente desconcertado.

O Homem-Aranha, tão forte, ágil e valente, poucas vezes se sentiu tão impotente como nessa ocasião, diante da situação de extrema vulnerabilidade em que encontrara o Verme Mental. Tudo que conseguiu fazer foi dar-lhe o seu guarda-chuva, enquanto lhe restava um amargo pensamento irônico:

“Em quem eu tenho que bater pra resolver isso?”

Lembrei-me desse quadrinho ontem à noite, ao passar por um dos inúmeros pontos da nova operação de segurança pública do Rio de Janeiro. Como o governador Pezão parece reconhecer não dar mais conta da violência urbana, foram chamados reforços contratados pelo setor privado. Eufemismo pra dizer que a segurança pública foi terceirizada no Rio.

Agora seguranças contratados pela Fecomércio-RJ (Federação de Comércio do Rio de Janeiro) se unem a policiais militares e guardas municipais em diversos bairros em operações batizadas como Lapa Presente, Méier Presente, Aterro Presente etc. Tudo em nome da (falsa) sensação de segurança que o povo cada vez mais alienado sente ao perceber que as ruas são vigiadas por agentes armados.

Nesse texto não pretendo discutir a legalidade dessa medida ou ausência dela. O que me chamou atenção naquela noite foi o que vi ao passar por uma dessas operações numa praça. Lá estavam inúmeros homens e mulheres a serviço da Fecomércio, com seus coletes coloridos, suas armas e seu balão (!) igual ao da Lei Seca. Todos prontos para “combater o crime”. Em contraste, do outro lado da praça, podia-se ver um número igualmente chamativo de moradores de rua improvisando um abrigo da chuva que tem dado expediente todos os dias nesse mês de fevereiro. Dormiam literalmente na sarjeta.

Quando um vendedor de cachorro quente recolhia seu carrinho espantou um grupo de três baratas que correram pra cima do papelão onde um dos sem teto fazia sua cama improvisada. Mais adiante alguns tentavam matar a fome com os restos de comida das lanchonetes que estavam fechando. Essa cena ocorria exatamente nas costas de todos os agentes da lei e da ordem que ali se encontravam completamente indiferentes a essa realidade. De fato, eles não estavam lá pra isso. E esse é o problema.

Sua função ali é essencialmente repressiva. Mais até do que prender bandidos, eles estão ali pra desestimular quem queira cometer roubos. Sua presença deve ser intimidadora para manter a ordem. Praticamente a mesma coisa que a Polícia Militar e a Guarda Municipal fazem. Mas, diante de um cenário desolador como o dessa praça, esses garbosos guardiões da segurança pública só conseguem transmitir a absoluta impotência do Estado perante a desigualdade social.

Eles representam mais um esforço do governador e também do prefeito Eduardo Paes em tentar resolver combater a criminalidade no Rio. Isso com a anuência de boa parte da população. Gostaria de saber se na cabeça de algum daqueles agentes não ocorre que a fome e a miséria são crimes também. Será que um deles não pensou:

“Em quem eu tenho que bater pra resolver isso?”



Comecei a pensar que pelos lugares por onde passo o número de moradores de rua tem aumentado quase na mesma proporção que o número de agentes treinados para reprimir. Lembrei de uma amiga minha  que me mostrou um dado alarmante do CRESS (Conselho Regional de Serviço Social).

Nos últimos dez anos a prefeitura do Rio de Janeiro cortou cerca de mil vagas de assistentes sociais na cidade. A cada ano Eduardo Paes tem diminuído o número desses profissionais. Em 2006 haviam 1500 e hoje são pouco mais de 500. Os abrigos que acolhem uma parcela da população de rua também se encontram longe do ideal. É impossível não ligar esse descaso com medidas sociais inclusivas com a política repressiva do prefeito, que prefere investir mais numa Guarda Municipal que serve pra perseguir camelô e espancar folião em bloco de carnaval.

Ou seja, ao mesmo tempo em que não se pode acusar sua política de segurança pública de ser inútil, não se pode negar o quanto ela é fútil.

Nas ruas vivem todos os tipos de pessoas e nem todas são pedintes. Lá estão os dependentes químicos, os que fugiram da violência de comunidades, pessoas com problemas mentais que não tem quem olhe por eles e até mesmo trabalhadores que, por ganharem o suficiente apenas para comer, não tem como pagar moradia ou, tendo onde morar, não tem o suficiente para pagar a passagem de volta para casa todos os dias.

