segunda-feira, 27 de outubro de 2014

SEGUNDA TELA: O mestre Jô Soares e o seu discípulo Danilo Gentili

Jean Pierry Leonardo


   O gênero dos Talk-shows no Brasil sempre foi algo inovador. Formato muito bem distribuído na TV americana, os maiores expoentes do gênero na América sempre foram os indefectíveis David Letterman, Larry King, Jimmy Fallon, Ellen Degeneres, Oprah Winfrey, entre tantos outros já consagrados. E como na telinha nada se cria, tudo se copia – salve, Chacrinha pela frase! – eis que esse tipo de atração chega por aqui no Brasil. Dono de uma carreira que dispensa apresentações, Jô Soares despiu-se de seus personagens de ‘’Viva o Gordo’’ e o ‘’Capitão Gay’’, por exemplo, e embarcou nessa nova empreitada profissional. Assim como Rei Midas, em que tudo que tocava se transformava em ouro, Jô conseguiu imprimir uma personalidade e características marcantes, naquilo que seria o primeiro tipo de Talk-Show –  também chamado de Late Show – em nossa programação aberta.

   Dono de uma cultura, estilo, bom humor, simpatia e outros adjetivos bem personificados, rapidamente ele consegue alcançar sucesso, o que já na altura de uma vasta carreira, não seria novidade, frente ao seu ‘’ Jô Soares Onze e Meia’’, no fim dos anos 80, no SBT. Após 11 anos, era hora de mudar. Logo, no começo dos anos 2000, o apresentador foi contratado pela Rede Globo, para dar continuidade ao que melhor sabia fazer. Conclusão: o que era bom, ficou melhor ainda. O ‘’Programa do Jô’’ ganhou mais visibilidade e importância, dando um ar ‘’cult’’ ao quem assistia e premiando quem queria se distrair por ter perdido o sono, diante da TV. Dessa maneira, Jô Soares fincou raízes em late-night e por anos tornou-se quase unanimidade e exceção nesse tipo de trabalho em nossa TV.

   Melhor dizendo, era o único. Como referência de um bom trabalho e profissional, ‘’o gordo’’ tornou-se espelho para muitos outros talentos que viam nele quem queriam ser quando crescessem. Assim, mesmo sem saber – ou ter essa responsabilidade – o ‘’Mestre Jô’’ capacitou bem seu principal ‘’discípulo’’: Danilo Gentili. Com apenas 35 anos, o paulista de Santo André, começou a carreira como apenas mais um integrante daqueles homens de terno e óculos escuros do CQC (Custe o Que Custar), da Band. Mas aquilo era pouco. Logo a emissora do Morumbi viu nele a sua ‘’galinha dos ovos de ouro’’ e resolveu dar-lhe a chance de provar que era tudo aquilo mesmo. Nascia o ‘’Agora é Tarde’’. Assim como Jô, Danilo tem uma veia cômica, um humor negro e politização bem presentes como qualidades e foi dessa maneira que ele não precisou de muito para alcançar o gosto bom do sucesso. Seu programa, por inúmeras vezes, chegou a liderança no Ibope e animou os diretores da Band. Mas a relação estremeceu com certas intromissões vindas de cima para baixo, e Danilo saiu. Com passe valorizado, Sílvio Santos não perdeu tempo e o levou para a Anhanguera. Resultado: foi melhor do que, ambos, esperavam. O ‘’The Noite com Danilo Gentili’’ é uma clara referência ao programa de David Letterman, com uma pitada de Jimmy Fallon. O cenário entrega as referências. Só que não é bem assim. Gentili já declarou diversas vezes que Jô é seu maior exemplo, e estar sentado numa cadeira de Talk Show, na emissora em que por anos o seu ‘’Mestre’’ se consagrou, era o ponto alto de sua – curta – trajetória frente as câmeras. Entender o sucesso de tudo, passa por seu jovem comandante, pois é justamente essa ‘’insanidade’’, com jeito de menino do interior, rebelde sem causa, que dá a leveza e descontração necessária para conquistar os jovens, principalmente, e também os adultos pela madrugada afora, quando ele entra no ar.

   Finalizando, nunca Jô Soares pensaria que teria alguém tão novo, e tão talentoso, roubando-lhe o protagonismo e mais de 2.000 horas de liderança, naquilo que ele sempre reinou absoluto e, praticamente, fundou em nossa programação. Mais comedido e reservado nas palavras, ele não declara paixões por sua ‘’cria’’. Mas não é por mal. No fundo, ele sabe que plantou sementes, e a melhor safra já deu bom fruto. Onde quem ganha com tudo isso chama-se telespectadores, que insones durante a semana, tem a garantia de boas risadas e companhia antes de dormir.