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Fotos; Reprodução |
Na semana passada a violência doméstica contra a mulher fez mais uma
vítima. Amanda Bueno, ex-integrante da 'Jaula das Gostozudas' e 'Gaiola das
Popozudas', foi assassinada dentro de casa, em Nova Iguaçu (RJ), na Baixada
Fluminense pelo seu noivo Milton Severiano Vieira, conhecido como 'Miltinho da Van'. O crime claro chocou o
país, não só pelo fato de Amanda ser conhecida no universo do funk, mas também
pelas imagens do momento que mostram a dançarina sendo agredida e morta pelo
noivo.
O vídeo, claro, "viralizou" na internet
trazendo as mais variadas reações: Indignação, ódio, tristeza, entre outras.
Mas o sentimento exposto por internautas que chamou muito a minha atenção foi o
de condenação e não pensem que foi condenação ao assassino e sim à Amanda.
Muitos "especialistas" em casos de violência doméstica contra a mulher tiveram a
oportunidade de através do ocorrido destilar a sua falta de sensibilidade e
ignorância.
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Imagens retiradas de rede social |
Alguns comentários como os do tipo: "Ah! Ela
foi se envolver logo com o 'Miltinho da
Van'", "Ela mereceu, pois devia meter o chifre nele", "Gosta
de namorar bandidão... agora vai
namorar com o capirotto"
ilustram o desfile de ignorância e machismo exposto por internautas.
O estereótipo de Amanda ajudou com que os moralistas
da vez destilassem as suas opiniões cheias de preconceito contra a dançarina.
Como se não bastasse a forma terrível como foi assassinada, Amanda teve a sua morte
justificada com o estigma de que dançarina de funk não tem moral e de que
mulher agredida por seu companheiro e que não denuncia gosta de apanhar.
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Foto: Reprodução |
Amanda é mais um número que entra para a triste estatística
da violência domestica contra a mulher. Recentemente, um levantamento divulgado
pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJ-RJ) registrou um
aumento de mais de cinco vezes no número de novos casos de violência doméstica familiar
contra a mulher nos últimos oito anos. Em 2007, por exemplo, um ano depois da
edição de Lei Maria da Penha, entraram 17.756 novos processos desta natureza em
todo o estado do Rio. Em 2014, foram 94.689 novas ações. De acordo com a juíza
Maria Daniella Binato de Castro, do I Juizado da Violência Doméstica e Familiar
contra a Mulher, os números demonstram que não houve, necessariamente, um
aumento de casos de violência contra a mulher, mas sim que as mulheres estão
procurando mais o Poder Judiciário. Assim, torna-se evidente que a violência contra
as mulheres sempre existiu como também sempre existiram mulheres que não denunciavam
por medo de seus agressores e pela dependência que tinham de seus parceiros.
A mulher já carrega sobre si um estigma que pesa
demais.
Se for bonita então... escândalo!
E, se for dançarina então... escândalo!
E, se for dançarina de funk então... escândalo!
E, se for noiva do "Miltinho da Van"
então... escândalo!
Escândalo estampado nas páginas dos jornais onde os
moralistas se deleitam e parecem sentir um imenso prazer em atirar as suas
pedras, mas quer saber o que é escândalo mesmo?
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(Foto: Cristina Boeckel/ G1 |
Escândalo é o salário mínimo do trabalhador em comparação
com o dos parlamentares;
Escândalo é ver templos de igrejas construídas com
milhões de reais enquanto há milhares passando fome nas ruas;
Escândalo é ver que choca mais a conduta e a vida
pessoal de uma dançarina de funk do que um assassinato frio e cruel por parte
de um bandido confesso.
E, para você? O que é escândalo?
RECADO RÁPIDO - 21/04/15