domingo, 16 de novembro de 2014

HIPOCRISIA BRASILEIRA: O CASO JULIEN BLANC









Há dias no Brasil, tivemos conhecimento sobre o caso do homem autodenominado “artista da sedução”, Julien Blanc, que vem causando polêmicas no mundo inteiro com o tour de suas palestras, ensinando os homens sobre como conquistar mulheres desrespeitando e usando violência física. Sim, infelizmente, foi exatamente isso que você leu. Julien chegaria ao Brasil em janeiro, para dar palestras em Florianópolis e no Rio de Janeiro.
Julien tem 25 anos e trabalha na empresa Real Social Dynamics. Ele se vende como um "artista da sedução", como aquele personagem do Will Smith no filme Hitch, O Conselheiro Amoroso. Só que em uma versão do mal. Em sua página pessoal, Julien explica, com uma chocante falta de constrangimento, como funcionam suas táticas que ele mesmo chama de "inapropriadas, ofensivas, mas efetivas". E conta também como treinou e aprimorou suas técnicas. É horrível.

Julien pondo em prática suas "técnicas."


Acho válida a mobilização feita para impedir que Julien Blanc, o “pegador profissional”, venha ao Brasil ensinar suas artimanhas intimidatórias sobre as mulheres. A cultura do estupro já é muito enraizada por aqui, onde o imaginário coletivo e destrutivo de submissão contra elas diz que o não é “talvez”, o talvez é “sim” e o sim é “sim, com tudo o que tem direito”.
Todos nós, com matizes mais ou menos impregnadas de Julien Blanc, precisamos olhar um pouco mais abaixo da pele de bom mocismo e reconhecer que precisamos caminhar muito. Como?
Olhando para o nosso desprezo sutil, que as vezes subestima a competência emocional ou intelectual de uma mulher, que estigmatiza clichês de “para casar” e “para transar”, que não gosta de admitir que — no fundo — pensa que mulher de respeito não pode usar decote para provocar os homens (“incapazes” de controlar seus ímpetos). E isso não é um pensamento apenas masculino. Tem muitas mulheres que também rotulam as outras de acordo com a roupa que vestem.
Um homem passa por uma mulher, percebe o decote generoso e toma o cabelo dela como quem laça um novilho e tira uma “casquinha” dos seios. O decote dela é somente a exaltação da beleza e não um lugar onde se coloca a mão sem ser convidado.
Então seremos todos anjinhos?
Não. Depois de conversar com a garota, considerar a pessoa que ela é, se está consensualmente disposta a avançar as casinhas no jogo da sedução até mão e seios se convidam numa mistura de sussurros, brincadeiras, sorrisos, charme e confiança mútua. Antes disso, qualquer coisa me parece um assalto à integridade física de outra pessoa.

É por isso que afirmo, no título do artigo, que sim, muito dessa polêmica em torno do caso, é hipocrisia. Muito do que ele prega já é visto nas grandes cidades brasileiras a torto e a direito. Só que Julien Blanc ganhou notoriedade no mundo, e cobra para disseminar uma cultura machista que por aqui, a maioria dos homens nem precisa de curso algum, porque já colocam em prática. Claro que não podemos generalizar, nem todos são assim, mas também não podemos fechar os olhos para a realidade da grande maioria. Tanto que o cenário é desastroso. Ele está vindo para o Brasil com agenda lotada, ou seja, há grupos de homens que entendem que a mentalidade da forçação de barra sobre as mulheres é legítima porque, em muitos casos, funciona.

Algumas instruções do "curso de sedução".
Quero deixar claro que eu também repudio Julien Blanc, acho que ele deva mesmo ser vetado de vir ao país. Mas, por vezes, a mesma sociedade que critica é a que tolera comportamentos como os que ele prega como “normais” no dia-a-dia. Imagine a hipérbole desse repúdio público. Seria uma medida que esvaziaria todas as baladas, bares, restaurantes e ruas em que esse tipo de pegada no cangote ou puxada no cabelo é muito comum.

Seríamos todos extraditados juntos com o Julien.