sexta-feira, 29 de abril de 2016

Negro e afeminado, Liniker é a nova voz da MPB


29/04/16
Coluna: Ultima Nota
Autor(a): Jean Pierry Leonardo


Com apenas 20 anos, Liniker, o jovem cantor e compositor de Araraquara, no interior de São Paulo, vem alçando vôos cada vez maiores desde o lançamento de “Cru”, seu primeiro EP, em outubro passado.

Com uma voz rouca e potente, Liniker – nome de um famoso jogador britânico que brilhou em uma Copa do Mundo, anos antes do artista nascer – impressiona pela personalidade e pela naturalidade ao cantar. De família de músicos, ela bebe da fonte mais pura da Black Music e da Soul Music, assumindo com muito orgulho suas raízes afro. É difícil não contagiar-se pela sonoridade acústica, teatral e límpida das três músicas que compõem o EP: “Zero”, ‘’Caeu” e ‘’Louise du Brésil”. Aliás, orgulho é a palavra-chave de si. Quem já o conhece da internet, já está acostumado com o swing e beleza que é assisti-lo, mas para os  mais desavisados, não estranhe nada daquilo que assistir.


“Sou negro, pobre e gay e tenho potência também”, são suas sinceras palavras. E é muito bonito ver como Liniker quebra e rompe barreiras do politicamente correto, fazendo de seu corpo tão teatralizado (ele é ator de uma companhia de Santo André, em SP) um instrumento de luta. Brincos, batom, saias, turbantes, colares e muita feminilidade fazem parte de seu dia a dia, desde o despertar de sua sexualidade. Essas características dão ainda um toque todo especial em seu lado artístico, pois quem à primeira vista olha e o julga apenas pelo que veste, “morde a língua” quando o ouve cantar. Outro ponto alto de seu trabalho diz respeito a sua banda “Liniker e os Caramelos”, formado por ótimos músicos, também jovens, e com um trio de backing vocals maravilhosas. “Um dos meus maiores desejos como artista é: bote para fora quem você é, não tem problema”, diz ele.

Sem dúvidas, Liniker já afirma-se como um dos mais primorosos e promissores nomes da Música Popular Brasileira (MPB), com uma unicidade que, talvez, desde Ney Matogrosso não víamos. Num momento tão opressor e complicado social e politicamente falando, o jovem surge como uma voz de esperança e simbolismo para milhares de outros jovens negros, gays e periféricos, que agora podem vislumbrar chegar onde ele está chegando, sem medo ou culpa daquilo que é. Num gênero musical que por muito tempo padeceu de novos artistas, numa natural evolução musical – infelizmente nosso(a) Caetano, Chico, Gal, Bethânia e etc não são eternos – Liniker é um sopro de novidade e resistência também, somando-se a outros tão bons e performáticos cantores como ele, casos de Felipe Catto e Jhoony Hooker, por exemplo.



Portanto, assim como Liniker, dispa-se de seus preconceitos ou resistências, e descubra novas possibilidades musicais. Sua intenção não é desmoralizar a “tradicional família brasileira” com seu jeito de ser, afinal ‘’o corpo é meu. Eu que tenho liberdade sobre ele. Se tenho minha inteireza, por que você quer colocar seu bedelho em mim? Quem é você para ditar regras que eu tenho que seguir? Cada um é cada um, cada corpo é uma história’’.

Imagens: 
1 - Lilo Clareto 
2 - Leila Penteado/Divulgação 


quinta-feira, 28 de abril de 2016

Manifesto Futebol Clube apresenta Andrey


28/04/16
Coluna: Manifesto Futebol Clube
Autor(a): Fabio Rodrigues


Dentro do mundo da bola existem atletas que acabam criando uma relação, um elo com o clube desde bem jovem. Este é o caso do Andrey Ramos do Nascimento – nascido em 15 de fevereiro de 1998 –, criado no bairro de Olaria, aos 5 anos já demonstrava seu talento no Vasco da Gama. Passou por todas as categorias de base do cruzmaltino tanto no futsal – por onde jogou pelo Social, e no campo. Em 2015, com idade de juvenil subiu para os juniores. Nesse ano, foi promovido ao time principal pelo técnico Jorginho.

Confira o bate-papo exclusivo que o MFC teve com o jogador:

MFC. Como foi a experiência de estudar no Colégio Vasco da Gama?

Foi muito importante para mim até pelas viagens que eu tinha pelo clube. Às vezes é difícil você estudar num colégio normal, e lá as professoras sempre nos ajudavam, passando uma matéria diferente. Era meio complicado estudar tendo muitas viagens com clube, então estudar no Vasco foi uma experiência incrível, aprendi muito, graças a Deus. 

MFC. Como está sua ansiedade para fazer sua estreia pelo profissional?

Estou ansioso, não vou falar que não porque estou. Mas, sei que no momento certo, na hora certa irei receber minha oportunidade. Trabalho muito para isso, pra quando receber, aproveitar a chance que o “professor” vai me dar.

MFC. Provavelmente você admira alguém dentro do elenco. Como é esse contato?

Admiro muito o Andrezinho, pela humildade, simplicidade e pelo futebol que ele vem jogando no Vasco. Sendo assim, aqui dentro sempre falo com ele, aprendo. Com o Marcelo Mattos e o Nenê também, sempre escuto as histórias deles pra pegar experiência, e melhorar sempre. Eles são muito experientes, e eu aprendo muito com eles. O contato com eles é excelente, são gente boa, tratam todos da mesma forma.

