Neste domingo (26) a Rede Globo de Televisão completa exatamente 50 anos no ar. Dona do título de maior emissora brasileira e de toda a América Latina, chegando aos lares de 150 milhões de brasileiros diariamente, ela conseguiu transpassar décadas e sagras-se como líder de audiência e referência em comunicação no mundo. Afinal, está entre as cinco maiores emissoras do planeta. Por isso nada melhor do que percorrer sua história para entender como ela conseguiu chegar a esse nível.
Anos 60
Inaugurada em 26/04/195, pelo falecido Roberto Irineu Marinho, a Rede Globo não foi pioneira na TV no Brasil. Em 1965, por exemplo, a TV Excelsior já estava em operação, ainda que em tempos não muito confortáveis. A TV Tupi, existente desde 1950; a TV Cultura, de 1960; e a TV Record, de 1953, já estavam no mercado. Shows, jornais, humorísticos e novelas, por exemplo, não eram novidades, ainda que a forma pela qual a Globo trabalhasse tais pilares tenha sido um diferencial para levá-la à liderança de audiência.
Roberto Marinho: fundador da Rede Globo
Sua primeira exibição se deu pelo infantil Uni Duni Tê, sendo sucedida nos outros dias pela série infantil Capitão Furacão , e por aquele que viria a ser o embrião do Jornal Nacional, o telejornal Tele Globo. a emissora também estreou sua primeira novela - “Ilusões Perdidas”. O texto foi assinado por Enia Petri. Estavam no elenco nomes que até hoje são contratados do canal, como Reginaldo Faria e Osmar Prado. Leila Diniz, Norma Blum e Emiliano Queiroz eram outros dos atores de destaque. Sediada no Rio de Janeiro, os últimos anos da década de 60 foram marcados pela chegada a São Paulo, por meio da compra da TV Paulista, e Belo Horizonte, além do “Jornal Nacional” - o primeiro informativo exibido em rede nacional. Na época, a veiculação ocorria às 19h45 - 45 minutos antes dos dias atuais. Cid Moreira, até hoje contratado da Globo, e Hilton Gomes foram os primeiros âncoras.
Equipe de apresentadores do Tele Globo, em 1965
Outro fato marcante nos anos 60 da Globo foi a suposta participação da empresa norte-americana Time Life nas ações da emissora, o que é considerado ilegal pela Constituição Brasileira. Na nossa legislação, é vedada a participação de capital estrangeiro na gestão ou na propriedade de empresas de comunicação daqui. Dois meses após a inauguração da Globo, Carlos Lacerda denunciou o canal pelas supostas ligações com o grupo estrangeiro. Na época, Marinho relatou que sempre respeitou a legislação e explicou que a Globo possuía dois tipos de contratos com a Time-Life: um de assistência técnica e uma conta de participação. Em 1967, por fim, ficou esclarecido que não havia sociedade alguma entre a Globo e a Time-Life. A emissora carioca finalmente foi legalizada. Ainda assim, Roberto Marinho decidiu por extinguir o contrato de assistência técnica e ressarciu a Time-Life pelos valores desembolsados. Tal rompimento exigiu de Marinho uma série de empréstimos em bancos nacionais e a penhora de todos os seus bens pessoais.
Reginaldo Faria e Leila Diniz em "Ilusões Perdidas"
Anos 70
A chegada dos anos 70 na emissora carioca representou alguns outros bons avanços em sua transmissão e conteúdo. A primeira delas começa com a exibição, ao vivo e em cores, do Jornal Nacional. Também foi nesse período que a Globo foi exibida simultaneamente para todo o país. Novos jornalísticos, como o “Hoje”, “Fantástico” e “Globo Repórter”, foram criados. Os três seguem no ar até hoje, atravessando gerações e com uma sólida identificação com o telespectador brasileiro. Nessa década, também foi produzido o primeiro especial do Rei Roberto Carlos, em 1974.
Cid Moreira e Sérgio Chapelin no Jornal Nacional
Os anos 70 pode ser considerado o pontapé inicial no chamado Padrão Globo de Qualidade, tão falado e conhecido por todos, onde o horário nobre é preenchido com duas telenovelas de temática leve entre dois telejornais curtos e sintéticos (o atual Praça TV e o Jornal Nacional), uma telenovela de produção nobre e com enredo mais forte, que seria chamada a partir de então de "novela das oito" e a partir das 22h uma linha de séries, minisséries, filmes ou o "Globo Repórter" (antes a linha de shows começava às 21h15, posteriormente às 21h30), sempre com bastante regularidade de horário e programação. A grade fixa é utilizada pela Globo fielmente nos dias de hoje e foi um fator decisivo para a conquista da liderança de audiência, pois, no final da década de 1970, as duas grandes redes, a Rede de Emissoras Independentes (liderada pela TV Record) e a Tupi, estavam se deteriorando por falta de recursos e estratégia, e a Band ainda não havia crescido o suficiente nessa época, sobrando apenas a Globo como uma alternativa de certa qualidade.