É um problema social complexo que o prefeito parece achar não ser digno de importância. Ou talvez ache que seus guardas armados de cassetetes possam se encarregar do assunto.

“Em quem eu tenho que bater pra resolver isso?”

Podia ser uma piada, mas não é. É apenas frieza diante de um sofrimento alheio ao seu. Apoiada por muitos cidadãos adeptos da política de segurança repressora e intimidadora, satisfeitos com a ilusão que a “sensação de segurança” lhes traz.

É justo? Não sei. Estão preocupados em chegar em casa vivos numa cidade violenta. Mal sabem que essa preocupação é um luxo para muitos que vivem nas ruas e estão à mercê dessa mesma violência tanto dos bandidos quanto da polícia, além de sofrerem um misto de ódio e desprezo da sociedade.

A sociedade que já está ocupada demais em saber se os seus chegaram em casa com segurança para poder dormir em paz sem se preocupar com o resto. São culpados por não perderem o sono pensando em quem sobrou do lado de fora? Não sei. Não tem baratas na cama deles.

Seguindo pela praça até o final avistei gente revirando o lixo. Outros usando os sacos de lixo pra dormir. Enquanto isso, um caminhão da Comlurb (Companhia de Limpeza Urbana) fazia a coleta. Logo os sem teto tiveram que parar o que estavam fazendo e irem dormir em outro lugar.

Em todos os grandes eventos do Rio de Janeiro, poucas pessoas trabalham mais que os funcionários da Comlurb. Em 2013 a companhia anunciou que até este ano subiriam para 25% o lixo reciclado. Pouco antes da Copa de 2014 uma greve dos garis ficou famosa na cidade por dobrar o prefeito e garantir um justo aumento de salário para a categoria.

Talvez tal conquista se deva menos pela importância que o trabalho dos profissionais tenha para Eduardo Paes e mais pela importância que o lixo tem para ele. Naquele mesmo ano foi criado o Programa Lixo Zero, que visava eliminar totalmente das ruas o descarte de resíduos. Virou referência internacional ao multar qualquer um que jogasse lixo no chão.

Mas não impediu que nas portas de todas as casas pessoas esfomeadas rasgassem os sacos pretos sujando tudo ao redor enquanto vasculhavam atrás de sobras que seriam uma refeição garantida até o próximo dia de passagem do caminhão da Comlurb.



Mas não pensem que a empresa e o prefeito fingem que a população de rua não está lá. Desde 2010 a prefeitura ordenou a Comlurb que colocasse pedras pontiagudas debaixo dos viadutos e armações de metal nos bancos das praças para impedir as pessoas de se deitarem ali.

Em abril de 2015, segundo o site RJ Notícias, um grupo de pessoas acusou os garis de abordagem violenta ao expulsarem moradores de rua da Cinelândia. Um dos sem teto declarou:

“Eles vieram falando para a gente sair, que iam recolher nossos colchões e jogar água na gente com aquele caminhão-pipa usado para lavar calçada, se continuássemos ali. Eles disseram que estavam cumprindo ordens e que a gente não poderia ficar mais ali. Se a gente insistisse, eles iam usar a força para tirar a gente”




Gostaria de concluir dizendo que os moradores de rua são tratados como lixo na nossa cidade. Mas isso seria uma mentira. O lixo é mais bem tratado do que eles. 

Foto 1: Spiderfan.org
Foto 2: Ioerj.com
Foto 3: Extra On line
Foto 4: Recicloteca.org
Foto 5: O Globo



Questão Rouanet sob o olhar da CM


24/02/16   -    Coluna: Cultura Manifesta   Autor: Israel Esteves

Com repercussão nacional, um assunto que já vinha de polêmicas, volta à tona, e a coluna amante das artes independentes não poderia deixar de tocar nele. Pra ficar com a cara da CM (Cultura Manifesta), convidei os também amantes da arte, o jornalista Felipe Migliani, o MC e produtor cultural Nyl e o músico, produtor musical e empresário Guilherme Benaion, a darem suas opiniões quanto às polêmicas, conceitos da lei e visões sobre a questão Rouanet. Acompanhe as palavras do pessoal.