MFC. Em quem você se inspira?

Hoje em dia, eu me inspiro no Messi. Ele é um jogador espetacular, faz tempo que ele joga um grande futebol. Para mim, ele é o melhor do mundo, e me inspiro sempre no melhor.

MFC.Qual foi o momento mais marcante de sua carreira?

Foi quando eu fui campeão sul-americano sub-17 com a seleção brasileira. Ali foi muito gratificante, era um sonho meu desde pequeno jogar pelo Brasil, e ganhar um título tão importante. Ser campeão da Taça Guanabara, meu primeiro título pelo profissional. Esses dois foram os momentos mais marcantes da minha carreira.

MFC. Quais foram suas dificuldades no futebol?

Já passei por muitas dificuldades no futebol. Por exemplo, não ter dinheiro para ir pro treino ou então as contusões que todos jogadores têm. Isso foi muito complicado para mim, as maiores dificuldades que passei. Às vezes sem ter dinheiro ou o que comer, ou dinheiro da passagem por alguma para comer.

MFC.Quais são seus planos dentro e fora do futebol?

Dentro de campo é fazer história no Vasco. Construir uma história aqui, fazer um nome no Vasco por tudo o que o clube fez por mim, ganhar títulos como a Libertadores. Mais pra frente, ter uma carreira internacional e jogar por clubes de fora. Fora de campo, dar um futuro melhor para minha família e para todos que me ajudaram. Ter uma vida estável e dar uma estabilidade para minha família.

MFC. Quais foram suas principais conquistas coletivamente e individualmente?

Minhas principais conquistas foram os títulos que ganhei com a seleção brasileira. Com o Vasco, todos os campeonatos cariocas sub-15, sub-17, agora a Taça Guanabara como profissional. Uma individual foi ter disputado a Copa do Mundo sub-17 pelo Brasil.

MFC. Como foi a experiência no Mundial sub-17 com a seleção brasileira?

Foi incrível, um momento marcante na minha vida. Uma Copa do Mundo com 17 anos apenas foi uma experiência espetacular. Cresci muito, aprendi muito lá. Mesmo não saindo com o título, saí de lá muito melhor como pessoa, como atleta também, fiquei mais experiente. Foi gratificante vestir a camisa da seleção no Mundial, muito importante pra mim, pra minha vida e pra minha carreira.



MFC. Você tem o desejo de se tornar ídolo do Vasco?

Sim, é um sonho. Quero muito fazer história dentro do Vasco, quero ganhar títulos importantes para poder me tornar ídolo. É o clube que está me projetando, que me deu a oportunidade, o clube no qual eu fui criado. Estou há muito tempo no Vasco, então é um clube que quero fazer história.

MFC. O futebol já melhorou sua vida?

Sim, o futebol já melhorou minha vida em muita coisa. Posso melhorar mil vezes mais, mas já melhorou bastante minha vida, financeiramente e em um todo.

MFC. Um recado para torcida vascaína.

Fala, nação vascaína! Espero ganhar muitos títulos com vocês, espero crescer muito aqui no Vasco e me tornar ídolo. Um grande abraço, saudações vascaínas!

*A entrevista foi concedida antes da partida contra o Remo

Andrey vinha convivendo com a ansiedade pela estreia no profissional. Ontem, na Copa do Brasil contra o Remo, o jogador de apenas 18 anos fez sua primeira participação no time principal. Entrou aos 29 minutos da etapa complementar no lugar de Evander. “Foi uma emoção incrível, uma coisa em que eu trabalhei muito para acontecer, estrear dentro de São Januário, da colina histórica e em um clube que eu amo. Foi incrível, não tem palavras que possam descrever", concluiu o jogador.

Imagem: Globoesporte.com/ Vasco.com.br


quarta-feira, 27 de abril de 2016

Por Fora Belo Impeachment, Por Dentro Golpe Bolorento

26/04/16    -    Coluna: Zé do Caroço    Autor(a): Guilherme Cunha


Carta Aberta ao Senado Brasileiro.




Caros senadores da república,

Sei que neste momento cabe a vocês decidir o futuro do processo de impeachment contra a Presidente da República. Contudo, antes de escolherem o que fazer com esta responsabilidade que repousa em seus ombros, gostaria se observar alguns pontos relevantes.

Sabemos que vocês sofrem pressão popular dos dois lados. Tanto contra, como a favor do impeachment. Agora, reflitam. Quem é a favor do impeachment não dá a mínima para vocês no dia seguinte. Sob o falso pretexto da isenção, esse grupo de pessoas tem sido massa de manobra despolitizada moldada ao bel prazer pelas mãos de grandes empresários. Não é por acaso o envolvimento tão presente da Fiesp nas manifestações contra o governo.

O povo contra o impeachment, por outro lado, é politizado e sabe reconhecer quem remou contra a maré ao invés de se deixar levar pelo efeito manada. Nos aeroportos, locais públicos e redes sociais, quem votou contra recebeu o calor e carinho desse povo. Quem votou a favor foi motivo de chacota das próprias pessoas que pediram que votassem a favor. Pois estes vão abandonar vocês, cedo ou tarde. Eles não tem lado. Só estão contra o PT e. uma vez que o PT saia do caminho, vão para cima de quem estiver na frente, igual a um touro numa arena.


Se o governo Dilma continuar vocês terão contra si aqueles que odeiam o governo atual, mas ao seu lado estarão aqueles que sabem que os distintos senadores impediram uma ruptura democrática. Mas imaginem um suposto governo Temer. Neste vocês sofrerão dupla pressão. Dos eleitores de Dilma, que se sentirão traídos, e dos que a odiavam quando era a mandante e transferirão este ódio para quem ficar com o poder.

