sábado, 11 de outubro de 2014

MULHER MANIFESTO: FEIRA GRÁTIS DA GRATIDÃO

Priscila Silva

Para começar nossa coluna com o pé direito, entrevistamos quatro mulheres que estão entre os organizadores de um movimento intitulado FEIRA GRÁTIS DA GRATIDÃO. Segundo as organizadoras Wellem Christina, Marcele Muniz, Carolina Machado e Danielly Sierra, o movimento teve início originalmente na Argentina e foi se espalhando pelo mundo, chegando ao Rio de Janeiro. “Quem trouxe essa ideia para o Rio foi o Francisco Ottoni através de um vídeo que ele assistiu de uma Feira que acontecia no Chile. A primeira edição presencial aconteceu no dia 29/12/2012 na Praça São Salvador, Laranjeiras. A divulgação foi realizada pela internet e cada vez mais ela tem se expandido para outros estados”, explica Marcele. A Feira Grátis Da Gratidão promove eventos onde o lema é “doe o quiser ou nada, pegue o quiser ou nada.”, com o objetivo de promover interação entre o maior número de pessoas possíveis, trocando objetos (roupas, livros, brinquedos, etc.) não mais utilizados pelos participantes e o mais importante, segundo elas, trocando energias e doações imateriais (abraços, conversas, massagens, apresentações artísticas, etc.). Tudo acontece sem fins lucrativos, ninguém paga nada por nenhum objeto ou serviço, e não está ligado à nenhuma instituição ou partido político. Além dos eventos presenciais, o movimento mantém um grupo na internet, concentrando hoje mais de doze mil membros, e onde as doações também acontecem, além da liberdade de poder fazer pedidos de algo que se necessite.

Mais informações sobre a Feira, bem como agenda de eventos e contato com o grupo, o movimento possui uma página no facebook.

Confira abaixo a entrevista realizada com elas e conheça um pouco mais sobre o projeto:

Qual a filosofia e os valores da Feira Grátis da gratidão?

Marcele: A filosofia da Feira Grátis da Gratidão é a diminuição do consumismo desenfreado da era globalizada em que vivemos. Os valores que norteiam a Feira são: troca de experiências, habilidades, energias e pertences que merecem ser compartilhados. Não há como pensar em mudança de hábitos sem refletir também sobre uma transformação interna e a proposta do evento inclui pensar no desapego e no valor das relações, dos sentimentos.

Wellem: Todos somos abundantes.E quando descobrimos essa abundância é fácil desapegar de qualquer coisa. É fácil ajudar.Juntos crescemos. Juntos fazemos. Juntos somos.Os valores são amor, gratidão, gentileza, respeito.

A organização da Feira na internet foi pensada junto com os eventos ou aconteceu depois?

Carolina: A criação do grupo online da Feira Grátis se deu com a ideia de divulgar as feiras presenciais. Acabou tomando uma proporção maior que a esperada pelos organizadores e hoje tentamos voltar ao presencial de forma que a troca saia do virtual para rolar uma troca de energia mais legal ainda, ainda que o grupo seja uma ótima plataforma para as pessoas se conhecerem e fazer amigos.

Em qual das duas modalidades há mais participação ativa, na presencial ou virtual? Quais as diferenças entre ambas?

Marcele: Sem dúvida a participação ativa acontece na Feira presencial. Na Feira presencial além dos desapegos materiais rolam os desapegos imateriais, que para mim são o melhor. Ha uma interação muito grande entre os participantes. Fiz muitas amizades novas.

Carolina: Nas feiras presenciais a participação é mais ativa porque condiz mais com a ideia da feira, a troca imaterial é infinitamente maior.

Vocês acham que a Feira pode trazer uma nova visão de mundo às pessoas, uma opção em detrimento ao sistema capitalista instaurado no mundo?

Danielly: Acreditamos que iniciativa é a base de tudo. Não é fácil atingir o mundo, não é fácil atingir sequer as pessoas que estão a nossa volta, mas acreditamos piamente que depois que as pessoas vão na feira elas saem de lá com pelo menos uma mensagem de esperança no coração e uma mudança de comportamento para com o sistema.

Marcele: O que tenho visto muito pelas Feiras é a participação de famílias inteiras e o conceito sendo passado para as crianças desde pequenas. A reação de pessoas que passam no local e nunca tinham ouvido falar no evento e não acreditam que tudo é de graça. Participam, passam a nos acompanhar pela página e voltam trazendo vizinhos, amigos e familiares. Passam a fazer novas Feiras nas garagens de suas casas, colégio, local de trabalho.

Qual a contribuição social que os eventos trazem aos participantes?

Marcele: Existe a interação de todas as classes sociais, raça e credos. O respeito que existe no ambiente é algo incrível. Acabamos fazendo muitas parcerias com pessoas que ajudam a instituições e comunidades carentes. A doação de serviços também é uma ação global de contribuição social.

    A feira tem se espalhado por outros estados do Brasil. Vocês têm ideia de em quantos estados ela já acontece?

Wellem: Claro. Tem em SP, RJ, MA, CE, ES, MG, DF. BA.

Danielly: Estou incentivando minha irmã, que mora no Mato Grosso a fazer uma lá, quem sabe não será a próximo estado a fazer...

A que se deve esse sucesso?

Carolina: À ideia inovadora da feira grátis. É muito difícil lidar com o sistema capitalista a que estamos submetidos, tão difícil quanto tomar uma atitude para lutar contra ele. Imagino que se deparar com a ideia da feira afete a grande maioria das pessoas que a conhece, de modo a repensar o mundo de uma maneira muito boa.


Quantos organizadores tem o evento no Rio? Quantos deles são mulheres?

Carolina: Organizadores temos muitos, qualquer um pode organizar uma FGG. Mas somos 11 ou 12 que nos encontramos para decidir alguns rumos da feira. Dentre esses, 7 são mulheres. Mas na maioria das organizações por fora deste grupo da feira, são mulheres que organizam.

Vocês, mulheres, como se sentem estando entre os organizadores de um projeto dessa grandeza?

Carolina: Me sinto muito acarinhada. Os meninos são super carinhosos, falam com frequência que a sensibilidade feminina é fundamental pra nossa ideia progredir. Acho importante também que não há hierarquia nenhuma na feira, então não tem essa disputa de valores patriarcais ou feministas.

Vocês acham importante as mulheres se posicionarem ativamente e serem engajadas, tanto política quanto socialmente no país? Por quê?

Marcele: Sim importantíssimo. Nos tempos atuais ainda vemos obstáculos a serem contornados pelo preconceito histórico, porém a mulher cada vez mais tem mostrado como além de inteligência emocional exerce brilhantemente a múltipla jornada que lhe é conferida.

Danielly: Acredito que a mulher já é engajada, já está em um posicionamento igualitário aos homens, claro, que existe ainda muito preconceito, o mundo precisa enxergar a mulher independente do seu “sexo.

Carolina: Se me sinto acarinhada pela valorização da sensibilidade feminina na Feira Grátis da Gratidão é porque em muitos outros lugares ainda me sinto demasiadamente desrespeitada. Ainda temos muito a conquistar.


Wellem: Acho importante sim. Mas acho que vai da escolha de cada um.