Janete Clair: maior autora de novelas das 9
A profissionalização da Globo foi ainda mais marcante nas novelas.A profissionalização da Globo foi ainda mais marcante nas novelas. No fim dos anos 60, por exemplo, Janete Clair (foto/acima) estreou “Sangue e Areia”, com direção de Daniel Filho - que também até hoje é ligado ao canal, ainda que tenha optado por ter sua própria produtora e não seja mais tão atuante como foi nesta época. Janete despontou como uma das principais autoras de novelas do Brasil. Os anos 70 foram responsáveis por revelar ou projetar a carreira de vários outros nomes, como os autores Walther Negrão, Lauro César Muniz, Benedito Ruy Barbosa e Gilberto Braga - hoje autor de “Babilônia” -, diretores como Herval Rossano, Walter Avancini, Dennis Carvalho, Reynaldo Boury, Gonzaga Blota, e atores como Tarcísio Meira, Glória Menezes, Juca de Oliveira, Nívea Maria, Ary Fontoura, Francisco Cuoco, Elizabeth Savalla, Tony Ramos, Lima Duarte e Milton Gonçalves - todos ainda na Globo. Foi nesse período que efervesceram algumas das maiores telenovelas até hoje já exibidas, os chamados clássicos. Abaixo, algumas delas:
Irmãos Coragem (1970)
Escrava Isaura (1976)
O Astro (1977)
Dancin Days (1978)
Anos 80
Os anos 80 foram marcados pela consolidação da Globo como líder de audiência. A maioria de suas concorrentes dos anos 60 haviam desaparecido ou perdido força, como a Excelsior, Tupi e a própria Record. A chegada do SBT e o fortalecimento da Manchete, por outro lado, não permitiram que o canal se acomodasse por completo. Apesar das ameaças, a Globo tinha a seu favor uma rede de filiadas e afiliadas sólida e crescente. Seu time artístico também estava fortalecido. Apesar das baixas, o canal ainda tinha na dramaturgia autores como Aguinaldo Silva, Gilberto Braga, Janete Clair, Dias Gomes e diretores como Walter Avancini, Dennis Carvalho e Roberto Talma. Em paralelo a isso, uma nova safra de nomes na dramaturgia começava a surgir, como o diretor Ricardo Waddington, que com apenas 25 anos começou a dirigir novelas e hoje é um dos mais influentes e importante diretores da dramaturgia.
Roque Santeiro (1985): clássico
Vale Tudo (1988): fenômeno
A Globo também passou a se profissionalizar na cobertura de grandes eventos, como a Copa do Mundo de 1982 e de 1986, e nas Olimpíadas de 80, 84 e 88.
Outro grande momento que a Globo viveu nesse período foi na área de entretenimento. Em especial na sua programação infantil. Diversas atrações surgiram e marcaram toda uma geração. Como os listados abaixo:
Balão Mágico (1983)
Xou da Xuxa (1986)
Anos 90
Nessa década a Rede Globo começou a sofrer uma forte concorrência da extinta Rede Manchete. A rival produziu na época o sucesso "Pantanal", protagonizado por Cristiana Oliveira, de autoria de Benedito Ruy Barbosa, e recheada de outros até então ex-globais. “Pantanal” rapidamente se tornou um sucesso, chegando a alcançar a liderança em diversos momentos. A Globo recorreu a estratégias como o esticamento da novela das oito como forma de atenuar a derrota. A liderança de “Pantanal” teve efeitos ainda mais brutais não só por conta de sua produção ter sido tocada por nomes que eram contratados da Globo anos atrás, mas sim pelo fato de a sinopse ter sido apresentada e rejeitada pelo canal. Benedito e Jayme, na mudança de emissora, levaram a ideia para a Manchete.
Entretanto, mesmo com o fim de Pantanal em 1991, a Rede Globo não teve vida fácil. Pois o SBT começou a transmitir o enlatado "Carrossel", que tirava pontos de “O Dono do Mundo”, novela das oito da Globo e que contava com os melhores integrantes de seu time de dramaturgia. Mas nem tudo estava perdido. Em 1995, veio uma das grandes viradas e conquistas do canal carioca: neste ano foi inaugurado o Projac - o Projeto Jacarepaguá, ou a Central Globo de Produção - CGP. O complexo de estúdios é um dos maiores e mais modernos do mundo e foi erguido na Zona Oeste do Rio de Janeiro. São mais de 1,5 milhão de metros quadrados de área, a qual inclui também mata preservada, e mais de 400 mil metros quadrados de área construída. São dez estúdios operantes, os quais são gravadas as novelas, séries e minisséries, além de um espaço à parte onde o “Mais Você” é produzido. A medida foi determinante, uma vez que os estúdios no Jardim Botânico já não comportavam mais as produções. Também no fim dos anos 90, mais precisamente em 1999, a Globo criou a Globo Internacional, levando seu conteúdo para o mundo.
