terça-feira, 1 de setembro de 2015

Crítica: “A Regra do Jogo” estreia como um thriller que deixa o julgamento para o público

01/09/15
Por Jean Pierry Leonardo


Foto:Reprodução/TV Globo

Grande estreia de ontem da “Rede Globo”, a nova novela das 21h “A Regra do Jogo”, de João Emanuel Carneiro, começou de maneira eletrizante. Como todo primeiro capítulo,a novela precisou ser apresentada ao público para que todos possam compreender o enredo e se familiarizar com os principais personagens. Assim, foi feita. Muito bem feita. De cara, uma das grandes novidades é perceber que cada capítulo terá um tema: o da estreia foi “A outra face”. O de hoje será “Bandido podre” e assim por diante.

 Dessa maneira fica logo clara a intenção de Carneiro: sem maiores enrolações, ele promete dissecar, capítulo por capítulo, os desfechos e singularidades morais de cada personagem. Aliás, que personagens! Com um ótimo roteiro e direção caprichada de Amora Mautner, onde a famosa caixa cênica (câmeras escondidas no estúdio que conferem novas imagens e atores sem marcações para gravar) fizeram toda a diferença, pois conseguiram aproximar o telespectador da cena. Além disso, os quatro protagonistas brilharam. Assim como seus atores. A Atena de Giovanna Antonelli – promete – foi um arroubo só, mostrando que a vilã vai conquistar o público com suas tiradas debochadas, ousadia e picaretagem. Já Alexandre Nero (Romero Rômulo) conseguiu aquilo que parecia difícil: nos fazer esquecer a imagem do Comendador José Alfredo de “Império”, em tão pouco tempo fora do ar. Num visível trabalho corporal (cortou o cabelo e emagreceu), de interpretação (cada vez mais seguro e dono do personagem) e de figurino (sem indefectível preto do Comendador), o ator mostrou o porquê de ser o 3º ator mais querido pelos brasileiros, segundo pesquisa do Datafolha.

Nero transitou no limite correto de seu difícil papel e destilou tintas precisas sob um político de caráter duvidoso, que se vende como santo, mas que está mais para bandido. Pelo menos naquilo que assistimos. A também protagonista Tóia (Vanessa Giácomo) encanta com seu jeitinho de boa filha, administradora da “Caverna da Macaca” (boate da comunidade fictícia), mas que para salvar a vida da mãe foi capaz de roubar a sua sócia e amiga Adisabeba (Susana Vieira). Ou seja, talvez não seja tão boazinha assim. E por último, temos o Juliano de Cauã Reymond, que depois de quatro anos por um crime que (afirma reiteradamente)não cometeu, quer provar inocência a custo do ódio e sede por justiça. O grande trunfo de JEC (siglas do nome do autor) é justamente ir a fundo nas questões morais e éticas de todos nós. Disseca observações e lança impressões bem objetivas sobre o limite do bem e do mal. Daquilo que é passível de punição ou de abono. Como num jogo de xadrez, onde o Juízo Final (elementos da música e abertura) é o xeque mate, A Regra do Jogo trouxe a característica – a primeira impressão é a que fica – de deixar que o público seja o juiz dessa história. Que decida o que é certo, e o que é errado. Quem é mocinho e quem é vilão.

Cássia Kis Magro (Djanira), Susana Vieira (Adisabeba), Marco Pigossi (Dante), Juliano Cazarré (MC Merlô) e Roberta Rodrigues (Ninfa) também foram outros destaques importantes. Já ressaltando em suas últimas entrevistas que novela é uma obra aberta, JEC vai “jogar” a todo momento com o seu principal alvo, o telespectador, fazendo dele tão construtor dessa obra quanto o próprio, sem a expectativa de fazer de “A Regra do Jogo” uma nova “Avenida Brasil”. Mas, igualmente, um novo fenômeno.