Há dias no Brasil, tivemos conhecimento sobre o caso
do homem autodenominado “artista da sedução”, Julien Blanc, que vem causando
polêmicas no mundo inteiro com o tour de suas palestras, ensinando os homens
sobre como conquistar mulheres desrespeitando e usando violência física. Sim,
infelizmente, foi exatamente isso que você leu. Julien chegaria ao Brasil em
janeiro, para dar palestras em Florianópolis e no Rio de Janeiro.
Julien tem 25 anos e trabalha na empresa Real Social
Dynamics. Ele se vende como um "artista da sedução", como aquele
personagem do Will Smith no filme Hitch, O Conselheiro Amoroso. Só que em uma
versão do mal. Em sua página pessoal, Julien explica, com uma chocante falta de
constrangimento, como funcionam suas táticas que ele mesmo chama de
"inapropriadas, ofensivas, mas efetivas". E conta também como treinou
e aprimorou suas técnicas. É horrível.
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Julien pondo em prática suas "técnicas." |
Acho válida a mobilização feita para
impedir que Julien Blanc, o “pegador profissional”, venha ao Brasil ensinar
suas artimanhas intimidatórias sobre as mulheres. A cultura do estupro já é
muito enraizada por aqui, onde o imaginário coletivo e destrutivo de submissão
contra elas diz que o não é “talvez”, o talvez é “sim” e o sim é “sim, com tudo
o que tem direito”.
Todos nós, com matizes mais ou menos
impregnadas de Julien Blanc, precisamos olhar um pouco mais abaixo da pele de
bom mocismo e reconhecer que precisamos caminhar muito. Como?
Olhando para o nosso desprezo sutil,
que as vezes subestima a competência emocional ou intelectual de uma mulher,
que estigmatiza clichês de “para casar” e “para transar”, que não gosta de
admitir que — no fundo — pensa que mulher de respeito não pode usar decote para
provocar os homens (“incapazes” de controlar seus ímpetos). E isso não é um
pensamento apenas masculino. Tem muitas mulheres que também rotulam as outras
de acordo com a roupa que vestem.
Um homem passa por uma mulher, percebe
o decote generoso e toma o cabelo dela como quem laça um novilho e tira uma
“casquinha” dos seios. O decote dela é somente a exaltação da beleza e não um
lugar onde se coloca a mão sem ser convidado.
Então seremos todos anjinhos?
Não. Depois de conversar com a garota,
considerar a pessoa que ela é, se está consensualmente disposta a avançar as
casinhas no jogo da sedução até mão e seios se convidam numa mistura de
sussurros, brincadeiras, sorrisos, charme e confiança mútua. Antes disso,
qualquer coisa me parece um assalto à integridade física de outra pessoa.
É por isso que afirmo, no título do
artigo, que sim, muito dessa polêmica em torno do caso, é hipocrisia. Muito do
que ele prega já é visto nas grandes cidades brasileiras a torto e a direito.
Só que Julien Blanc ganhou notoriedade no mundo, e cobra para disseminar uma
cultura machista que por aqui, a maioria dos homens nem precisa de curso algum,
porque já colocam em prática. Claro que não podemos generalizar, nem todos são
assim, mas também não podemos fechar os olhos para a realidade da grande
maioria. Tanto que o cenário é desastroso. Ele está vindo para o Brasil
com agenda lotada, ou seja, há grupos de homens que entendem que a mentalidade
da forçação de barra sobre as mulheres é legítima porque, em muitos casos,
funciona.
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Algumas instruções do "curso de sedução". |
Seríamos todos extraditados juntos com
o Julien.