O que é a Lei Rouanet para você?

Felipe Migliani - Jornalista nos sites Momento da Bola, Festival Marginal e Manifesto.

"A lei surgiu para educar as empresas e cidadãos a investirem em cultura, e inicialmente daria incentivos fiscais, pois com o benefício no recolhimento do imposto a iniciativa privada se sentiria estimulada a patrocinar eventos culturais, uma vez que o patrocínio além de fomentar a cultura, valoriza a marca das empresas junto ao público. A lei possui pontos negativos como a possibilidade de fundos serem desviados impropriamente e falta de investimento direto na cultura. Ao invés de investir diretamente em cultura, começou a deixar que as próprias empresas decidissem qual forma de cultura merecia ser patrocinada. Os incentivos da União (governo) à cultura somam 310 milhões de reais: R$30 milhões para a Funarte e R$280 milhões para a Lei Rouanet (porcentagem investida diretamente pela União), enquanto o incentivo fiscal deixa de adicionar aos cofres da União cerca de R$ 1 bilhão por ano... Existe um projeto na câmara dos deputados chamado Procultura, que moderniza e aumenta a distribuição dos recursos de incentivo à cultura, fortalecendo as áreas do Norte e do Nordeste. Com isso, o produtor cultural de pequeno porte como o cidadão ou empresa com receita bruta de até R$ 1,2 milhão ao ano. O Procultura também fortalece o Fundo Nacional de Cultura, fazendo o repasse de cada incentivo dado à lei para o fundo. Assim, O Procultura atuará em dois eixos: democratiza e redistribui recursos da Lei Rouanet".

Qual sua opinião quanto a polêmicas relacionadas a aprovações a artistas que teriam condições financeiras de arcar com os custos de seus projetos?


Nyl - MC e Produtor Cultural

"Acho que a discussão tem que ser amplificada pra toda população, pra quem faz cultura e pra quem consome. Principalmente por se tratar de dinheiro público. Os chamados artistas grandes usam desse recurso porque a lei não os impede. Um artista midiático e um artista menos conhecido conseguem aprovação na Lei Rouanet, a grande questão é a hora da captação do dinheiro. Se o dinheiro disponível não for captado dentro daquele período, ele volta pros cofres públicos. As empresas querem visibilidade de marca e a grande maioria não tá se importando com legado cultural, democratização de acesso e etc. Qual desses artistas conseguem empresas que só querem ser vistas por todo mundo? Pra se fazer Cultura, é preciso um olhar mais humano e 95% das empresas não tem esse olhar e ao mesmo tempo acabam dando as cartas nesse segmento.

Outro ponto a se questionar é o valor do produtor cultural das favelas e do produtor de grandes eventos. Os editais que vem com a proposta de atender as demandas culturais das favelas e territórios populares têm um valor muito mais baixo do que o destinado para grandes eventos. Se for pra diminuir as desigualdades, por que não distribuir o dinheiro de 1 biografia da Claudia Leitte ou de um Rock in Rio na mão de 3 atividades culturais que já acontecem, já existem e sobrevivem com muita luta sem esse dinheiro?

Um dos grandes desafios para o setor cultural é uma reforma na Lei Rouanet que garanta e amplie o acesso que todos têm de colocar seus projetos e conseguir aprovação. Que haja uma avaliação com melhor senso e menos olhar mercadológico. Dinheiro é necessário e é preciso chegar à ponta, pra quem vive a realidade da maioria da população e faz cultura na prática".

Em relação a empresas responsáveis pelos investimentos nos artistas, acredita que além do interesse nas renúncias fiscais, podem apoiar projetos de qualidade, visando apenas enriquecimento cultural?



Guilherme Benaion -  Guitarrista da banda Vendo meu Sofá Vermelho, Dono do Espaço 989, Músico, empresário, produtor musical. Já atuei em bandas de diversos estilos, desde metal (Eternyx como o mascarado Sarlik) até bandas de baile (Mazzoni e a Máfia). Formado pelo Conservatório Brasileiro de Música em Musica e Tecnologia, Licenciatura em Musica, cursando Engenharia Mecânica na UERJ.

"Não, acho que seria hipocrisia.

Você se fosse dono de uma empresa investiria na sua banda?