Lembrem-se que Michel Temer nunca conseguiu unir seu partido, o PMDB, e nem mesmo sua família - pois sua própria filha acha o impeachment algo negativo. Ele não vai conseguir unir o país. Não se esqueçam que sua popularidade é menor que a de Dilma. E o pior está por vir. Muitas pessoas foram alimentadas com ilusões sobre a saída do PT do governo. Muitas dessas pessoas são pobres e tiveram uma aumento no poder de consumo justamente a partir do primeiro governo Lula.

Sabem o que vai acontecer quando essas mesmas pessoas perceberem que, num governo Temer, a situação vai piorar para elas ao invés de melhorar? Se engana quem pensa que eles farão um exame de consciência e tentarão aprimorar seus conhecimentos políticos. A maioria dificilmente o fará. A reação será rápida, instintiva e brutal. Vão jogar toda a culpa em vocês, por tirarem a Dilma e não neles mesmos. Por quê? Porque é isso que seres humanos fazem quando se sentem acuados ou enganados.


Se sentirão traídos e empurrarão toda a responsabilidade para cima de quem se aproveitou da boa vontade cívica deles, seja isso verdade ou não. E nem adianta virem com o discurso atual de que seguiram a "voz das ruas", porque essa virá com muita mais força após a queda de Dilma, somando-se os apoiadores do governo do PT com os seus detratores arrependidos. E, creiam-me, esses serão muito mais numerosos e surgirão bem mais rápido do que vocês possam imaginar.

Além disso, pensando a longo prazo, vocês vão querer que a História registre suas biografias ao lado de quem? De Lula e Dilma, presidentes eleitos democraticamente, famosos no mundo todo por combaterem a fome e a miséria ou de Michel Temer, o vice que traiu a presidente e seus eleitores, e Eduardo Cunha, o verdadeiro cabeça do processo de impeachment, que reconhecidamente aceitou e votou o pedido de impeachment para se proteger de provas incontestáveis de corrupção? Eduardo Cunha, cuja corrupção transcende a dicotomia de poder entre PT e PSDB, e remonta à era Collor? É ao lado deste homem que seus nomes ficarão gravados para sempre.

Não adianta o quanto argumentarem no futuro dizendo que o processo foi legal. Minha mãe costuma dizer um velho ditado que ouvia do pai dela para se referir a qualquer coisa cuja aparência incólume ocultava um conteúdo podre:

"Por fora bela viola, por dentro pão bolorento."



Ainda que o Presidente da Câmara e seus aliados tenham dado ao impeachment uma aparência de legalidade, ele começou contaminado por um desejo de vingança pessoal egoísta e evoluiu aos olhos do país e do mundo para uma enorme fraude antidemocrática, onde os únicos objetivos são proteger corruptos e dar novamente o controle do Poder Executivo a um restrito grupo de plutocratas, cujos candidatos nunca venceriam uma eleição com voto popular.

Não é difícil entender essa manobra. Durante a partida entre Vasco e Flamengo, no domingo, 24 de abril, o público presenciou uma cena inusitada. O zagueiro Luan do Vasco estava com a bola a seus pés. Com uma embaixadinha, ergueu-a no ar e recuou para o goleiro Martín Silva com uma cabeçada, ainda que alertado pelo seu companheiro de zaga Rodrigo para que o fizesse. O juiz marcou falta e tiro livre indireto.

A confusão foi estabelecida porque a regra diz que um goleiro não pode pegar com a mão a bola recuada por um jogador do seu time se ele fizer o recuo com os pés. Mas Luan usou a cabeça. Então, por que o árbitro considerou o lance uma infração? O comentarista de arbitragem explicou a punição:

 "Ele burlou o espírito da regra".




 De fato, o zagueiro do Vasco empregou um artifício, a embaixadinha, para levar a bola dos pés até a cabeça. Ele não cabeçeou diretamente como de hábito. Portanto, mesmo que tenha feito como manda o figurino, estava errado pela interpretação do juiz, pois o fez de má fé. E não é exatamente isso o que o "malvado favorito" de muitos falsos moralistas tem feito? Eduardo Cunha empregou má fé durante todo o processo de impeachment, o que por si só tira todo o seu valor como uma ação que teoricamente deveria ser uma restauração da justiça e não uma corrupção da mesma.

A lei sobre o impeachment não foi feita somente para servir de enfeite. Ela serve aos interesses da população, através da justiça empregada pelo Poder Legislativo. Fazer uso dessa lei como uma defesa de interesses particulares, alguns sob suspeita de estarem fora da lei, é, por si só, um crime contra todo o Brasil.

O Presidente da Câmara dos Deputados burlou o espírito da regra para atingir a Presidenta da República. Se o Senado não retificar o erro gravíssimo da Câmara estará tornando-se historicamente cúmplice de uma fraude cuja principal vítima é, não Dilma, mas o povo brasileiro.



Imagens:

Viomundo
G1
Marcio Baraldi
Los Angeles Times
O Globo

Questão de semântica

27/04/16
Coluna: Cronicando
Autor(a): Bruna Rafaela


Ligar a Internet nos dias de hoje representa muito mais do que uma simples vontade de conversar com amigos no whatsapp, redigir e-mails, ou tantas outras funções infindáveis que nossa vasta tecnologia permite.


