segunda-feira, 17 de novembro de 2014

SEGUNDA TELA: REPRESENTAÇÃO NEGRA NA TV



   







    Na semana do feriado de Zumbi dos Palmares, em que comemoramos o Dia da Consciência Negra, vale uma reflexão acerca do espaço do Negro na TV. Por muito tempo nos acostumamos a ver atores negros, nas novelas, em personagens pequenos ou subalternos. Mais que isso: estereotipados. Talvez um certo resquício do preconceito que sempre existiu em nossa sociedade – ainda que a maioria da população brasileira seja negra – mas que aos poucos, vem se modificando. Cada vez mais podemos observar que cresce o número de artistas e personagens negros nas tramas e outras produções. Se anteriormente os mesmos, na maioria das vezes, sempre ocupavam papéis de destaque em histórias que tratavam do Abolicionismo, escravidão ou até mesmo com profissões do tipo empregadas domésticas, porteiros e bandidos, hoje o panorama se alterou – um pouco. 



  Recentemente, a novela “Em Família”, de Manoel Carlos, levou variados tipos e formas de inserções dos negros na sociedade, de maneiras distintas, como a estudante de classe média e aspirante a policial Alice (Érika Januza), sua mãe e enfermeira Neidinha (Neide Duarte) e seu ex-namorado Matias (Jorge Sá), do núcleo da faculdade. Tínhamos também a Professora Dulce (Lica Oliveira), o malandro Jairo (Marcelo Mello Jr), o enfermeiro Téo (Rafael Zulu) e, por fim, a empregada Rosa (Tânia Toko). Todos sem caricaturas e sem foco exclusivo no preconceito racial como puxador de suas histórias – mérito do autor que também já fizera isso com Taís Araújo como sua Helena em “Viver a Vida” (2009). Aliás, a própria Taís talvez seja a mais fidedigna representante daqueles que sempre conseguiram romper – com muito talento, diga-se de passagem – a barreira de sua cor e alcançaram destaques em seus trabalhos. Em seu último trabalho, “Geração Brasil”, ela foi a competente jornalista Verônica. Outros também ali presentes  foram Lázaro Ramos (Brian Benson)-  sempre uma exceção -  e Luis Miranda (Dorothy Benson), fora os atores do núcleo da Gambiarra, Nando Cunha e Max Lima. 



   Na novela “Vitória”, da “Rede Record”, Rocco Pitanga é o treinador de cavalos do Haras que dá nome a trama, entre outros. De volta a “Rede Globo”,  “Império” tem Cris Vianna como Rainha de Bateria, Viviane Araújo de manicure, Aílton Graça de Crossdresser (homem que veste-se e vive como mulher). No rastro de todo esse espaço cênico para os negros na Televisão, e a maneira como são imputadas suas colocações nela, teve há muito pouco tempo atrás uma grande polêmica – sem maiores necessidades – centralizada em torno de “Sexo e As Negas”. A série de Miguel Falabella é protagonizada por quatro atrizes negras que dão vida a jovens mulheres de uma comunidade carioca que não hesitam em manterem relacionamentos fugazes, envolto de muito sexo, com os rapazes que aparecem.  Polêmicas a parte, o que vale ressaltar é a maestria de Falabella em abrir espaço para que diversos e talentosos artistas, pudessem ter a chance real de mostrarem seu valor.  O fato é que a iminência da Classe C, a maior escolaridade da população e a maior valorização da cultura negra, fazem com que haja a necessidade desse telespectador sentir-se representado quando liga a TV. Com isso, novas oportunidades para a negritude artística começam a surgir e se fazer mais notável, dentro dos holofotes e não na sombra das luzes. Contudo, o preconceito ainda existe – dentro e fora da tela – e muito precisa ser alcançado, mas a caminhada já começou e não pode ceder mais espaço para as diferenças.