Se pensarmos pelo aspecto de alguém que precisa que seu projeto seja apoiado, acho que a galera tem que começar a oferecer mais do que simplesmente a renuncia fiscal (através da Lei). A galera se acomodou depois que a lei saiu. Procura simplesmente a parte do apoio visando a autopromoção, o que na verdade deveria ser o contrário. Se você está atrás de apoio de alguma empresa você deve oferecer à empresa algo que possa interessar ao investidor. Mas isso é só parte do processo final.

Comecemos de novo. Vamos ver o processo que uma banda passa até pedir investimento.

Primeiro criar a banda e chamar a galera para tocar que isso é o principal, mas aí estamos na brincadeira, né... Quando o assunto fica sério devemos assumir uma postura séria. Transformar os ensaios em algo que possa tornar o seu produto de venda atrativo aos seus compradores (futuros compradores). Definir qual seu público, pensar em alternativas de marketing (Facebook, Youtube, internet em geral). A grande genialidade está em conseguir tornar sua música algo bom para você e para os outros. Estude, pesquise. Existem bandas de estilos bem diferentes com ideias bem definidas sobre isso, podemos citar banda como Memora, Canto Cego, Verbara, Cândido, Far from Alaska, Stereophant, essa galera sabe o que está fazendo e cada passo é friamente calculado e estudado. O show... Bem... Você pensa em como anda o show da sua banda? O show deve ser feito de forma a criar o maior envolvimento com o público e que você possa mostrar a identidade da banda que você criou da forma mais eficiente possível, pois o show é a forma mais direta de apresentação do seu produto. Já assistiu a um show da Mobile Drink? Quando você assiste, você consegue exatamente definir o que é a banda, qual seu conceito. Posso dizer o mesmo sobre outras bandas como: Quarto Teto, Soundbullet, Banda Gente (que showzaço!). Tá, depois disso tudo, com essas coisas, o que falta para conseguir patrocínio? Falta muito... Quantas pessoas conhecem a sua empresa (Banda)?  O logo que vocês criaram define o conceito da banda? Bem vamos supor que tudo tenha sido feito corretamente até aqui, a pessoa tem uma banda, com um conceito definido, uma logo interessante e coerente, um show pensado e de qualidade (e não estou falando sobre errar uma musica no palco), seu Facebook está sendo divulgado frequentemente, o mais importante, músicas que são gostosas da banda tocar e atingem o alvo exato que a banda toda focou. Agora é só escrever um projeto para ser aprovado na lei Rouanet e pronto? Ainda não... Você precisa captar empresas que vão te apoiar... Não adianta esperar sentado... Se você acha que seu projeto deva ser apoiado, corra atrás, vá até as empresas com o projeto escrito e mostre que a sua banda pode trazer para elas algo interessante. O processo do Crossfunding é um bom exemplo de produtos que você pode oferecer em troca de investimento (procure alguns sites e divulgue). Sinto falta da galera que corre atrás fisicamente. Lembro quando toquei no Projeto G6 Orquestra de guitarras (uma orquestra de guitarras que tinha como objetivo mostrar lados diferentes da guitarra na música), fomos até Petrópolis, Teresópolis e Friburgo para conseguir algum tipo de apoio, e lá em Friburgo fomos extremamente bem recebidos e conseguimos o apoio que queríamos. Muitos recusaram, óbvio, mas em coisa de 3 meses de procura conseguimos o apoio que queríamos, tocamos no festival de inverno e fizemos uma série de shows na cidade. Mas se ficássemos somente pela internet seria (acredito eu) muito mais difícil de conseguir o que conseguimos por lá. O projeto hoje não existe mais, mas não foi por causa de apoio e sim por problemas internos.

Com isso, acho válida a pergunta que fiz lá em cima. Você se fosse dono de uma empresa investiria na sua banda?"

Bom, com um tom mais leve como de uma conversa, espero ter dado uma boa contribuição ao assunto. Agradeço a todos que deram suas opiniões e aos leitores. Eu sou Israel Esteves e lhes deixo mais uma Cultura Manifesta. 