Com a atual situação que nossa política vive, os meios digitais são usados como meio de imposição de ideias, discursos de ódio, e acima de tudo, uma transcendente repetição de fatos. E minha nossa! Sãos tantos fatos, que acabam por preferenciar nossos raciocínios a um único assunto. Quebra de decoro por cusparada em Parlamentar? Pedaladas fiscais? Dilma? Cunha? Temer? Doi-Codi? Jean Wyllys? Bolsonaro, a lista é tremenda. Mas afinal de contas, todas as atitudes discutidas até então precisam de uma atenção exacerbada? Questão de semântica. Acredito eu. Quando o Eduardo Cunha alegou que não tinha mentido sobre suas contas na Suíça porque o que tem na Suíça não são contas, mas trustes que pode acessar como se fossem contas, ninguém discutiu ou perguntou se era certo um cínico declarado presidir a Câmara nacional ou comandar um movimento pelo impeachment da presidente da República.

E as tais pedaladas fiscais do Governo de Dilma? É na discussão das pedaladas que a semântica entra com mais força, embora, a esta altura, não decida mais nada. O “crime” do qual a Dilma está sendo acusada é crime ou não é crime, eis a questão, lembrando que, desde o governo de FHC as mesmas já existiam. E pensar em Jean Wyllys, é ver que ele é um dos deputados mais ativos nas redes sociais! Uma rápida passada de olho em sua página do twitter, pode-se perceber que ele está utilizando muito bem o seu tempo como parlamentar, twittando desde vídeos de YouTube a bate-bocas entusiasmados com outros internautas. E vale ressaltar que boa parte destas interações são realizadas, em horário onde o deputado, teoricamente, estaria trabalhando no congresso. Mais uma vez, não existem discussões sobre isto também. Mas de tudo isto, o mais interessante foi ver dezenas de pessoas se tornando fortes conhecedoras de nossa história política, assim de uma hora pra outra. Não estou dizendo que não devemos debater sobre, e sim, que devemos ser mais atentos a outros casos que também merecem atenção, e acima de tudo, maleáveis com a opinião alheia. Está se tornando normal amigos se excluindo de redes sociais devido a opiniões divergentes, e o pior, pessoas que apoiam a bendita democracia. Oras! Onde está a "respeitocracia" nisto? Mais uma vez, questão de semântica...
Imagem:
dinamicacompetitiva.com


terça-feira, 26 de abril de 2016

NÃO HOMENAGEIAM TORTURADORES, LEIAM ANNE FRANK

Alex Gilson

No dia 17 de abril de 2016, o congresso nacional deu voz aos deputados federais para decidir o afastamento da presidente do Brasil, Dilma Rousself. Entre os vários dizeres, uns saudando os bons maridos, filhos e até prefeito com gestão duvidosa. Eis que surge a voz do Deputado Federal, Jair Bonsonaro, eleito pelo Rio de Janeiro. Ele votou ‘sim’ ao afastamento da presidente, parabenizou o presidente da casa, Eduardo Cunha e finalizou dedicando seu voto ao Coronel Brilhante Ustra.

Carlos Alberto Brilhante Ustra foi coronel do exercito brasileiro ex-chefe do DOI-CODI do II Exército (de 1970 a 1974), um dos órgãos atuantes na repressão política, durante o período do regime militar no Brasil (1964-1985). Também era conhecido pelo codinome de Dr. Tibiriça.

Em 2008, Ustra tornou-se o primeiro militar a ser reconhecido, pela Justiça, como torturador durante a ditadura. Embora reformado, continuou politicamente ativo nos clubes militares, na defesa da ditadura militar e nas críticas anticomunistas.

Morreu aos 83 anos, em 15 outubro de 2015, em razão de uma pneumonia, vítima de falência múltipla de órgãos após algumas semanas de internação hospitalar. Sua morte foi lamentada por setores da sociedade como um símbolo da impunidade aos responsáveis pelos assassinatos e torturas cometidos pela ditadura militar no Brasil.

Anne Frank nasceu em 12 de junho de 1929, na cidade alemã de Frankfurt am Main, lugar onde a família do seu pai já vivia por várias gerações. A irmã de Anne, Margot, é três anos e meio mais velha que ela. A crise económica, a ascensão de Hitler ao poder e o crescimento do antissemitismo põem fim à vida tranquila da família. Otto Frank e a sua mulher Edith decidem, como vários outros judeus, deixar a Alemanha.

Eles conseguem estabelecer um negócio em Amsterdão (Holanda) e a família encontra uma casa em Merwedeplein. As filhas vão para a escola, Otto trabalha muito no seu negócio e Edith cuida da casa. À medida que a ameaça de guerra cresce na Europa, sua família tenta emigrar para a Inglaterra e Estados Unidos porém, estas tentativas falham. Em 1 de setembro de 1939, a Alemanha invade a Polônia. Começa a Segunda Guerra Mundial.


Dez de maio de 1940, as tropas alemãs invadem a Holanda. Cinco dias depois a Holanda rende-se. Com o país ocupado, rapidamente são aplicadas leis contra os judeus. Tais leis impõem, cada vez mais, restrições que afetam tanto a vida pessoal de Otto e sua família, como o seu negócio. Ele tenta emigrar para os EUA, mas não consegue. Fica cada vez mais claro que a família terá que se esconder. É preparado então o esconderijo, no prédio onde fica a empresa de Otto.
 
