terça-feira, 21 de abril de 2015

RECADO RÁPIDO: O VERDADEIRO ESCÂNDALO NO CASO DA DANÇARINA DE FUNK



Fotos; Reprodução



   Na semana passada a violência doméstica contra a mulher fez mais uma vítima. Amanda Bueno, ex-integrante da 'Jaula das Gostozudas' e 'Gaiola das Popozudas', foi assassinada dentro de casa, em Nova Iguaçu (RJ), na Baixada Fluminense pelo seu noivo Milton Severiano Vieira, conhecido como 'Miltinho da Van'. O crime claro chocou o país, não só pelo fato de Amanda ser conhecida no universo do funk, mas também pelas imagens do momento que mostram a dançarina sendo agredida e morta pelo noivo.



   O vídeo, claro, "viralizou" na internet trazendo as mais variadas reações: Indignação, ódio, tristeza, entre outras. Mas o sentimento exposto por internautas que chamou muito a minha atenção foi o de condenação e não pensem que foi condenação ao assassino e sim à Amanda. Muitos "especialistas" em casos de violência doméstica contra a mulher tiveram a oportunidade de através do ocorrido  destilar a sua falta de sensibilidade e ignorância.

Imagens retiradas de rede social

   Alguns comentários como os do tipo: "Ah! Ela foi se envolver logo com o 'Miltinho da Van'", "Ela mereceu, pois devia meter o chifre nele", "Gosta de namorar bandidão... agora vai namorar com o capirotto" ilustram o desfile de ignorância e machismo exposto por internautas.

   O estereótipo de Amanda ajudou com que os moralistas da vez destilassem as suas opiniões cheias de preconceito contra a dançarina. Como se não bastasse a forma terrível como foi assassinada, Amanda teve a sua morte justificada com o estigma de que dançarina de funk não tem moral e de que mulher agredida por seu companheiro e que não denuncia gosta de apanhar.

Foto: Reprodução

   Amanda é mais um número que entra para a triste estatística da violência domestica contra a mulher. Recentemente, um levantamento divulgado pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJ-RJ) registrou um aumento de mais de cinco vezes no número de novos casos de violência doméstica familiar contra a mulher nos últimos oito anos. Em 2007, por exemplo, um ano depois da edição de Lei Maria da Penha, entraram 17.756 novos processos desta natureza em todo o estado do Rio. Em 2014, foram 94.689 novas ações. De acordo com a juíza Maria Daniella Binato de Castro, do I Juizado da Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, os números demonstram que não houve, necessariamente, um aumento de casos de violência contra a mulher, mas sim que as mulheres estão procurando mais o Poder Judiciário. Assim, torna-se evidente que a violência contra as mulheres sempre existiu como também sempre existiram mulheres que não denunciavam por medo de seus agressores e pela dependência que tinham de seus parceiros.

   A mulher já carrega sobre si um estigma que pesa demais.

   Se for bonita então... escândalo!

   E, se for dançarina então... escândalo!

   E, se for dançarina de funk então... escândalo!

   E, se for noiva do "Miltinho da Van" então... escândalo!

   Escândalo estampado nas páginas dos jornais onde os moralistas se deleitam e parecem sentir um imenso prazer em atirar as suas pedras, mas quer saber o que é escândalo mesmo?

(Foto: Cristina Boeckel/ G1

   Escândalo é o salário mínimo do trabalhador em comparação com o dos parlamentares;

   Escândalo é ver templos de igrejas construídas com milhões de reais enquanto há milhares passando fome nas ruas;

   Escândalo é ver que choca mais a conduta e a vida pessoal de uma dançarina de funk do que um assassinato frio e cruel por parte de um bandido confesso.

   E, para você? O que é escândalo?


   RECADO RÁPIDO - 21/04/15