segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

SEGUNDA TELA: LÉSBICAS NAS NOVELAS

FOTOS: SBT


   Com a onipresença de personagens gays nas novelas brasileiras  - leia-se “Rede Globo” – não fica difícil saber quais serão os próximos personagens do segmento. Mas sim, em que novelas virão e que atores darão vida a eles. Contudo, sempre foi mais comum a representação da homossexualidade masculina nas telas, talvez pela maior abrangência de tipos. Entretanto, nos últimos anos e tramas, o lesbianismo vem dando maior cara e lançando holofotes sobre a relação entre mulheres.

FOTOS: UOL
   Um dos primeiros casais de lésbicas das telenovelas – no sentido maior de repercussão,uma vez que os personagens de novelas dos anos 70/80 eram apenas indicações sutis, haja visto o conservadorismo da época – que deu o que falar foi a dupla Laís (Christina Prochaska) e Cecília (Lala Deheizelin), de “Vale Tudo” (1988). Ali, pelo fim dos idos dos lendários anos 80, as moças de Gilberto Braga foram um dos grandes destaques do folhetim, pois não escondiam o amor que sentiam uma pela outra e a demonstravam, mesmo com os porquês da época. Um marco na História da TV. Em “A Indomada” (1997) Zenilda (Renata Sorrah) e Vieira (Catarina Abdalla) também tiveram vez. Outro casal de lésbicas marcante foi  Leila (Sílvia Pfeifer) e Rafaela (Christiane Torloni) de “Torre de Babel” (1998), inesquecivelmente, mortas na explosão do shopping Center da novela. 
FOTOS: IG

   Nos anos 2000, as jovens Clara (Alinne Moraes) e Rafaela (Paula Picarelli), de “Mulheres Apaixonadas” (2003) , de Manoel Carlos, criaram polêmicas. Sintetizadas sob a forma mais livre de amor, na efervescência de suas juventudes, as jovens demonstravam grande afeto e carinho mútuos que incomodavam a muitos outros personagens da novela – e alguns mais conservadores telespectadores - , mas não se abalaram e selaram – literalmente – um beijo entre elas.  Já Aguinaldo Silva quis ousar mais nas cenas e nas personagens lésbicas de sua “Senhora do Destino” (2004), quando Eleonora (Mylla Christie) e Jennifer (Bárbara Borges) mantinham um intenso relacionamento, com cenas mais instigantes do romance. “Belíssima” (2005) de Sílvio de Abreu, teve Rebeca (Carolina Ferraz) e Karen (Mônica Torres) e “ A Favorita” (2008) marcou presença com Catarina (Lília Cabral) e Stella (Paula Burlamaqui).

FOTOS: GLOBO
   Pode parecer muito mais nem tanto. Aliás, uma curiosidade: apesar de todas essas personagens terem sido de novelas globais, foi o casal Marcela (Luciana Vendramini) e Marina (Gisele Tigre), de “Amor & Revolução” (2011), do “SBT”, que mais “causou”. Em meio ao contexto da Ditadura Militar do folhetim, as atrizes que deram vida as belas não tiveram pudor e protagonizaram o primeiro beijo lésbico – e gay, no geral -  da Televisão brasileira.  Um marco e surpresa, uma vez que não se esperava tanto delas e da novela em questão. Mesmo em uma época repressora, elas viveram bem (escondidas) o amor entre si. Clara (Giovanna Antonelli), Marina (Tainá Muller) e Vanessa (Maria Eduarda de Carvalho), de “Em Família” (2014) foram as últimas a passarem pela TV, mas sem muito sucesso, por terem sido “mornas” demais.
FOTOS: DIÁRIO DE PERNAMBUCO
Talvez por curiosidade, ou ainda pela maior liberdade feminina aliada a uma maior tomada de consciência – com ainda muitas dificuldades – da sociedade, que o lesbianismo venha ganhando terreno dramaturgicamente. Apesar do politicamente correto existente, não há mais limites que imponham restrições a essas representações. Na maioria das vezes sendo mostradas de maneira fidedignas, ainda que seja ficção, o caminho traçado por elas, desde “Vate Tudo” até a última que foi em “Em Família”, parece sem volta. A homossexualidade global é tida por alguns como algo “forçado”, mas na verdade representa uma parcela da sociedade existente e que também merece seu espaço. Antes focadas nas mais jovens e adultas, as próximas lésbicas das novelas terão mais idade. Afinal, elas envelhecem e suas vidas não param por isso. “Sete Vidas”, de Lícia Manzo, promete trazer Regina Duarte como uma delas e mãe de filhos gerados por inseminação artificial com sua parceira, já falecida na história. Ótima oportunidade de conferir a “namoradinha do Brasil” numa personagem fora da “zona de conforto”, no horário das 18h. Contudo, será Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga que prometem causar furor: o trio que escreve “Babilônia”, a próxima das 21h, incumbiu Fernanda Montenegro e Natália Timberg – duas das maiores atrizes do Brasil – como um casal homoafetivo, juntas há mais de 40 anos. Será curioso e ousado mostrar como é ser gay na terceira idade, algo do qual não se fala.

   
FOTO: GLOBO


   Finalizando, a homoafetividade lésbica na TV chegou para ficar. Mulheres essas que dão tônica a toda uma segmentação em nossa sociedade que sempre é tida e vista como preceitos de “cama, mesa e banho”. Jovens, maduras, idosas, revolucionárias, polêmicas ou seja lá que definições elas tenham, é o que tem pra hoje. Portanto viva e assista elas se libertarem.