segunda-feira, 20 de outubro de 2014

SEGUNDA TELA: Gays de Império voltam para o "armário"

Jean Pierry Leonardo

   Na novela Império, de Aguinaldo Silva, encontra-se muitos personagens gays, em diversos núcleos. Desde a criação da sinopse da trama, o novelista dizia que essa seria a "novela com o maior número  de gays na TV’’. De fato é uma delas, sim. Porém, o que inicialmente seria mais um "boom", em termos de audiência e credibilidade com o telespectador, embalados pelos últimos exemplos do horário nobre – Félix em "Amor à Vida" e Clara e Marina de "Em Família", respectivamente, de Walcyr Carrasco e Manoel Carlos – acabou tornando-se um balde de água fria nas pretensões de Aguinaldo Silva. Apostando nos enredos do bissexual Claudio Bolgari (José Mayer), que mesmo casado com Beatriz (Suzy Rêgo), mantinha um caso de anos com Leonardo (Klebber Toledo), nos posts e comentários maldosos de Téo Pereira (Paulo Betti) em seu blog, na alegria e drama do cabeleireiro Xana Summer ( Aílton Graça) – e por que não, na homofobia de Enrico (Joaquim Lopes), perante seu pai – nada parece ter funcionado muito bem. Pelo menos para a Rede Globo. Sabendo da acidez, com pitadas de humor negro e críticas sociais, do pernambucano Aguinaldo, a emissora carioca ficou assustada com a maneira ousada de algumas cenas da trama, e proibiu que muitas delas fossem levadas ao ar, da maneira como foram escritas, e planejadas. Ainda que tenha dado um passo bastante considerável – e moderno – em sua nova gestão administrativa, a Rede Globo ainda não quer comprometer-se com parte do seu público ainda conservador, que reluta em deparar-se com dois homens ou duas mulheres, trocando carinhos mais íntimos, diante da TV em suas novelas. 
   
   Conclusão: inúmeras cenas, como três beijos entre Claudio e Leonardo, além de alguns palavrões, tiveram que sofrer alterações durante a edição. Aliás, o limbo atingiu até mesmo casais heterossexuais de Império, pois o casal José Alfredo (Alexandre Nero) e Maria Ísis (Marina Ruy Barbosa) também viram seus calorosos encontros, menos intensos. Revoltado pela intromissão em seu trabalho, o dramaturgo Aguinaldo Silva resolveu ‘’mandar pro armário’’ todos os personagens gays de sua trama. Ou seja, vai acabar com todos eles. Afinal, se não pode representá-los da maneira que ele deseja, então os mesmo também já não tem mais suas funções primordiais a serem cumpridas. Com isso a situação ficará a seguinte, pelos próximos capítulos, segundo informações já divulgadas:

   Claudio Bolgari – voltará a relacionar-se apenas com sua atual companheira, Beatriz.
   
   Leonardo – vai virar mendigo na trama. Após o caso com Claudio, verá em Amanda (Adriana Birolli), uma nova companhia amorosa.

   Xana – deixará claro que não é gay, e sim crossdresser (um homem que gosta de se vestir e viver como mulher). Nada foi confirmado, mas pode vir a ter um relacionamento com Naná (Viviane Aaraújo).

  Téo Pereira – será envenenado e morrerá. Desafeto de muitos personagens, vai movimentar um ‘’Quem matou?’’, em Império. Maria Marta (Lília Cabral), Claudio, Robertão (Rômulo Neto), Érika (Letícia Birkheuer) e Leonardo serão os principais suspeitos.

  O que se pode finalizar depois de tantos acontecimentos, é que a ordem na Rede Globo é dar um passo de cada vez na questão homossexual. Sem muita ousadia para não ‘’assustar’’, mas também sem desconsiderar esse importante nicho social, que cada vez mais cresce  na teledramaturgia e é um caminho sem volta. Seja para o bem ou para o mal. Contudo, Império ficou limitada nessa perspectiva, seja pela resistência global ou pela audácia da autoria, onde quem saiu perdendo foi telespectador – menos conservador.