Em 5 de julho de 1942, Margot Frank (irmã mais velha que Anne), recebe uma convocação para se apresentar para o campo de trabalho forçado na Alemanha. Logo no dia seguinte, a família Frank vai para o esconderijo. A família Van Pels vai para lá uma semana depois e em novembro de 1942 chega uma oitava pessoa ao esconderijo, o dentista Fritz Pfeffer. Eles moram no Anexo Secreto durante dois anos.

Os escondidos têm que se manter em silêncio, frequentemente sentem medo. Eles são ajudados pelos funcionários do escritório - Johannes Kleiman, Victor Kugler, Miep Gies e Bep Voskuijl - além do marido de Miep Gies, Jan Gies, e do gerente do armazém Johannes Voskuijl, o pai de Bep. Esses ajudantes tratam não somente de trazer alimentos, roupas e livros; eles também significam o contato com o mundo exterior para as pessoas no esconderijo.

Pouco antes de ir para o esconderijo, Anne recebe um diário de presente de aniversário. Ela começa a escrever imediatamente e, durante o seu tempo no esconderijo, escreve sobre os acontecimentos no Anexo Secreto bem como sobre si mesma. O seu diário é um grande apoio para ela. Anne também escreve contos e coleciona as suas frases favoritas de outros escritores no seu Livro de Belas Frases.

Quando o Ministro da Educação, através da rádio inglesa, faz um pedido  para as pessoas guardarem os diários de guerra, Anne decide editar o seu e criar um romance chamado "O Anexo Secreto". Ela começa a reescrever o seu diário, mas antes que consiga terminar, ela e as outras pessoas do esconderijo são presas.

No dia 4 de agosto de 1944 os escondidos são presos juntamente com os ajudantes Johannes Kleiman e Victor Kugler. Através da sede do Serviço de Segurança alemão (Sichterheidsdienst), das prisões e do campo de transição de Westerbork, eles são deportados para Auschwitz. Os dois ajudantes são enviados para o campo de Amersfoort. Johannes Kleiman é libertado pouco depois da detenção e, seis meses mais tarde, Victor Kugler consegue escapar. Imediatamente após a prisão, Miep Gies e Bep Voskuijl resgatam o diário de Anne e papéis que foram deixados para trás no Anexo Secreto. Apesar de intensas investigações, nunca ficou claro como o esconderijo foi descoberto.

Otto Frank é o único das oito pessoas do esconderijo que sobrevive à guerra. Durante a sua longa viagem de volta à Holanda, ele fica sabendo que sua mulher, Edith, morreu. Ele ainda não sabe o que aconteceu com suas filhas e mantém a esperança de reencontrá-las vivas. O seu retorno a Amsterdão ocorre no início de junho. Ele vai diretamente encontrar-se com Miep e Jan Gies e permanece com eles por mais sete anos.

Em julho, na tentativa da encontrar as suas filhas, Otto recebe a notícia de que ambas morreram de doença e fome em Bergen-Belsen. Miep Gies entrega-lhe então o diário e os papéis de Anne. Otto lê o diário e descobre uma Anne completamente diferente. Seus textos o emocionam profundamente.

Anne escreveu no seu diário que queria tornar-se escritora ou jornalista e que gostaria de ver o seu diário publicado como um romance. Amigos de Otto Frank o convenceram da grande expressividade do diário e, em 25 de Junho de 1947, "O Diário de Anne Frank" é publicado numa edição de 3.000 exemplares. Seguem-se a esta, muitas outras edições, traduções, uma peça de teatro e um filme.

Pessoas de todos os lugares do mundo passam a conhecer a história de Anne Frank. Ao longo dos anos, Otto Frank responde a milhares de cartas de pessoas que leram o diário da sua filha. Em 1960, a Casa da Anne Frank torna-se um museu. Otto Frank permanece envolvido com a Casa Anne Frank e com campanhas pelo respeito dos Direitos Humanos até à sua morte, em 1980.

Concluindo, ideais totalitários deixam feridas impossíveis de curar. Anne é a prova viva de como a ditadura tortura de várias formas. É triste ouvir pessoas homenageando torturadores, sem lembrar de pessoas como Anne que sofreram em campos de concentração, pau de arará e tantos outros meios massivos contra a liberdade. Finalizo, pedindo para que leiam o diário de Anne Frank e esqueçam os ideias de pessoas que não deveriam nem ser lembradas.

Imagem:
Museu Anne Frank



segunda-feira, 25 de abril de 2016

O adeus de uma lenda viva

 22/04/16
Coluna: Esporte Manifesto
Autor: Leandro Soares



No dia 14/04/2016 encerrou-se o ciclo de uma lenda do esporte moderno. A despedia de Kobe Bryant encerrou de forma brilhante o capítulo de sua história na NBA, com uma apresentação de gala jogando em Los Angeles.

Aos gritos de “Kobe, Kobe...” e ao som de Simply The Best - sucesso de Tina Turner, o camisa 24 deixou o ginásio sobre entusiasmados aplausos da plateia, após uma vitória empolgante e de virada do seu time Lakers realizou em cima do visitante Utah Jazz, sobre o placar de 101 a 96.

Kobe Bryant se tornou uma lenda viva no esporte que vai eternizar a camisa 24, algo feito como outra grande estrela Michael Jordan que aposentou a camisa 23. Um feito para poucos na história do basquete americano. Porém, quando acontece é reconhecido e valorizado pelo seu apaixonado público e críticos do esporte.

Personagem que inspirou gerações e arrastando uma legião de fãs, tiveram a oportunidade de seguir toda a sua brilhante trajetória nas quadras até o seu fim. Que nasceu grande e encerrou a carreira como gigante nas quadras.

