Priscila Silva
Para começar nossa coluna com o pé
direito, entrevistamos quatro mulheres que estão entre os organizadores de um movimento
intitulado FEIRA GRÁTIS DA GRATIDÃO. Segundo
as organizadoras Wellem Christina, Marcele Muniz, Carolina Machado e Danielly Sierra, o movimento teve início originalmente na Argentina e
foi se espalhando pelo mundo, chegando ao Rio de Janeiro. “Quem trouxe
essa ideia para o Rio foi o Francisco Ottoni através de um vídeo que ele
assistiu de uma Feira que acontecia no Chile. A primeira edição presencial
aconteceu no dia 29/12/2012 na Praça São Salvador, Laranjeiras. A divulgação
foi realizada pela internet e cada vez mais ela tem se expandido para outros
estados”, explica Marcele. A Feira
Grátis Da Gratidão promove eventos onde o lema é “doe o quiser ou nada,
pegue o quiser ou nada.”, com o objetivo de promover interação entre o maior
número de pessoas possíveis, trocando objetos (roupas, livros, brinquedos,
etc.) não mais utilizados pelos participantes e o mais importante, segundo
elas, trocando energias e doações imateriais (abraços, conversas, massagens,
apresentações artísticas, etc.). Tudo acontece sem fins lucrativos, ninguém
paga nada por nenhum objeto ou serviço, e não está ligado à nenhuma instituição
ou partido político. Além dos eventos presenciais, o movimento mantém um grupo
na internet, concentrando hoje mais de doze mil membros, e onde as doações
também acontecem, além da liberdade de poder fazer pedidos de algo que se
necessite.
Mais informações sobre a Feira, bem
como agenda de eventos e contato com o grupo, o movimento possui uma página no facebook.
Confira abaixo a entrevista realizada
com elas e conheça um pouco mais sobre o projeto:
Qual a filosofia e os valores da Feira Grátis da gratidão?
Marcele: A filosofia da Feira Grátis da
Gratidão é a diminuição do consumismo desenfreado da era globalizada em que
vivemos. Os valores que norteiam a Feira são: troca
de experiências, habilidades, energias e pertences que merecem ser
compartilhados. Não há como pensar em mudança de hábitos sem refletir também
sobre uma transformação interna e a proposta do evento inclui pensar no
desapego e no valor das relações, dos sentimentos.
Wellem: Todos
somos abundantes.E quando descobrimos essa abundância é fácil desapegar de
qualquer coisa. É fácil ajudar.Juntos crescemos. Juntos fazemos. Juntos somos.Os
valores são amor, gratidão, gentileza, respeito.
A organização da Feira
na internet foi pensada junto com os eventos ou aconteceu depois?
Carolina: A criação do grupo online da Feira
Grátis se deu com a ideia de divulgar as feiras presenciais. Acabou tomando uma
proporção maior que a esperada pelos organizadores e hoje tentamos voltar ao
presencial de forma que a troca saia do virtual para rolar uma troca de energia
mais legal ainda, ainda que o grupo seja uma ótima plataforma para as pessoas se
conhecerem e fazer amigos.
Em
qual das duas modalidades há mais participação ativa, na presencial ou virtual?
Quais as diferenças entre ambas?
Marcele: Sem
dúvida a participação ativa acontece na Feira presencial. Na Feira presencial
além dos desapegos materiais rolam os desapegos imateriais, que para mim são o
melhor. Ha uma interação muito grande entre os participantes. Fiz muitas
amizades novas.
Carolina: Nas feiras presenciais a
participação é mais ativa porque condiz mais com a ideia da feira, a troca
imaterial é infinitamente maior.
Vocês
acham que a Feira pode trazer uma nova visão de mundo às pessoas, uma opção em
detrimento ao sistema capitalista instaurado no mundo?
Danielly: Acreditamos que iniciativa é a base de
tudo. Não é fácil atingir o mundo, não é fácil atingir sequer as pessoas que
estão a nossa volta, mas acreditamos piamente que depois que as pessoas vão na
feira elas saem de lá com pelo menos uma mensagem de esperança no coração e uma
mudança de comportamento para com o sistema.
Marcele: O que tenho visto muito pelas Feiras
é a participação de famílias inteiras e o conceito sendo passado para as
crianças desde pequenas. A reação de pessoas que passam no local e nunca tinham
ouvido falar no evento e não acreditam que tudo é de graça. Participam, passam
a nos acompanhar pela página e voltam trazendo vizinhos, amigos e familiares.
Passam a fazer novas Feiras nas garagens de suas casas, colégio, local de
trabalho.
Qual
a contribuição social que os eventos trazem aos participantes?
Marcele: Existe a interação de todas as
classes sociais, raça e credos. O respeito que existe no ambiente é algo
incrível. Acabamos fazendo muitas parcerias com pessoas que ajudam a
instituições e comunidades carentes. A doação de serviços também é uma ação global
de contribuição social.
A
feira tem se espalhado por outros estados do Brasil. Vocês têm ideia de em
quantos estados ela já acontece?
Wellem: Claro. Tem em SP, RJ, MA,
CE, ES, MG, DF. BA.
Danielly: Estou
incentivando minha irmã, que mora no Mato Grosso a fazer uma lá, quem sabe não
será a próximo estado a fazer...
A
que se deve esse sucesso?
Carolina: À ideia inovadora da feira grátis. É
muito difícil lidar com o sistema capitalista a que estamos submetidos, tão
difícil quanto tomar uma atitude para lutar contra ele. Imagino que se deparar
com a ideia da feira afete a grande maioria das pessoas que a conhece, de modo
a repensar o mundo de uma maneira muito boa.
Quantos organizadores tem o evento no
Rio? Quantos deles são mulheres?
Carolina: Organizadores temos muitos, qualquer
um pode organizar uma FGG. Mas somos 11 ou 12 que nos encontramos para decidir
alguns rumos da feira. Dentre esses, 7 são mulheres. Mas na maioria das
organizações por fora deste grupo da feira, são mulheres que organizam.
Vocês,
mulheres, como se sentem estando entre os organizadores de um projeto dessa
grandeza?
Carolina: Me
sinto muito acarinhada. Os meninos são super carinhosos, falam com frequência
que a sensibilidade feminina é fundamental pra nossa ideia progredir. Acho
importante também que não há hierarquia nenhuma na feira, então não tem essa
disputa de valores patriarcais ou feministas.
Vocês
acham importante as mulheres se posicionarem ativamente e serem engajadas,
tanto política quanto socialmente no país? Por quê?
Marcele: Sim
importantíssimo. Nos tempos atuais ainda vemos obstáculos a serem contornados
pelo preconceito histórico, porém a mulher cada vez mais tem mostrado como além
de inteligência emocional exerce brilhantemente a múltipla jornada que lhe é
conferida.
Danielly: Acredito que a mulher já é engajada,
já está em um posicionamento igualitário aos homens, claro, que existe ainda
muito preconceito, o mundo precisa enxergar a mulher independente do seu “sexo.
Carolina: Se me sinto acarinhada pela
valorização da sensibilidade feminina na Feira Grátis da Gratidão é porque em
muitos outros lugares ainda me sinto demasiadamente desrespeitada. Ainda temos
muito a conquistar.
Wellem: Acho importante
sim. Mas acho que vai da escolha de cada um.