quinta-feira, 21 de abril de 2016

Manifesto Futebol Clube apresenta Vander Luiz


21/04/16
Coluna: Manifesto Futebol Clube
Autor(a): Fabio Rodrigues

A vida de goleiro no futebol não é fácil. Apenas um pode ser titular, embora uma equipe tenha mais de um arqueiro de qualidade, só um terá o prazer e a responsabilidade de entrar em campo. Além disso, quase sempre são apontados como o culpado de uma derrota ou fracasso. Vander Luiz Nogueira Fernandes – nascido em Mesquita no Rio de Janeiro –, já sabia disso desde pequeno nas categorias de base do Botafogo por onde jogou aos seus onze anos. Superando desafios e dificuldades se profissionalizou pelo Nova Iguaçu-RJ em 2006. Hoje, aos vinte e oito anos de idade, e com catorze anos no ramo de futebol é jogador do Americano-RJ. O Manifesto Futebol Clube recebe Vander Luiz para um bate-papo exclusivo.

MFC: Qual sua trajetória no futebol?
Eu comecei a jogar futebol com onze para doze anos no Botafogo. Aí fiquei um período bem rápido, depois me transferi para o Bangu-RJ onde eu fui federado, ali joguei no infantil e no juvenil. Durante esse período tive uma passagem pelo Cruzeiro e pelo Vitória por empréstimo, posteriormente voltei ao Bangu-RJ para o último ano de juvenil.  Fui para os juniores do Nova Iguaçu-RJ onde permaneci por sete anos, três na categoria júnior e quatro anos de profissional. Em 2010, tive uma rápida passagem pela Jamaica. Voltei ao Brasil para atuar por dois anos pelo Angra-RJ na Série B do Carioca, depois tive uma passagem pela Estácio de Sá-RJ, São Cristóvão-RJ, Boavista-RJ, retornei ao Angra-RJ.  No primeiro semestre do ano passado joguei pelo Americano-RJ, no segundo fui disputar a Copa Rio pelo Boavista-RJ e após o torneio fiz o retorno para meu atual clube que é o Americano-RJ.

MFC: Qual foi sua maior dificuldade para se tornar profissional?
As lutas, as adversidades que há no mundo da bola. Mas em momento algum deixei isso me abater ou me atingir porque sou um cara que quando determino algo vou até o final... Contra tudo e contra todos.  Sou grato aos meus pais e minha família, pois foi um ponto fundamental, não só para mim, creio que muitos que estão no futebol quando tem um incentivo, um apoio é de suma importância. Portanto, sou grato a eles por terem me dado esse alicerce. Na realidade, se não fossem eles, eu teria largado a bola há muito tempo.

MFC: Você é um cara vivido no mundo do futebol, o famoso “peixe” faz diferença na carreira de um jogador?
No mundo da bola isso conta muito. O famoso empresário, pessoas que têm influência podem te colocar em lugares em que você nem imagina. Mas é aquilo, se o jogador não tiver qualidade de nada adianta. Digo por experiência própria, já vi situações em que o atleta não tinha condições de estar naquele elenco e você via que era por causa de dinheiro por fora. No entanto, chega um momento em que isso não tem mais seguimento, pois quem está de fora acaba vendo que aquela pessoa tá tirando o lugar de quem tem mais qualidade, e que não está jogando pela situação de bastidores.

MFC: Por que você não conseguiu se firmar no Cruzeiro?
Foi um período em que fui emprestado, na época pelo Bangu-RJ. Passei três semanas até que tive uma contusão no punho, ao qual destronquei e não tive como dar um seguimento. Acabei retornando para o Bangu-RJ.

MFC: Como foi sua experiência na Jamaica?
Foi muito rápida. Uma situação ao qual eu fui através de um ex-treinador que me indicou. Eram eu e mais dois brasileiros. Tudo foi combinado aqui no Brasil em relação a salário, moradia, porém chegando lá as coisas mudaram, o acordo que eu tinha foi mudado. Isso me chateou bastante, então optei voltar. Na verdade era o seguinte, eles acabaram abaixando e o que eu iria ganhar era para me sustentar na Jamaica, não achei vantajoso e quis voltar até porque havia clubes no Rio interessados em mim.

MFC: Qual sua inspiração na posição de goleiro?
Hoje em dia, a gente tem visto a evolução da posição. Temos visto grandes goleiros se destacando e se for falar em inspiração vou demorar bastante. Mas existem alguns diferenciados, como o próprio Neuer, Ter Stegen do Barcelona, além de outros fora de série. Então, tento pegar um pouco de cada um e estar aprendendo, pois nunca sabemos tudo. Tenho essa humilde de estar sempre vendo o companheiro de profissão jogar para aprender com quem sabe.

MFC: Qual sua inspiração na vida?
Minha inspiração na vida em relação ao futebol é como eu falei é um sonho que tenho desde criança de ser tornar um jogador. Graças a Deus, consegui me tornar um profissional.

