05/04/16
Coluna: Manifesto Preto
Autor: Nyl MC
Se você mora no Brasil ou acompanha, sabe que o
campo político está uma panela de pressão apitando. Operação Lava-Jato,
Impeachment, Lula, Dilma, Temer, Cunha e Moro são algumas palavras-chave desse
momento que já é um marco para essa jovem ''democracia''.
O que tá posto no ringue e sendo praticado é
meramente disputa de poder. Em nenhum dos lados se vê alguma auto-crítica,
mudanças de práticas ou proposições para atender as demandas da população com a
urgência que precisam. Simplesmente uma máquina emperrada, que só instiga uma
briga de torcidas.
De um lado os verde-amarelos pró Impeachment (muitos
sem saber os passos nefastos desse processo). Do outro, vermelhos contra Impeachment.
O ''lado vermelho'' dessa força é composto por gente pró-governo e gente que
não apoia o governo mas não apoia o Impeachment. A grande mídia não mostra, mas
há também quem é contra o governo, contra o Impeachment e a favor de novas
eleições, com novos candidatos e um governo em que a população organizada é que
estaria a frente das decisões.
A questão ou provocação que trago aqui é: e o lado
preto desse barato?
Há quem diga que seria do lado do PT. Olha as cotas,
FIES, Fundação Palmares e bolsa família ai. Real, mas para o país que mais
explorou a mão de obra escrava de índios e pretos, que realizou o maior
sequestro da humanidade tirando milhares de pessoas de seu próprio continente e
concedendo uma ''abolição'' que não se garantiu direito algum, ainda é pouco.

A condução coercitiva que aconteceu ao ex-presidente
Lula acontece nas favelas todos os dias. Amarildo e tantas outras vítimas
poderiam nos dizer. Há tempos a juventude preta tá morrendo e os números são
alarmantes. No governo em que se tem uma presidenta não houve avanços para as
mulheres pretas. Que diálogo houve sobre
a legalização do aborto?
Ta dado que a política brasileira é um antro de
podridão e precisa ser reconfigurado pra ontem. Sopa de letrinhas sem práticas
consistentes não valem de nada. Cabe a nós continuar cada vez mais envolvido
com as ruas, discutindo e pensando novas possibilidades, novos caminhos. Ter
uma real representatividade e poder de decisão. Mr Catra foi muito sagaz ao
dizer que a favela já é socialista, na prática.
Continuo sonhando e acreditando com o dia em que
lembrarei disso tudo e falarei com meus netos: ''mas de lá pra cá a coisa ficou
preta'' e sorrir.Imagens:
1 - Gelédes
2 - Thiago Freitas/Agência O Globo