quinta-feira, 10 de março de 2016

Estudantes do Colégio Estadual Visconde de Cairu farão passeata por melhorias na educação pública

Felipe Migliani
felipemigliani@yahoo.com.br


#TodosPelaEducação apoia a greve dos professores estaduais e reivindica por melhorias na educação pública. 



Estudantes do Colégio Estadual Visconde de Cairu, no Méier, Zona Norte do Rio, farão uma passeata hoje, às 14:30, na Praça Agripino Grieco, localizada na Rua Dias da Cruz, principal via do bairro. O protesto #TodosPelaEducação apoia a greve dos professores estaduais e reivindica por melhorias na educação pública. A passeata vai contar com outras escolas do Grande Méier.

A ideia da manifestação surgiu principalmente do movimento estudantil do C. E. Visconde de Cairu e do C. E. Central do Brasil. Os professores apoiam e divulgam o movimento. Os alunos estão tentando articular com que os estudantes do C. E. Antônio Houaiss, Dom Helder Câmara e Horácio de Macedo participem do protesto. A previsão é de lotar a praça.

Na primeira manifestação os estudantes deram um 'abraço' simbólico na escola com a intenção de sensibilizar a população com o situação da educação pública no Rio de Janeiro. A ideia surgiu entre os alunos com a finalidade de denunciar as condições atuais do colégio e manifestar um sentimento de apoio a todos àqueles que ainda lutam por ela. O protesto deu certo e conseguiu atrair atenção da mídia.


“Atualmente, é praticamente impossível existir um apoio explícito das direções a mobilização estudantil e ao movimento de greve. Os diretores não são eleitos - eles ocupam ‘cargos de confiança’ na estrutura administrativa atualmente existente e podem perdê-los por qualquer manifestação nesse sentido. Uma das reivindicações históricas do movimento estudantil e do nosso sindicato é a eleição para as direções das escolas”, disse Igor Fernandes, professor dos colégios estaduais Visconde de Cairu e Jornalista Tim Lopes.

"Depois do sucesso da mobilização geral de alunos da rede pública de São Paulo, acredito que isso tenha gerado uma série de questionamentos, um desejo nos estudante de escolas públicas do Rio de Janeiro de uma educação pública de qualidade. O impressionante é como nessa greve de professores, inúmeros alunos prestaram apoio e saíram nas ruas juntamente com aqueles que mais sofrem, sem estrutura e com más condições de trabalho", disse Alex Moreira, ex-estudante do C. E. Antônio Houaiss.

Desdobramento da greve dos professores da rede estadual


Os professores entraram em greve no dia 02/03 e vão ficar por tempo indeterminado para reivindicar por aumento de salário de cerca de 30% e melhores condições de trabalho. Durante o todo ano de 2015 a categoria tentou negociar com o governo, mas não foi atendida. Amanhã haverá uma nova reunião para discutir a questão.


“Esperamos que o governador atenda as nossas reivindicações e deixando claro que esse é um movimento, também em conjunto com os servidores”, disse Orlando Silva, diretor do Sindicato dos professores.

"Tem as questões que dizem respeito ao trabalho dos profissionais, que tem sido pauta de nossas lutas sindicais: o respeito à lei de 1/3 da carga-horário (lei descumprida pelo governo estadual há muito tempo); disciplinas com apenas único tempo de aula por semana (como sociologia e filosofia, insuficiente para um bom desenvolvimento pedagógico do estudante), e ataque à autonomia dos profissionais", afirma o professor Igor Fernandes.

Os salários dos profissionais das escolas estão sendo parcelados e em constante atraso. Segundo os professores, não foi efetuado todo pagamento do décimo terceiro de 2015 e, os salários de fevereiro não foram pagos. O governo do estado transferiu a data de pagamento para o décimo dia útil do mês seguinte corrente. Há dois anos os professores e funcionários não recebem reajuste salarial.

Em nota, o estado afirmou que a adesão da greve dos professores foi de apenas 3%. Segundo o estado, os salários dos servidores estão sendo pagos em dia. O 13° salário também está sendo pago, inclusive com correção de 1,93% ao mês, índice acima da inflação.

Situação crítica do Colégio Estadual Visconde de Cairu


O Visconde de Cairu tem muitos problemas como à grande maioria das escolas estaduais do Rio, mas num nível maior por ser uma escola grande. O Cairu tem apenas dois inspetores (só para o turno da manhã) para inspecionar dois mil alunos. O número é insuficiente para uma escola localizada num terreno muito grande com um prédio de cinco andares.

O colégio não possui funcionários na secretaria. A escola conta com uma professora readaptada apenas nessa função em somente dois dias da semana. A direção da escola acumula todo o trabalho de atendimento e burocrático.

Assim como todas as escolas estaduais, o colégio está funcionando sem porteiros desde meados de fevereiro. O governo cancelou o contrato com a empresa que prestava serviço de portaria e todos os funcionários foram demitidos. Atualmente, as escolas estão funcionando sem equipe de portaria. As direções estão pedindo para funcionários de outros setores ficarem na portaria nos horários de entrada e saída. Durante a maior parte do tempo as portarias ficam abandonadas.


 “Estudei por pouco tempo no Visconde de Cairu. Era nítido que a escola precisa de melhorias. Não está em boas condições, algumas salas tem ar condicionado e outras não; as carteiras quebradas, paredes sem tinta etc.”, disse a universitária Yasmin Fernandes.


Os espaços pedagógicos da escola (auditório, quadras, salas de aula e sala de vídeo) estão sucateados. As máquinas de ar-condicionado não sofrem manutenção há dois anos, pois a empresa que aluga os aparelhos para as escolas deixou de receber os repasses do governo estadual - e praticamente não funcionam. Os materiais de mídia e projeção estão com diversos problemas.

Outro problema crítico é a superlotação das turmas. Desde o início do ano letivo a escola está funcionando com a maioria das turmas cheias. Algumas chegam a ter quase 50 alunos.

Descaso do estado com a educação pública 


Em novembro do ano passado, o governador Luiz Fernando Pezão incluiu a Itaipava no programa Rioinvest, que prevê incentivos aos projetos de grande porte com recursos do Fundo de Desenvolvimento Econômico e Social (Fundes). Com a medida, a cervejaria ganhou incentivos fiscais de R$ 687,8 milhões do governo estadual, na forma de créditos de ICMS ao longo de dez anos. Já em Dezembro, o governo do estado assumiu uma dívida de R$ 38,9 milhões da SuperVia com a Light. A decisão foi aprovada ontem na Assembléia Legislativa do Rio (Alerj).



Imagem 1: Reprodução/ Primeira Manifestação dos alunos do C. E. Visconde de CairuImagem 2: Reprodução/ 'Abraço' coletivo dos alunos no Colégio Visconde de Cairu
Imagem 3: Reprodução/ Manifestação dos professores estaduais na escadaria da Alerj
Imagem 4: Reprodução/ Estudantes do Visconde de Cairu fazendo cartazes para a passeata
Imagem 5: Reprodução/Primeira Manifestação dos estudantes do Visconde de Cairu
Imagem 6: André Corrêa, deputado estadual; Luiz Fernando Pezão; Vinicius Lages; com os prefeitos de Nova Friburgo, Petrópolis e Teresópolis em evento no Palácio Guanabara, Zona Sul do Rio.