Mas, mesmo com seu imenso talento, não é capaz de derrotar o tempo. Esse deve ser o pior momento na carreira de um atleta, admitir que é hora de parar. Aos 37 anos Kobe reconheceu esse momento de encerrar o seu espetáculo, deixando na memória dos fãs de basquete a sua rica e vitoriosa trajetória esportiva.
Parabéns Kobe!!!  Você é merecedor por estar na galeria dos grandes atletas do esporte.
Você é simplesmente o melhor!!!

Imagens:
Getty Imagens


quinta-feira, 21 de abril de 2016

Manifesto Futebol Clube apresenta Vander Luiz


21/04/16
Coluna: Manifesto Futebol Clube
Autor(a): Fabio Rodrigues

A vida de goleiro no futebol não é fácil. Apenas um pode ser titular, embora uma equipe tenha mais de um arqueiro de qualidade, só um terá o prazer e a responsabilidade de entrar em campo. Além disso, quase sempre são apontados como o culpado de uma derrota ou fracasso. Vander Luiz Nogueira Fernandes – nascido em Mesquita no Rio de Janeiro –, já sabia disso desde pequeno nas categorias de base do Botafogo por onde jogou aos seus onze anos. Superando desafios e dificuldades se profissionalizou pelo Nova Iguaçu-RJ em 2006. Hoje, aos vinte e oito anos de idade, e com catorze anos no ramo de futebol é jogador do Americano-RJ. O Manifesto Futebol Clube recebe Vander Luiz para um bate-papo exclusivo.

MFC: Qual sua trajetória no futebol?
Eu comecei a jogar futebol com onze para doze anos no Botafogo. Aí fiquei um período bem rápido, depois me transferi para o Bangu-RJ onde eu fui federado, ali joguei no infantil e no juvenil. Durante esse período tive uma passagem pelo Cruzeiro e pelo Vitória por empréstimo, posteriormente voltei ao Bangu-RJ para o último ano de juvenil.  Fui para os juniores do Nova Iguaçu-RJ onde permaneci por sete anos, três na categoria júnior e quatro anos de profissional. Em 2010, tive uma rápida passagem pela Jamaica. Voltei ao Brasil para atuar por dois anos pelo Angra-RJ na Série B do Carioca, depois tive uma passagem pela Estácio de Sá-RJ, São Cristóvão-RJ, Boavista-RJ, retornei ao Angra-RJ.  No primeiro semestre do ano passado joguei pelo Americano-RJ, no segundo fui disputar a Copa Rio pelo Boavista-RJ e após o torneio fiz o retorno para meu atual clube que é o Americano-RJ.

MFC: Qual foi sua maior dificuldade para se tornar profissional?
As lutas, as adversidades que há no mundo da bola. Mas em momento algum deixei isso me abater ou me atingir porque sou um cara que quando determino algo vou até o final... Contra tudo e contra todos.  Sou grato aos meus pais e minha família, pois foi um ponto fundamental, não só para mim, creio que muitos que estão no futebol quando tem um incentivo, um apoio é de suma importância. Portanto, sou grato a eles por terem me dado esse alicerce. Na realidade, se não fossem eles, eu teria largado a bola há muito tempo.

MFC: Você é um cara vivido no mundo do futebol, o famoso “peixe” faz diferença na carreira de um jogador?
No mundo da bola isso conta muito. O famoso empresário, pessoas que têm influência podem te colocar em lugares em que você nem imagina. Mas é aquilo, se o jogador não tiver qualidade de nada adianta. Digo por experiência própria, já vi situações em que o atleta não tinha condições de estar naquele elenco e você via que era por causa de dinheiro por fora. No entanto, chega um momento em que isso não tem mais seguimento, pois quem está de fora acaba vendo que aquela pessoa tá tirando o lugar de quem tem mais qualidade, e que não está jogando pela situação de bastidores.

MFC: Por que você não conseguiu se firmar no Cruzeiro?
Foi um período em que fui emprestado, na época pelo Bangu-RJ. Passei três semanas até que tive uma contusão no punho, ao qual destronquei e não tive como dar um seguimento. Acabei retornando para o Bangu-RJ.

MFC: Como foi sua experiência na Jamaica?
Foi muito rápida. Uma situação ao qual eu fui através de um ex-treinador que me indicou. Eram eu e mais dois brasileiros. Tudo foi combinado aqui no Brasil em relação a salário, moradia, porém chegando lá as coisas mudaram, o acordo que eu tinha foi mudado. Isso me chateou bastante, então optei voltar. Na verdade era o seguinte, eles acabaram abaixando e o que eu iria ganhar era para me sustentar na Jamaica, não achei vantajoso e quis voltar até porque havia clubes no Rio interessados em mim.

MFC: Qual sua inspiração na posição de goleiro?
Hoje em dia, a gente tem visto a evolução da posição. Temos visto grandes goleiros se destacando e se for falar em inspiração vou demorar bastante. Mas existem alguns diferenciados, como o próprio Neuer, Ter Stegen do Barcelona, além de outros fora de série. Então, tento pegar um pouco de cada um e estar aprendendo, pois nunca sabemos tudo. Tenho essa humilde de estar sempre vendo o companheiro de profissão jogar para aprender com quem sabe.

MFC: Qual sua inspiração na vida?
Minha inspiração na vida em relação ao futebol é como eu falei é um sonho que tenho desde criança de ser tornar um jogador. Graças a Deus, consegui me tornar um profissional.

