domingo, 23 de novembro de 2014

DITADURA DA MAGREZA: NÃO SE TORNE UMA REFÉM!!



Dia desses houve uma manifestação curiosa em Brasília, em frente ao Congresso Nacional, que nos chamou a atenção. Quatro modelos plus size protestaram, vestidas apenas com peças íntimas, contra o que elas intitularam “gordofobia”.

ENTENDA O CASO:

        Das quatro modelos, duas tinham vindo de São Paulo, para se juntar às outras e participar de um ensaio fotográfico. Assim que chegaram para se hospedar em um hotel da região, um funcionário, na hora do chek-in, disse que se as duas iriam dormir na cama de casal, teria que verificar se caberiam as duas. Pois bem, com esta afirmação, elas sentiram-se ofendidas e resolveram protestar. Maquiadas, de salto alto, lingerie e faixas de misses, elas se posicionaram em frente ao Congresso, fotografaram e chamaram a atenção de todos. O objetivo, segundo as modelos, foi mostrar que não têm vergonha de quem são e do próprio corpo.


REPERCUSSÃO:

A atitude das modelos gerou muitas polêmicas, e opiniões diversas, principalmente nas redes sociais. Certamente a maior delas, custou a um policial militar do DF uma denúncia e investigação na corregedoria. O policial, que até então não teve sua identidade revelada ao grande público, postou comentários em sua rede social menosprezando a atitude das mulheres, fazendo comentários chulos e depreciativos à elas. As postagens foram apagadas minutos depois de publicadas, mas foi o suficiente para serem compartilhadas por centenas de usuários, que criaram mensagens públicas de repúdio à atitude do policial. Tal atitude que lhe renderá, inclusive, um processo judicial. Veja na imagem a postagem do policial:




A questão que o Mulher Manifesto de hoje vem levantar é: o que é a Ditadura da Magreza, como ela é propagada e influencia a opinião e comportamento de muitas pessoas, causando atitudes preconceituosas, como essa demonstrada acima, e os transtornos que ela pode causar.

Hoje posso ser acusada de advogar em causa própria. Quando postei a matéria sobre a manifestação das misses em minha página pessoal e na página do Manifesto, surgiram diversas opiniões. Dentre elas, a que me chamou a atenção foi uma que dizia que não achava certo também difundir a cultura da obesidade, que como nós bem sabemos, é uma doença séria. O Mulher Manifesto não tem essa intenção. Sabemos que obesidade é um caso sério, que causa grandes prejuízos a saúde física e mental de muitas mulheres. A Obesidade Mórbida é mais que um simples acúmulo de gordura corporal, é uma condição que pode gerar risco de vida. Essa doença pode ser a mola propulsora para o desenvolvimento de várias outras doenças e distúrbios de alto risco à saúde, como, por exemplo, Diabetes mellitus, hipercolesterolemia, complicações cardíacas, hipertensão arterial, problemas nas articulações (principalmente joelhos e coluna lombar, devido à sobrecarga de peso), apneia do sono, infertilidade, trombose venosa e depressão. Tais doenças muito favorecem a diminuição da expectativa de vida e a maioria delas não tem cura. Um dos parâmetros utilizados para avaliar ou determinar o nível de obesidade é o Índice de Massa Corporal (IMC). Esse índice é obtido dividindo-se o peso pelo quadrado da altura do indivíduo. Exemplo:
65 Kg/ (1,70)² = 22,5

De acordo com o valor do IMC, tem-se a seguinte classificação:
  • Menor que 18,5 -> abaixo do peso
  • Entre 18,5 e 24,5 -> peso normal
  • Entre 20,0 e 29,9 -> sobrepeso
  • Entre 30,0 e 34,9 -> Obesidade Grau I ou leve
  • Entre 35,0 e 39,9 -> Obesidade Grau II ou moderada
  • Acima de 40,0 -> Obesidade mórbida

Acho legítima a preocupação das pessoas ao redor de uma pessoa gordinha, com sobrepeso ou obesa. O problema é quando a sociedade se aproveita disso para camuflar preconceitos que seguem vivos. Na publicidade, na mídia, e na moda, em todos os lugares, sempre existe alguém para ditar o que é belo, e o que é feio; o corpo aceitável e o corpo contra o qual temos que “lutar”, e temos um “modelo” vendido de que apenas o corpo magro, sem nenhum traço de gorduras, curvas ou imperfeições é aceitável. Quanto ao resto, devem ser abominados. As roupas produzidas e mostradas nas passarelas são tamanho 36, as modelos mostradas nos comerciais de tv, belas e felizes, são magérrimas.

