19/02/16 - Coluna: Última Nota Autor: Jean Pierry Leonardo
Depois de um hiato de quatro anos longe dos palcos e do mundo da música, pretensiosamente tirada após ter seu primeiro filho, Adele retornou no findar de 2015 com um novo trabalho, “25”. Após o retumbante “21”, em que cantou toda a sofreguidão causada pelo término de uma relação - e que a colocou no seleto hall das maiores novidades e revelações da última década – mais uma vez a britânica canta com o coração. Sim, em “25” ela ainda mostra que seus sentimentos são extremamente fortes, a deixa fragilizada, vulnerável e sensível. Mas se anteriormente ela mostrou-se rendida, dessa vez ela volta por cima. Madura e segura de si. Sabendo dar a volta por cima, aprendendo a lidar com as perdas, com as dores, com as marcas causadas pela saudade e também humilde, ao enxergar em alguém do passado (seu ex) um amigo, e não inimigo. “Hello, it’s me”. Hello, it’s Adele.
Com apenas 27 anos, a inglesa mostra que cantar a
“sofrência” dá sim muito certo, as pessoas gostam de ouvir, se envolvem. Um
tiro certeiro no alvo, portanto, foi “25” – e todos aqueles que gerem a
carreira da cantora junto dela – terem escolhido a canção “Hello” como primeiro
single do novo álbum. Além de mostrar a que veio esse novo encarte de Adele, a
balada Soul chegou acompanhada de um clipe com efeitos, caprichosamente,
cinematográficos onde a britânica mostrou um outro lado de si: a atuação. Ponto
para o diretor Xavier Nolan, que gostou tanto da parceria com ela - e vice
versa - que brevemente a artista deve também fazer uma ponta num dos filmes do
diretor nos cinemas. Prova de todo esse sucesso e acerto foram os
impressionantes números alcançados pelo clipe/álbum: em 24 horas foram mais de
20 milhões de visualizações, superando o recorde que pertencia a Taylor Swift
por “Blank Space”. Após 1 mês, Hello já detinha mais de 700 milhões (!) de
views no YouTube, não demorando para quebrar mais um recorde e superar 1 bilhão
de visualizações (!!!) em apenas três meses. “When Where We Young” (novo single
e já no Top 20 da Billboard Hot 100, onde Hello ainda está no Top 10), “Water
Under the Bridge”, “All I Ask”, “Remedy” e tantos outros singles do CD, também
já fazem sucesso espontaneamente.
Além disso, a música esteve dez semanas em primeiro
lugar na Billboard Hot 100, a principal e mais importante parada musical dos
EUA que, de maneira geral, dá a tônica daquilo que mais está tocando por aí no
mundo também. Acha que parou por aí? Ledo engano. É de fato muito
impressionante todo esse efeito “25” causado pelo mundo, mas Adele conseguiu
superar a si mesmo. Só nos EUA, ao todo, a artista emplacou 4,1 milhões de
cópias físicas vendidas. Destes, foram 1 milhão de CDs em duas semanas
consecutivas. Jamais um/uma artista conseguiu vender em duas semanas diferentes
mais de 1 milhão de cópias no país de Obama. Isso só havia ocorrido, pela
última vez, nos anos 90. Numa era que não havia ainda todas essas redes sociais
e nem o serviço de streaming. Falando nisso, Adele mostra-se contra esse tipo
de serviço e não disponibilizou seu álbum e suas músicas para serem baixadas
pelos sites que realizam o serviço – principalmente por causa dos ‘‘piratas”.
Loucura? Insanidade? Erro? Nada disso. A atitude da cantora foi realmente
ousada, entretanto, ela mostrou que tem estrela e que ainda é possível vender
CDs sem apoiar-se em outros recursos fonográficos que, para ela, não interessam
e nem colaboram satisfatoriamente com o artista. Resultado: além das 4,1
milhões de cópias só nos EUA, ela também dominou as vendas do Reino Unido, seu
país. Superou os irmãos Gallagher do extinto Oasis e com mais de 800 mil
cópias, entrou para a História como a maior venda do mercado fonográfico da
terra da Rainha (que é menor do que o mercado americano e por isso os números costumam
ser diferentes), em uma semana. Natural que o interesse por tudo sobre ela
aumentasse. Assim, a BBC de Londres e a NBC, dos EUA, trataram logo de gravar
especiais com a cantora, todos já televisionados com audiências enormes. A
Academia fonográfica idem. Adele apresentou-se na última segunda feira (15/02),
durante a premiação do Grammy Awards 2016, ao som de “All I Ask”, composta
junto com Bruno Mars. Também cresceram a procura por ingressos e informações
pela turnê mundial de Adele, que será a sua primeira, já que ela teve problemas
na voz durante o “21”, tendo que interromper os shows. Tímida e com
dificuldades em apresentar-se para platéias muito grandes, não teve jeito.