MFC: O futebol melhorou sua vida?
Bastante coisa. Em relação a caráter, me ensinou a ser um homem honesto e correto. Não sou rico e nem milionário, pelo contrário, estou correndo atrás para que eu venha a dar um conforto melhor a minha família. Venho em busca desse objetivo a cada dia que entro nos treinamentos e nos jogos, pois uma coisa eu tenho comigo que desde o momento que entro em campo tenho que dar o meu melhor. Não tem como voltar no tempo, às vezes aquela é a oportunidade que deve ser aproveitada porque pode não ter outra. Por isso, quando coloco minha roupa para entrar nas quatros linhas, eu me doou para buscar os meus sonhos que tenho para realizar.

MFC: Qual foi seu auge?  Um momento que te marcou em sua carreira?
Posso dizer que o auge da minha carreira foi ano passado no Americano-RJ, aonde chegamos às finais dos dois turnos da Série B do Carioca. Perdemos o primeiro turno para a Portuguesa-RJ. No segundo, contra o mesmo adversário conseguimos a vitória. Fomos para o triangular final junto com o América-RJ  e novamente com a Portuguesa-RJ. Foi um grupo ao qual trabalhei que eram fora de série, pessoas comprometidas, pessoas que queriam conquistar o objetivo que era o título e o acesso que infelizmente não veio. Mas o que me marcou foi a união, o comprometimento de cada de um, isso foi muito marcante para mim e vou levar para o resto da vida.
MFC: Quais são seus sonhos?
Meus sonhos são chegar a um time grande, conquistar grandes títulos, seleção, creio que esses sejam os objetivos da maioria dos jogadores. Fora do futebol, sonho em dar um conforto para minha família, ajudar o próximo e se estabilizar. Sabemos que o futebol é um período curto e a oportunidade que tiver de ganhar dinheiro para não depender de um trabalho depois que encerrar a carreira tem que ser aproveitada. Sou formado, tenho o segundo grau completo, mas não sei fazer outra coisa que não seja jogar futebol. Por isso dou meu máximo porque sem a bola não sei fazer nada.

MFC: Como você enxerga a questão do calendário para os clubes menores que muitas das vezes jogam apenas três meses?
Em relação ao futebol carioca, o prazo de campeonato aos times pequenos é de três a seis meses, sabemos que é muito complicado. Jogamos esse período, e não sabemos se vamos continuar no restante do ano. Mas como eu sou um cristão, servo de um Deus poderoso que nunca me desampara, fiquei poucas vezes e poucos meses desempregado. Deus sempre me abençoou em estar sempre empregado, então tenho gratidão por tudo que ele tem feito em minha vida.

MFC: A posição de goleiro é ingrata?
Ah, realmente é uma posição muito ingrata. Já vimos várias situações de grandes goleiros que em um jogo de noventas minutos, oitenta e nove minutos se passam bem, fazem belas defesas e na última bola toma o gol, e leva a responsabilidade da derrota. Sou bem ciente que isso pode acontecer.  Mas é aquilo, goleiro tem que ter uma cabeça fria e tranquila porque quando isso vier acontecer tem que estar preparado, pois é uma posição onde não se pode perder a cabeça, pelo contrário, tem que passar tranquilidade para o resto da equipe. Em relação a isso já sou vacinado, tenho experiência nisso. Vida de goleiro é assim, trabalhando a cada dia e sempre corrigindo os erros para não cometer nas partidas. Nos treinamentos somos o primeiro a entrar e o último a sair, é uma posição onde só se joga um, então tem que estar bem representada. Muitas das vezes têm três do mesmo nível, no entanto, apenas um é titular e esse tem que estar apto para a função.

MFC: Já conquistou algum título coletivo ou individual?
Sim, já ganhei a Copa Rio pelo Nova Iguaçu-RJ em 2008 para 2009. Também consegui um acesso com o Nova Iguaçu-RJ, além de um acesso pelo Mesquita-RJ em 2006 –  Numa parceira em que os jogadores do Nova Iguaçu-RJ colocavam a camisa do Mesquita-RJ. No ano passado pela taça Corcovado (segundo turno da série B do Carioca) fui o segundo melhor goleiro da competição.

MFC: Um recado para quem sonha um dia ser um jogador.
O recado que eu deixo para essa molecada que tem sonhos e projetos é não desanimar, não desistir de seus sonhos mesmo que algumas pessoas em que elas não esperem, tentem frustrar seus sonhos, é preciso perseverar e lutar. Não foi fácil chegar aonde eu cheguei. Foram muitas lutas, barreiras, com tudo dizendo ao contrário que não iria chegar a lugar nenhum. Mas eu creio em um Deus poderoso que pode mudar qualquer história e situação, basta ter fé, os sonhos e projetos se realizarão naturalmente, pois Deus é fiel.
Atualmente, Vander Luiz e seu clube Americano-RJ disputam a série B do Campeonato Carioca. Estão na semifinal da taça Santos Dumont (primeiro turno). Na partida de ida contra a sua antiga equipe Nova Iguaçu-RJ no Antônio Ferreira de Medeiros, Vander e seus companheiros perderam pelo placar mínimo. Agora, jogarão a vida contra a equipe da baixada no Laranjão ­– casa do adversário. A partida irá acontecer no sábado dia 23 de abril às 15h; o goleiro estará em campo pela trigésima oitava vez pelo time de Campos.

