Reexibida pela quinta vez no Brasil, a novela A Usurpadora é a personificação da máxima que diz "quanto mais velho o vinho, melhor ele fica". Ainda assim é pouco para entendermos porque essa trama mexicana, que o brasileiro aprendeu a amar, faz tanto sucesso em nossas tardes, mesmo sendo originalmente do ano de 1998. Ou seja, de 17 anos atrás. Desde 30 de março, as gêmeas Paola e Paulina dão o ar de suas graças e vilanias, na "Televisa brasileira", o SBT. Ainda que seja uma estratégia puramente comercial, uma vez que a emissora precisava enfrentar de igual para igual a também reprise "O Rei do Gado", na Rede Globo, que vem elevando os índices da concorrente, a emissora de Sílvio Santos não ousaria pôr a novela à toa em sua programação.
É apelando, no bom sentido, para a memória afetiva do público que se mantém uma vice liderança, que por vezes quase iguala o canal a ser batido. Mas a verdade é que não importa quantas vezes A Usurpadora será exibida, e sim aquilo que ela tem e gostamos de ver. Conhecidas por seu estilo mais melodramático de ser, dos carões em cadas cenas, das músicas e "sofrências" a cada capítulo e tudo de mais caricato e brega que possa existir, a novela protagonizada (e eternizada) por Gabriela Spanic, tem um "Q" de especial. E são esses motivos que ajudam a explicar o seu fenômeno por toda a América Latina, em especial no Brasil. Vamos a eles:
- Ainda que a história de irmãs gêmeas que são completamente diferentes, onde uma é a mocinha sofredora e a outra a vilã inescrupulosa, seja nada original, Paola e Paulina foram brilhantemente construídas por Gabriela Spanic. Impossível não distingui-lás, mesmo sendo feita pela mesma atriz;
2. Paulina podia ser sofredora, mas sabia lidar com seus problemas. Mesmo sentindo-se acuada em muitos momentos por sua irmã, ela conquistou o telespectador com sua força de vontade.
Podia pecar por ser ingênua, mas não por ser burra. Simplicidade e humildade também não lhe faltavam.
3. Paola Bracho era malvada, mas deliciosamente, amada. Sim, por mais ruim que fosse, a personagem conseguiu tornar-se icônica e ditou tendência. Afinal, quem não se hipnotizava com sua debochada risada?! Quem em algum momento não se pegava atencioso a seus carões?! E suas incríveis roupas, sapatos e batons fortemente marcados nos lábios?! O interessante em Paola não era torcer por suas vilanias, mas sim ficar esperando por alguma de suas pérolas, falas sarcásticas e gestuais.
Carlos Daniel (Fernando Colunga)
4. O Carlos Daniel de Fernando Colunga. Gente, simplesmente ele foi (e sempre será) o eterno galã de nossas tardes dos anos 90. O bronzeado ator deixava muitas mulheres (e homens também) encantados por sua virilidade, paixão, "olhar 43" e corpo atlético. Precisava de mais alguma coisa?!
5. Era certeza assistir Vovó Piedade, o menino Carlinhos e sua irmã Lisette, a empregada Lalinha, a governanta Adelina, a ambiciosa Estephanie e seu marido William, entre tantos outros personagens maravilhosos.
6. Sua música de abertura (hahahah).
Paola Bracho: beijo pro recalque
Vovó Piedade e Adelina: inesquecíveis
A longevidade de A Usurpadora e seu sucesso podem ser resumidos nesses aspectos, embora tenha muitos outros elementos para serem ditos. Entretanto, não é preciso muito para compreender. Despretensiosa, o folhetim trouxe algo que se não é novo, ou não tem a estética mundialmente reconhecida e premiada de nossas telenovelas, também não fica a desejar quando se propõe fazer apenas aquilo que lhe é peculiar: entreter. Na era das novas tecnologias, de histórias polêmicas, de sinopses ousadas e inovadoras, Paola e Paulina provam que novela velha é quem faz audiência boa. Que o diga o SBT.