A DITADURA DA MAGREZA:

Pois bem, em contrapartida à propagação da cultura da obesidade que alguns levantaram, apresentamos a DITADURA DA MAGREZA, que nós tão bem conhecemos. E essa nos mostra o tempo todo corpos impossíveis de serem conquistados pela maioria das mulheres e nos diz que temos que ser iguais. E agora, vamos além, além dos quilos, temos uma outra imposição, crescente entre as jovens nos Estados Unidos. Não, aparentemente não bastam os poucos quilos, a pele perfeita, o cabelo liso e loiro, os olhos claros e amendoados, as unhas grandes e sempre pintadas, as sobrancelhas feitas, os pelos aparados, as rugas ausentes, a pele branca (não esqueçam desta, por favor), o nariz fino. Não bastam os cremes, esmaltes, maquiagens que consumimos e compramos todos os dias. Não, porque afinal de contas sempre podemos ser um pouco mais escravizadas pelo mundo. Então, que tal nos fazerem cada vez mais infelizes procurando um padrão irreal que agora dita que devemos não apenas ser magras, mas ter ainda um vão entre as coxas? Um vão, aliás, que os médicos já estão alertando, é uma questão de estrutura óssea, e a maior parte das mulheres nunca vai conseguir alcançar.

 E quem disse que é apenas a obesidade que traz risco à saúde, à vida e a autoestima das mulheres mundo afora? Cada vez mais, a ditadura da magreza vem fazendo vítimas.

Quem nunca ouviu falar em transtornos como a Bulimia, que é um distúrbio alimentar no qual uma pessoa oscila entre a ingestão exagerada de alimentos, com um sentimento de perda de controle sobre a alimentação, e episódios de vômitos ou abusos de laxantes para impedir o ganho de peso.

Sintomas de bulimia:

  • Preocupação excessiva com o peso e com a silhueta
  • Ter medo de ganhar peso
  • Perder o controle sobre o que come
  • Comer em excesso até sentir desconforto ou dor
  • Ir ao banheiro imediatamente após as refeições
  • Forçar o vômito após comer
  • Fazer uso de diuréticos e laxantes após comer
  • Usar suplementos diários de perda de peso.


Outra doença bem comum e que chega a casos extremos, levando inclusive, à morte é a anorexia, que é um transtorno alimentar caracterizado pelo medo que a pessoa tem de ganhar peso. Esse medo pode provocar problemas psiquiátricos graves. A pessoa anoréxica se olha no espelho e se vê obesa, embora esteja extremamente magra. Sendo, assim, pode decidir parar de comer, a fim de perder o peso que julga ter em excesso.



Sintomas da Anorexia:

  • ·         Perda de peso em um curto espaço de tempo;
  • ·         Depressão, ansiedade e irritabilidade;
  • ·         Exercícios físicos intensos e em excesso;
  • ·         Isolamento da família e amigos;
  • ·         Comer escondido;
  • ·         Amenorreia (interrupção do ciclo menstrual);
  • ·         Regressão de características femininas;
  • ·         Obsessão pelo peso corporal;
  • ·         Recusa em participar de refeições junto à família;
  • ·         Pele extremamente seca;
  • ·         Saltar refeições;
  • ·         Doenças frequentes;
  • ·         Fadiga;
  • ·         Sono excessivo.


Como dito, o nosso intuito não é promover a cultura da obesidade, mas sim mostrar os dois lados da moeda. Os dois extremos são perigosos, causam doenças e matam. O que o Mulher Manifesto quer retratar é que a beleza da mulher não deve ser restringida a padrões impostos, não podemos ser reféns desta indústria. Também queremos repudiar ao preconceito, que existe e por vezes é camuflado com certas brincadeirinhas e conselhos, que nós, mulheres mais cheinhas, tão bem conhecemos.

Para finalizar, a coluna teve uma breve entrevista com uma mulher, que como as misses na capital do país, não tem vergonha do próprio corpo. 


       
Aline Marinho é educadora infantil, mãe, tem 30 anos, e sempre conviveu com as gordurinhas a mais, que, segundo ela, nunca afetaram sua autoestima. O segredo, segundo Aline, está na atitude que temos em relação a nós mesmas. Confira:




Você sempre lidou com gordurinhas a mais. Isso, em algum momento te trouxe algum trauma ou arranhou sua autoestima?

Aline: Não!!! Sempre fui super bem resolvida com minhas gordurinhas a mais. Nunca deixei de fazer o que eu queria nem de ter quem eu queria pelo fato das gordurinhas a mais.

Como é viver numa sociedade que quer "determinar" padrões que julga aceitáveis? Como você encara esse preconceito que existe na mídia e na moda ainda?

Aline: Acho que tudo é questão de uma cabeça bem resolvida! O preconceito existe! Isso é fato! Mas cabe a mim determinar se isso me abala ou não! Como disse antes, tenho uma cabeça muito bem resolvida quanto a isso, me aceito do jeito que eu sou! Não sou mais ou menos bonita que a modelo magérrima que aparece na televisão! A verdade é que somos mulheres e sempre queremos mudar algo em nosso corpo, se estamos acima do peso queremos emagrecer, se estamos magrinhas de mais queremos mais peito, mais bumbum, enfim, a cabeça conta muito em relação a esses padrões pré-estabelecidos.

Qual o conselho para ser feliz e realizada, e conviver bem com nosso corpo, sem se importar com as influências dessa ditadura?

Aline: Acho que o principal conselho é se amar e se aceitar do jeito que você é!!!!! E principalmente SER FELIZ!!!!!