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Futrio


sexta-feira, 15 de abril de 2016

A Maior Mácula do Impeachment: o Machismo

15/04/16
Coluna: Zé do Caroço
Autor: Guilherme Cunha



Várias vezes, durante os últimos acontecimentos, pensei o quanto a presidenta Dilma estaria sendo atingida por um sistema formado e sustentado por corruptos milionários como Eduardo Cunha, por ser ela uma representante de camadas mais populares do Brasil. Até que caiu a minha ficha pra uma realidade bem mais perversa que o preconceito de classe. O de gênero. É tudo muito simples. Nós não estaríamos passando por nada disso se a Dilma não fosse mulher.

Em plena época batizada por alguns como Primavera das Mulheres a chefe de estado da sétima maior economia do mundo vem sendo repetidamente alvo de todo tipo de assédio moral, e este em nenhum momento se desvincula do gênero com o qual ela nasceu.

E, não tenho a menor dúvida, o processo de seu afastamento da presidência da república só chegou aonde chegou porque Dilma é mulher, enfrentando um congresso majoritariamente representado por homens. Pior que isso, enfrentando toda uma campanha sórdida da mídia e de setores conservadores da população.




Alguns lembrarão que algo semelhante ocorreu com o ex-presidente Itamar Franco, quando foi manchete de todos os jornais ao ser fotografado ao lado de uma modelo sem calcinha. Mas, até neste caso, não foi a objetificação feminina o ponto central da intriga?

Quase todos que odeiam Dilma odeiam Lula pelos mesmos argumentos. Só que ninguém nunca fez um tapa sexo com o rosto do Lula. Ninguém colou num carro um adesivo do Lula de pernas abertas. Nenhum repórter jamais perguntou se Lula era homossexual. Nunca, enquanto era presidente, um estádio mandou o Lula tomar no c...

Porque não importa o papel que qualquer político desempenhe nesse debate. Não importa que a ignorância de Bolsonaro nos faça passar vergonha internacional várias vezes. Não importa que Michel Temer passe um atestado de insegurança digna de um adolescente com cartas e áudios vazados. Não importa que Fernando Henrique sustentasse o filho da amante lavando dinheiro no exterior. Não importa que Eduardo Cunha seja um corrupto e Sergio Moro um egocêntrico.




É sempre a Dilma quem é a desequilibrada, a destemperada, a incompetente. Se ela erra – e aqui não se negam seus muitos erros – tudo é superdimensionado para desvalorizá-la como governante e como pessoa. No fundo, se houvesse um resquício de sinceridade em seus opositores, todos os inimigos da presidenta usariam o mesmo adjetivo para desqualificá-la: a mulher.

Seja honesto, especialmente se você for homem. Quantos neste país não dormiram à noite um pouco mais incomodados desde 2010 sabendo que a autoridade máxima do Brasil era uma mulher? Quantos não torceram intimamente para que ela fracassasse para provar sua crença quase darwiniana de que em certos trabalhos destinados a homens uma mulher sempre fracassaria?

Ver as próprias mulheres – inclusive jornalistas - reproduzindo ataques misóginos contra Dilma sob o falso pretexto de serem endereçados a governante e não a pessoa não apenas é deprimente, como atesta o quanto a sociedade brasileira é tristemente retrógrada. Sim, não dá pra fugir dessa constatação. Basta ver o papel de palhaça que a Direita perversamente reservou a Janaína Paschoal no enredo do impeachment, enquanto se deleita com suas excentricidades.




Somos uma nação patética que enxerga na mulher nada mais do que um sub-homem. Uma costela. Quando um Diogo Mainardi na Globo News se apressa a condenar a Dilma sem provas por crimes de campanha é sintomático que ele o faça dando um corte na Cristiana Lôbo, que defendia tese contrária. Nesse momento não importa a ele que a colega também faça oposição ao governo do PT. Importa é seu instinto machista quase que gritando no fundo do seu ser para ele calá-la e se sobrepor à pretensa ameaça da união de dois seres que considera inferiores.

Esse é o alto preço que pagarão todas as mulheres que apoiarem o golpe contra Dilma Rousseff. Não é só uma questão de petróleo, uma questão de corrupção ou uma questão de luta de classes. É a mesma história desde que o mundo é mundo. Um grupo de homens querendo silenciar a voz de uma mulher.

Até mesmo a implicância com a palavra presidenta nunca teve a ver com gramática. Porque primeiro disseram que a gramática não permitia. Quando gramáticos validaram o vocábulo, os críticos mudaram e disseram que era uma questão estética. Mas jamais foi por causa da gramática. Tão pouco pela estética.




A única verdade é que as pessoas odeiam a palavra presidenta por causa da letra "a" e todo o simbolismo que ela carrega em si. O quão patética e triste não deve ser a vida de alguém que dedica tempo e energia da sua existência a odiar uma letra do alfabeto.

Foi a presença daquele “a” ali que sempre incomodou tanto certas mentes estreitas incapazes de aceitar o diferente, venha ele através de uma cor, raça, classe, nacionalidade, credo ou sexo. Resta-nos saber como vamos contar essa história no futuro para os nossos filhos... e principalmente para as nossas filhas...

Mas uma certeza eu tenho. A maioria dos homens que ocupam cargos públicos em Brasília não suportaria um terço do ataque que a Dilma sofreu sem pedir arrego. E no fundo eles sabem disso. O que só apressa ainda mais o desejo doentio de tirá-la para saciar uma deficiência que existe dentro de cada um que a odeia. A força dela só expõe a fraqueza deles.






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