Adele teve que render-se à expectativa e demanda causadas e aceitou realizar
shows de sua turnê em estádios, onde cabem mais espectadores. Ao todo serão 38
shows, já confirmados em sua agenda, que percorrerão países da Europa e no meio
do ano chegará aos EUA. Ainda não há previsão para sua vinda ao Brasil ou para
a América do Sul.
Com muitas especulações ao longo dos quatro anos
fora dos holofotes, sem maiores informações, sem notícias do que fazia, sem
usar redes sociais, Adele conseguiu mais uma vez se portar como uma grande
estrela. Sem sentir-se uma estrela. Sem aparecer em capas de revistas – ou
fazer de tudo para isso -, sem expor seu filho aos tablóides e revistas mundo
afora, sem querer mostrar que achou uma “dieta milagrosa” que a fez emagrecer e
servir de exemplo para outras tantas mulheres. Nada disso. Então, qual o segredo
de tamanho sucesso num meio tão disputado? Porque suas músicas fazem tanto
sucesso? Qual o seu diferencial? Porque ela vendeu e ainda vende tanto em tão
pouco tempo? A resposta de tudo isso é simples. Adele mostra que é “gente como
a gente” e não faz de sua profissão, de seus status, de seus recordes, números
e fortuna algo tão importante. Ela não preocupa-se com o número de CDs que
serão vendidos, ainda que saiba que hoje em dia só sobrevive no mercado quem
vende mais. Também não quer saber de paradas musicais ditando o ritmo daquilo
que ela tem que produzir para virar hits em baladas ou programas de TV. Ela faz
o que acha que é importante para si.
Num meio facilmente deslumbrante, a cantora imprime
uma marca muito interessante e difícil para quem afirma-se, não por si mesma,
mas por um conjunto de elementos pessoais e profissionais, como a maior cantora
do mundo. Caracterizada dentro daquilo que os americanos chamam de “Star
Quality” (Qualidade de Estrela), Adele canaliza e detém uma personalidade e jeito
que a aproxima de seus fãs de maneira muito familiar. A artista, além de
rejeitar qualquer tipo de rótulos e detestar a fama e toda a sua glamourização,
quer apenas poder levar uma mensagem para quem a ouve. Quer mostrar que ela
também sofre, que ela também ama, que ela também sabe pedir perdão. Que ela é
como todos nós. Essa barreira inexistente que ela reforça a todo o momento
entre si e seu público é o seu segredo. É saber que tudo aquilo que tem ou faz,
não é mais importante de quem está do outro lado. Ou por detrás de todo um
sistema que vê seu trabalho apenas pelo lado comercial.
Lançado em 20 de novembro passado, “25” marca uma
nova fase na vida da cantora. A fase em que ela sabe o que quer, a fase em que
não tem mais medo de sofrer por amor. Ou que pelo menos aprendeu a lidar com
suas cicatrizes. Para corroborar porque 2015 foi o ano de Adele e porque ela
consagra-se como a maior cantora do mundo, atualmente. A artista encerrou o ano
de 2015 sendo capa de uma das mais importantes e conceituadas revistas do
mundo: a revista Times. Numa sincera entrevista, Adele afirma que não tem medo
de expor seus sentimentos. Que para ela é mais importante mostrar que é frágil,
que chora, que tem defeitos, que não sabe lidar ou tenta lidar com emoções e
sentimentos, do que mascarar tudo isso para passar uma imagem que não pertence
a si. Essa verossimilhança é o norte de seu trabalho. É o melhor desequilíbrio
de sua pessoa. É o que faz de Adele uma artista tão singular, que agrada todos
os tipos de público: crianças, jovens, adultos e idosos. O que aumenta sua
responsabilidade como artista. Mas também determina que, melhor do que ter
público, é ter credibilidade.
Credibilidade que nos deixa com a certeza de que temos uma nova estrela no mundo da música. Estrela britânica, de farto talento, voz poderosa, sorriso fácil e encantos mil.
Foto Adele 1:
Reprodução
Foto Adele 2: Reprodução/YouTube
Foto Adele 3: BBC Foto Adele 4: Reprodução/Time