Fotos: Jéssica Andrade, Rubens Achilles

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Após invadir campo de futebol pedindo o impeachment, manifestante comemora em rede social


23/02/16   -   Coluna: Detetive Ponto Com    Autor: Marcos Furtado


No último domingo (21), a torcedora Kelly Cristina dos Santos, mais conhecida nas redes sociais como Kelly Bolsonaro, invadiu o campo do estádio Mané Garrincha, em Brasília, aos 33 minutos do segundo tempo do clássico “Fla x Flu”. Kelly estava enrolada em uma bandeira do Brasil e segurava um cartaz com os dizeres “Fora Dilma”.



No instante que a manifestante entrou no gramado a partida foi paralisada e parte da arquibancada aplaudiu a iniciativa da protestante.  Além do pedido de impeachment, Kelly Cristina, que não tem nenhum parentesco com o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ), convocava todos para a manifestação no próximo dia 13 contra o governo.



Atualmente a página oficial da jovem possui mais de dez mil curtidas e ainda convida todos a repetirem a sua atitude. “Todos podem fazer o mesmo, basta querer e tomar uma atitude. Chega de pagarmos uma conta que não é nossa!”. Além de compartilhar ideais de Bolsonaro, ataques ao PT e críticas ao feminismo. O “Detetive ponto com” verificou a página de Kelly e selecionou algumas de suas postagens mais polêmicas. 

Críticas a ideologia de gênero



Posicionamento contra o feminismo





Posicionamento contra o aborto















Posicionamento contra as cotas raciais














Em uma de suas postagens, Kelly utiliza um meme polêmico




O apoio a manifestante tanto em redes sociais como no campo só salienta o crescimento do "antipetismo" no Brasil. Uma pesquisa, divulgada no último domingo (21) pelo jornal Folha de São Paulo, constatou que os "antipetistas" cresceram de 7,49% do eleitorado em 1997 para 11,44% em 2014. O estudo elaborado pelo cientista político David Samuels, professor da Universidade de Minnesota (EUA), em parceria com o também cientista político Cesar Zucco Jr., apurou que o PT é o partido mais odiado e ao mesmo tempo querido do país. Atualmente 15,95% declaram simpatia pelo PT.

O sociólogo e diretor executivo da ESPOCC (Escola Popular de Comunicação Crítica) Eduardo Alves faz uma análise sobre o "antipetismo". 

"O PT foi o primeiro partido de esquerda de massas que conquistou cargos eletivos estratégicos em cidade, governos estaduais e no Governo Federal. O que chamam de 'antipetismo' tem se firmado como um movimento ideológico de direita que questiona conquistas que se materializaram nos governos petistas: cotas, direito das mulheres, direitos dos homossexuais, renda mínima, etc. Com todos os problemas dos governos petistas, e são muitos, há vários símbolos que se destacam como o combate a miséria, o maior número de negros das universidades e no ensino médio, o aumento das universidades públicas, e várias ações de direitos das mulheres, negros e homossexuais. Muito há que se avançar em todos essas políticas públicas. Mas o 'antipetismo' não se firma como um movimento propositivo contemporâneo, com propostas para avanços em direitos, superação de desigualdades e aprofundamento democrático. Ao contrário, o tal 'antipetismo' tem se marcado por uma onda ideologizada da direita conservadora. De um lado isso demonstra também o avanço democrático do país, pois, quando as forças conservadoras e autoritárias estiveram no poder do Executivo, as divergências foram cassadas, perseguidas e aniquiladas. Agora, se avança com liberdade para todo o tipo de exposição de ideologias e projetos. Ainda que muito tenha que se avançar na jovem democracia brasileira. Por outro, há um evidente crescimento da direita e dos setores conservadores como movimentos oposicionistas, tomando às ruas e querendo disputar o rumo do Brasil. O Brasil precisa melhorar muito, mas não será com práticas e estéticas intolerantes que virão melhorias, ao contrário, o crescimento da convivência para mais direitos e mais garantias que defendam a vida e a qualidade de vida são fundamentais. No centro da pauta desse momento está a necessária superação de políticas como as tais guerra às drogas; a superação das culturas racistas, machistas e sexistas; e a construção e conquistas de políticas públicas que avancem em superação das desigualdades. Superar principalmente essa 'desigualdade mórbida' que mata e prende mais pretos e pobres. Isso sim seria um bom investimento de energia para brasileiros e brasileiras; mas é um caminho antagônico daquilo que vem sendo conhecido como 'antipetismo'".


Imagens - Pagina oficial da Kelly Bolsonaro