PROJAC
Anos 2000/2010
Com a chegada do Novo Milênio, veio novas e oportunas contratações no área de entretenimento. A chegada de Ana Maria Braga, Serginho Groismann, Angélica, Jô Soares e Luciano Huck deram um novo rumo na Globo. Eles se uniram a artistas como Xuxa e Faustão, há anos na casa e conhecidos nacionalmente. No entanto, salvo Serginho, que passou a comandar o “Altas Horas” nas madrugadas de sábado, e Jô, no “Programa do Jô” nos fins de noite, o começo dos anos 2000 não foi fácil.
Isso porque Ana Maria demorou para se encontrar e para deslanchar. Ana Maria só veio a se estabilizar quando passou por mais uma mudança e veio a ocupar a faixa das 8h. Ainda assim, a apresentadora foi ameaçada diversas vezes pelo “Fala Brasil”, da Record. Luciano Huck, à frente do “Caldeirão do Huck” desde o começo de 2000, foi outro que demorou para emplacar. Sua estreia ocorreu na mesma época em que Raul Gil estava em seu auge na Record. No entanto, com o passar do tempo, a Globo retomou a liderança aos sábados e Raul, de um primeiro lugar absoluto, passou a se contentar com a vice-liderança até deixar a Record, em 2005. Na dramaturgia, os anos 2000 foram marcados por grandes sucessos, como “Celebridade”, “Senhora do Destino”, “Mulheres Apaixonadas” e “Belíssima”. Correndo por fora da faixa das 21h, outros fenômenos se fizeram, como “Alma Gêmea” na faixa das 18h e “Da Cor do Pecado” às 19h.
Mulheres Apaixonadas (2003)
Celebridade (2004): sucesso
A segunda década dos anos 2000 vem sendo uma das mais desafiadoras da história da Globo. Ainda que continue tendo concorrentes, as quais em diversos momentos desafiam sua liderança, a emissora passa a lidar com um rival desconhecido: as novas mídias. A média de audiência da Rede Globo caiu de 56% em 2004 para 42% em 2013 na Região Metropolitana de São Paulo, principal mercado para os anunciantes. A Globo passou a investir cada vez mais no conceito de segunda tela. A interação com os telespectadores começou a ter uma agilidade jamais antes vista. A programação agora pode ser comentada por todo o país através das redes sociais. Ao mesmo tempo que a grade perdesse sentido, era necessário investir para que o consumidor, ao migrar da TV para a internet, continuasse consumindo da produtos da própria Globo e não de plataformas como o Google.
Mas nada disso impediu que ela continuasse a trilhar sua trajetória de mais altos do que baixos. Outros sucesso surgiram, principalmente, em teledramaturgia. “Cheias de Charme” inovou ao abordar o universo das empregadas domésticas, que antes se limitavam a papéis de figuração, e também permitiu que o telespectador transitasse tanto pela TV quanto pela internet, através da exibição de clipes ou de outras novidades. Já “Avenida Brasil” inverteu a ordem das novelas: o subúrbio passou a ser o principal cenário enquanto a Zona Sul do Rio de Janeiro foi reduzida a um dos núcleos. O resultado foi uma novela de altíssimos índices de audiência e repercussão, com faturamento de mais de US$ 1 bilhão e ostentando o título de trama mais exportada da história da Globo. Sem deixar de falar no Emmy Award de Melhor Telenovela do Mundo para "Caminho das Índias", em 2009, "Lado a Lado", em 2011, e "Jóia Rara", em 2013. Só reafirmando a consolidação da marca pelo mundo.
Caminho das Índias: sucesso no exterior
Cheias de Charme: mania nacional e inovadora
Carminha x Nina: eternizadas em Avenida Brasil
Assim, todo esse apanhado histórico sobre a Rede Globo só comprova, quer você queira ou não, que ainda hoje é a referência em televisão do brasileiro. É por onde, na maioria das vezes, nos informamos, nos entretemos, nos distraímos. Seus 50 anos são simbólicos e mais do que isso: são pilares de todo o processo de construção em comunicação, em cultura e em formação de opinião de nossa sociedade. Firme e forte, ruma para outros 50 anos, quem sabe. Parabéns, Rede Globo!! Afinal, hoje a festa é sua, hoje a festa é nossa....
Fonte: Na Telinha