04/04/2016
Coluna: Zé do Caroço
Autor: Guilherme Cunha
Poucas coisas são mais tentadoras na vida que o
entorpecimento do caminho mais fácil, o qual é, muitas vezes, o caminho errado.
É mais fácil dizer que você é “do bem” e quem pensa
diferente é “do mal”, em vez de refletir que fazer o bem consiste em se colocar
contra o status quo de uma sociedade injusta.
É mais fácil identificar as pessoas por sua etnia,
como o policial Newton Ishii, ou seu defeito físico, como o Lula e o Nestor
Cerveró, desde que a “brincadeira” não seja com você. É mais fácil atacar uma
mulher como a Dilma ou uma mulher negra como a Maju, porque se depois você se
acovarda, vai ter um bando de alienado de ambos os sexos pra repetir que
misoginia não é misoginia e racismo não é racismo.
É mais fácil falar do Mensalão sem sequer saber o
que é o Fundo Visanet. É mais fácil dizer que a justiça é apartidária, mas
vibrar quando ela só investiga os governos do PT apesar de todas as denúncias
contra os do PSDB. É mais fácil comemorar a prisão de um político do que
quebrar a cabeça entendendo o desastre que é a libertação de um banqueiro como Daniel
Dantas.
É mais fácil votar no
Aécio e dizer que é pra tirar o PT, apesar de acreditar que ele também é
corrupto.
É mais fácil acreditar que nós vivemos numa
cleptocracia (o governo do ladrões) orquestrada pelo PT, como acusou o ministro
do STF Gilmar Mendes, e não que essa cleptocracia é subordinada à uma
plutocracia (o governo dos ricos), a qual incluiria não o Lula, mas uma
série de criminosos – Jorge Farah, Roger Abdelmassih, Daniel Dantas – os quais, em
algum momento, foram soltos porque eram ricos. É mais fácil se informar pelo
Jornal Nacional, do que garimpar notícias pela internet.
É mais fácil dizer que não é de Esquerda e nem de
Direita, e sim contra tudo de errado que está aí, o que é o mesmo que dizer que
você está acima do bem e do mal e, na prática, perpetuar o lado mais forte, o qual,
no nosso país, seria representado pela Direita e por um grupo restrito de ricas famílias e
empresários, a quem direitos trabalhistas e ganhos sociais são um empecilho para
o crescimento da economia, sobretudo a deles.
É sempre mais fácil ficar ao lado do mais forte.
É mais fácil acreditar que qualquer um que apareça
na mídia falando mal do PT é um herói, não importa quantas vezes você quebre a
cara com Cunhas e Moros. É mais fácil
acusar manifestantes a favor do governo de terem sido comprados com pão e
mortadela e ignorar o filé mignon dado pela FIESP aos manifestantes a favor do
impeachment. É mais fácil acampar na avenida paulista com barracas de camping,
sob as bençãos dos plutocratas, do que ficar numa barraca de assentamento do
MST lutando pela reforma agrária contra a bancada ruralista.
É mais fácil falar
que o Foro de São Paulo é um plano secreto de dominação ao invés de procurar
conhecer a fundo a conferência, que nem secreta é. É mais fácil dizer que o
Lula é um analfabeto que deu péssimos exemplos de educação, ao invés de
reconhecer que, apesar de não ter tido a oportunidade de concluir a educação
formal, ele foi o presidente que mais investiu em universidades, cursos
técnicos e inclusão no ensino superior, ou que Kim Kataguri e Olavo de
Carvalho, dois dos maiores “expoentes intelectuais” da oposição, são pessoas
que abandonaram deliberadamente a escola.
É mais achar que a cocaína era do piloto.
É mais fácil reclamar que pagamos muitos impostos do
que se preocupar com o fato do Brasil ser considerado um campeão de sonegação
dos ricos no mundo e de estudos apontarem que este crime tira mais dinheiro de
países em desenvolvimento do que a corrupção. Afinal, de onde viria o dinheiro
para os corruptores pagarem os corruptos?
É mais fácil achar que o país está uma merda
justamente agora, quando grupos de pessoas constantemente marginalizados pela
nossa sociedade finalmente começaram a adquirir direitos, porque boa parte
desses grupos não fazem parte do seu círculo social mesmo. O que os olhos não
veem o coração não sente.
É mais fácil falar hipocritamente que devemos pedir
desculpas e devolver o país pros índios, mas não dar a mínima quando a terra
deles é invadida por grandes latifundiários e madeireiras.
É mais fácil se apegar a uma ideia do que se
desapegar de um preconceito. É mais fácil destruir do que construir. É mais
fácil expulsar a presidenta do que combater a corrupção no Brasil. É mais fácil
pedir impeachment do que reforma política.
É mais fácil discutir
semântica do que dar o verdadeiro significado a esta tentativa de impeachment: golpe.
Imagens:
Tom coelho
Agencia Brasil EBCMST.org
Fecbahia.com