MFC: O futebol melhorou sua vida?
Bastante coisa. Em relação a caráter, me ensinou a ser um homem honesto e correto. Não sou rico e nem milionário, pelo contrário, estou correndo atrás para que eu venha a dar um conforto melhor a minha família. Venho em busca desse objetivo a cada dia que entro nos treinamentos e nos jogos, pois uma coisa eu tenho comigo que desde o momento que entro em campo tenho que dar o meu melhor. Não tem como voltar no tempo, às vezes aquela é a oportunidade que deve ser aproveitada porque pode não ter outra. Por isso, quando coloco minha roupa para entrar nas quatros linhas, eu me doou para buscar os meus sonhos que tenho para realizar.

MFC: Qual foi seu auge?  Um momento que te marcou em sua carreira?
Posso dizer que o auge da minha carreira foi ano passado no Americano-RJ, aonde chegamos às finais dos dois turnos da Série B do Carioca. Perdemos o primeiro turno para a Portuguesa-RJ. No segundo, contra o mesmo adversário conseguimos a vitória. Fomos para o triangular final junto com o América-RJ  e novamente com a Portuguesa-RJ. Foi um grupo ao qual trabalhei que eram fora de série, pessoas comprometidas, pessoas que queriam conquistar o objetivo que era o título e o acesso que infelizmente não veio. Mas o que me marcou foi a união, o comprometimento de cada de um, isso foi muito marcante para mim e vou levar para o resto da vida.
MFC: Quais são seus sonhos?
Meus sonhos são chegar a um time grande, conquistar grandes títulos, seleção, creio que esses sejam os objetivos da maioria dos jogadores. Fora do futebol, sonho em dar um conforto para minha família, ajudar o próximo e se estabilizar. Sabemos que o futebol é um período curto e a oportunidade que tiver de ganhar dinheiro para não depender de um trabalho depois que encerrar a carreira tem que ser aproveitada. Sou formado, tenho o segundo grau completo, mas não sei fazer outra coisa que não seja jogar futebol. Por isso dou meu máximo porque sem a bola não sei fazer nada.

MFC: Como você enxerga a questão do calendário para os clubes menores que muitas das vezes jogam apenas três meses?
Em relação ao futebol carioca, o prazo de campeonato aos times pequenos é de três a seis meses, sabemos que é muito complicado. Jogamos esse período, e não sabemos se vamos continuar no restante do ano. Mas como eu sou um cristão, servo de um Deus poderoso que nunca me desampara, fiquei poucas vezes e poucos meses desempregado. Deus sempre me abençoou em estar sempre empregado, então tenho gratidão por tudo que ele tem feito em minha vida.

MFC: A posição de goleiro é ingrata?
Ah, realmente é uma posição muito ingrata. Já vimos várias situações de grandes goleiros que em um jogo de noventas minutos, oitenta e nove minutos se passam bem, fazem belas defesas e na última bola toma o gol, e leva a responsabilidade da derrota. Sou bem ciente que isso pode acontecer.  Mas é aquilo, goleiro tem que ter uma cabeça fria e tranquila porque quando isso vier acontecer tem que estar preparado, pois é uma posição onde não se pode perder a cabeça, pelo contrário, tem que passar tranquilidade para o resto da equipe. Em relação a isso já sou vacinado, tenho experiência nisso. Vida de goleiro é assim, trabalhando a cada dia e sempre corrigindo os erros para não cometer nas partidas. Nos treinamentos somos o primeiro a entrar e o último a sair, é uma posição onde só se joga um, então tem que estar bem representada. Muitas das vezes têm três do mesmo nível, no entanto, apenas um é titular e esse tem que estar apto para a função.

MFC: Já conquistou algum título coletivo ou individual?
Sim, já ganhei a Copa Rio pelo Nova Iguaçu-RJ em 2008 para 2009. Também consegui um acesso com o Nova Iguaçu-RJ, além de um acesso pelo Mesquita-RJ em 2006 –  Numa parceira em que os jogadores do Nova Iguaçu-RJ colocavam a camisa do Mesquita-RJ. No ano passado pela taça Corcovado (segundo turno da série B do Carioca) fui o segundo melhor goleiro da competição.

MFC: Um recado para quem sonha um dia ser um jogador.
O recado que eu deixo para essa molecada que tem sonhos e projetos é não desanimar, não desistir de seus sonhos mesmo que algumas pessoas em que elas não esperem, tentem frustrar seus sonhos, é preciso perseverar e lutar. Não foi fácil chegar aonde eu cheguei. Foram muitas lutas, barreiras, com tudo dizendo ao contrário que não iria chegar a lugar nenhum. Mas eu creio em um Deus poderoso que pode mudar qualquer história e situação, basta ter fé, os sonhos e projetos se realizarão naturalmente, pois Deus é fiel.
Atualmente, Vander Luiz e seu clube Americano-RJ disputam a série B do Campeonato Carioca. Estão na semifinal da taça Santos Dumont (primeiro turno). Na partida de ida contra a sua antiga equipe Nova Iguaçu-RJ no Antônio Ferreira de Medeiros, Vander e seus companheiros perderam pelo placar mínimo. Agora, jogarão a vida contra a equipe da baixada no Laranjão ­– casa do adversário. A partida irá acontecer no sábado dia 23 de abril às 15h; o goleiro estará em campo pela trigésima oitava vez pelo time de Campos.

Imagem:
Futrio