Aprovado, reprovado, aprovado, reprovado, aprovado,
reprovado... Ufa! Acabou o ano letivo em muitas escolas do país e o tão temido
por uns e aguardado ansiosamente por outros, resultado de fim de ano escolar
chega trazendo boas e más notícias. Para alguns o ano termina com um ar de
dever de cumprido, já para outros a reprovação é a consequência de um ano que reflete
a falta de comprometimento em alguma área.
Nesta semana, o site do jornal Folha de São Paulo,
trouxe uma pauta de altíssima relevância. A manchete dizia: "Prefeitura de
SP aprova aluno com nota vermelha". Na reportagem o jornalista Fábio
Takahashi revela que a prefeitura de São Paulo vem adotando métodos que impedem
a reprovação dos estudantes, ainda que tenham nota vermelha, isto, respaldados
no argumento de que a reprovação aumenta
a evasão escolar.
A notícia, como era de se esperar, trouxe muita
polêmica. Alguns questionam o prefeito Fernando Haddad (PT), pois em seu
discurso oficial há mais rigor com os alunos da rede municipal. Vale ressaltar,
que Haddad conseguiu em sua gestão o aumento total das séries em que o aluno
pode ser reprovado. Antes dessa medida, a avaliação do aluno era feita apenas
por dois ciclos, ou seja, o aluno poderia ser reprovado apenas no quinto e no
nono ano do ensino fundamental.
O Sinesp (Sindicato dos diretores de escolas municipais)
se pronunciou a respeito da gestão de Haddad em relação a educação. O sindicato,
que representa os diretores de escolas municipais de São Paulo, divulgou um
comunicado chamando de "politiqueira" a ampliação da possibilidade de
reprovação de duas para cinco séries do ensino fundamental. Uma vez que
professores vivem com a difícil missão de se equilibrar entre o fato de a
reprovação aumentar a evasão escolar e a pressão pela a adoção do sistema (com
cinco séries avaliando), sem o qual teriam que aprovar quem não aprendeu.
No Rio de Janeiro, o ex-prefeito César Maia (DEM)havia
abandonado o sistema de avaliação seriada (ano a ano) em 2007, e assim como
Haddad, adotou os ciclos, que por sua vez duravam três anos. Contudo, o que
diferenciou o método do ex-prefeito carioca ao de Haddad foi a retirada do
conceito "insuficiente" dos boletins escolares. A avaliação dos
alunos passou a ser apenas com "muito bom", "bom" ou
"regular" - em outras palavras, o aluno não era reprovado em hipótese
alguma. O método não é mais válido no Rio de janeiro, pois o prefeito seguinte,
Eduardo Paes (PMDB), acabou com a aprovação automática.
Há uma diferença entre o termo aprovação automática
e progressão continuada. Enquanto o primeiro exclui o processo de avaliação,
deixando o aluno se movimentar pela inércia, o segundo prevê a avaliação do
aluno em ciclos, que não duram necessariamente um ano. Porém, o conceito de
progressão continuada vem sendo deturpado, políticos com intenções para lá de
duvidosas aproveitam a diferença no signo dos termos aprovação automática e
progressão continuada para maquiar as terríveis falhas no sistema público de
ensino nacional.
O progressão continuada é um método compreensível, se
aplicado de uma maneira bem estruturada e organizada. Os ciclos foram criados
para desenvolver o ensino da melhor maneira possível dentro da
"progressão". A ideia de um ciclo de ensino, que priorize o
aprendizado do estudante e não o calendário escolar é fantástica, pois cada um
tem seu tempo de aprender e muitas vezes acontecimentos pessoais podem
interferir de maneira negativa no aprendizado do estudante. Desta forma, a
progressão continuada é válida, pois se diferencia do sistema clássico de
avaliação robótico, em que não respeita tempo e o espaço do aluno.
Sabendo dos benefícios da progressão continuada, a
prefeitura de São Paulo, por exemplo, tem pressionado as escolas não
reprovarem. Na reportagem mencionada no início desta coluna uma professora de
SP denunciou, sob condição de anonimato, que no começo do ano foi orientada sobre
a liberdade para reprovar alunos. Agora, porém, a reprovação é estimulada para
menos de 10% das classes, independente a situação do estudante. Com isso, torna-se
evidente que o método utilizado em São Paulo só tem o nome de progressão continuada,
mas na prática o que existe é uma aprovação automática mascarada.
No Brasil estima-se que aproximadamente 9% dos
custos com educação básica sejam destinados a dar suporte aos que são
reprovados na escola. Esse dado pode ser avaliado como sendo um dos principais
motivos para a intolerância da prefeitura de SP com a reprovação, mas o
argumento preferido dos defensores da aprovação automática mascarada é o
impacto que a reprovação tem sobre a autoestima de crianças e adolescentes. Quanto
ao último argumento é preciso destacar que ninguém gosta de ser reprovado, em
nenhum aspecto de sua vida. Contudo, algumas vezes é necessário a queda para
que o futuro homem aprenda a levantar. É preferível o choro de uma criança
reprovada justamente, do que o de um adulto frustrado por que não teve o
preparo necessário quando estudante.
Esta semana a jovem paquistanesa Malala Yousafzai
foi premiada com o prêmio Nobel da paz, se tornando a pessoa mais jovem a
receber o prêmio. A jovem se tornou conhecida ao mundo há um ano, após ser
baleada na cabeça por talibãs ao sair da escola.
O ataque aconteceu no dia 9 de outubro. Malala
seguia em um ônibus escolar. Seu crime foi se destacar entre as mulheres e
lutar pela educação das meninas e adolescentes no Paquistão – um país dominado
pelos talibãs, que são contrários à educação das mulheres.
Malala é um exemplo de que a educação é
transformadora. Vivendo num país conservador e machista, Malala se destacou
através do blog "Diário de uma Estudante Paquistanesa", no qual
falava sobre sua paixão pelos estudos e as dificuldades enfrentadas no
Paquistão sob domínio do talibã.
No dia 9 de outubro, Malala deixou sua escola e
seguiu para o ônibus que a levava para casa. Posteriormente, ela contou ter
achado estranho o fato de as ruas estarem vazias. Pouco depois, dois jovens
subiram no ônibus, perguntaram por ela e dispararam. Além de Malala, outras
duas meninas também foram baleadas.
Corajosa, inteligente e revolucionária - Malala é um
ícone, que em contraste com a realidade brasileira faz todos questionarmos até
quando os brasileiros serão mantidos pelas migalhas do sistema publico de
ensino? Num país onde se pede a diminuição da maioridade penal, a educação não
seria um processo de revolução e transformação? E, afinal o que é mais
importante passar ou aprender?