segunda-feira, 22 de junho de 2015

Porque as Mocinhas das novelas não agradam mais?


Camila Pitanga sempre foi uma das atrizes com grande prestígio frente aos telespectadores em suas tramas. Que o diga a sua personagem mais emblemática: a garota de programa Bebel de "Paraíso Tropical", que encantou o público com seus dramas e romance com Olavo (Wagner Moura). Pois bem. Como tudo tem uma primeira vez na vida, eis que chegou o lado incômodo de protagonizar uma trama (tudo bem, eu sei que em Paraíso Tropical ela era coadjuvante, mas seu núcleo roubou holofotes e à julgar pelo título, vocês saberão ao longo do texto o que aconteceu), e com ela a rejeição do público.

                                  Regina (Camila Pitanga): irrita o público    
                                                Foto: Divulgação

Grande musa de Gilberto Braga, em seus últimos folhetins, Pitanga não "desce goela abaixo" com a sua Regina de "Babilônia", que também leva a autoria de Ricardo Linhares e João Ximenes Braga. Desde o começo da novela que a moradora do Leme não cativou o público. É vista como "barraqueira" demais. Grita muito. Mandona. Chata. Esses são alguns dos adjetivos dados a ela via redes sociais e críticos. Nem um pouquinho de romance com Vinícius (Thiago Fragoso) amolece os novelistas. Personagem central de qualquer novela, que tem a responsabilidade de conduzir a trama com todas as suas vicissitudes, conquistar as pessoas e despertar torcidas por onde passa, hoje em dia é um dos papéis mais indigestos da TV brasileira. Essas características agora são coisas do passado, e o presente mais recente das últimas produções demonstram isso. Confira a seguir algumas das mocinhas de novela que não agradaram o público:



                                        Paloma (Paolla Oliveira)                                    
                                                         Foto: Reprodução/TV Globo

A protagonista de "Amor à Vida" (2013), de Walcyr Carrasco, sofreu durante os oito meses de novela. A personagem de Paolla Oliveira, assim como a atriz, teve que aguentar os inúmeros apelidos ganhos durante a trama - o mais usado era o trocadilho "Pamonha" - pelo simples fato de cansar o público com sua ingenuidade e bondade, considerados demasiadamente incoerentes. Seu sofrimento também ficou marcado por muito "chororô", nos momentos mais dramáticos - onde o público esperava mais (re)ação dela.


                                   Amora (Sophie Charlotte)
                                     Foto: TV Globo/ Divulgação

Em "Sangue Bom" (2013), a it-girl de Sophie Charlotte apesar de abusar do bom humor, de um texto leve e divertido dos autores Maria Adelaide Amaral e Vincent Vilari, acabou pagando um preço alto pelo seu "ar superior" que ostentava. Irritava o público jovem - principal telespectador da história - também por ser considerada mimada, metida e chata. Como a trama tinha cinco protagonistas, foi ignorada.


                                          Ester (Grazi Massafera)
                                      Foto: Frederico Rozario/Rede Globo


Grazi Massafera está se destacando em "Verdades Secretas", mas nem sempre foi assim. Em "Flor do Caribe" (2013), de Walther Negrão, Ester enjoou o telespectador mais assíduo da história solar. As críticas do público era pelo fato de mais chorar do que sorrir. A personagem foi bem criticada pelo "dramalhão". Nem o bonito par que formava com Cassiano (Henri Castelli) salvou ela.


                                       Morena (Nanda Costa)
                                       Foto: Divulgação/TV Globo

O mesmo "mal" de Regina, fez outra vítima em "Salve Jorge" (2012). Primeira protagonista e novela inteiramente construída sobre o contexto de uma favela, da autora Glória Perez, Nanda Costa não conseguiu a compaixão do público com a sua "sofrência". Nem sendo traficada, prostituída, ela conseguiu muitos fãs. Seu jeito explosivo, mandona, briguenta e marrenta acabou indo além do que o público gostaria. O romance de idas e voltas, conturbado, com Téo (Rodrigo Lombardi) também não despertou amores. Quase perdeu o homem para Érica (Flávia Alessandra).


                                            Marina (Paolla Oliveira)
                                            Foto: João Miguel Jr./Globo

Olha ela aqui outra vez. Paolla Oliveira passa a impressão, muita das vezes, de que é "perseguida" pelo público e crítica. Verdade ou não, em "Insensato Coração" (2011), de Gilberto Braga e Ricardo Linhares, ela foi Marina - personagem que seria de Ana Paula Arósio, que desistiu (e sumiu, posteriormente) de protagonizar. O fato é que Marina desde os capítulos iniciais não agradou. Por dois motivos: roubou o noivo de sua amiga Luciana (Fernanda Machado), que morreu num acidente aéreo. E também pela "falta de química" com Pedro (Eriberto Leão). Resumindo: teve o caráter questionado pelo público e não convenceu.



                                   Diana (Carolina Dieckmann)
                                         Foto: Divulgação/TV Globo
  
Essa teve um dos finais mais emblemáticos em matéria de mocinhas, dada à rejeição sofrida. Em "Passione" (2011), Diana foi praticamente unanimidade em matéria de chatice pelo telespectador. Considerada boazinha demais e sonsa, foi tida ainda como confusa por ter sido disputada por Gérson (Marcelo Anthony) e Mauro (Rodrigo Lombardi), escolher o primeiro e depois se arrepender. Além disso, foi ofuscada por Clara (Mariana Ximenes), a grande vilã que virou o cerne da sinopse. O efeito disso tudo foi um só: o autor Sílvio de Abreu teve que matar a personagem, de tanta irritação que ela causou.


                                        Lívia (Grazi Massafera)
                                        Foto: Divulgação/TV Globo

"Negócio da China" (2009) foi o nome da novela, mas também representa bem o que foi a mocinha interpretada por Grazi, em sua primeira protagonista na TV. Na história de Miguel Falabella, Lívia sofreu com comentários nada bons dos telespectadores. Recém saída do "Big Brother Brasil 5", ela despertava muita desconfiança - além do estigma de ex-bbb - e por isso foi considerada inexperiente demais para o papel. Além do mais, a novela foi um fiasco no ibope.

                                          Helena (Taís Araújo)
                                          Foto: Divulgação/TV Globo

"Viver à Vida" (2009) foi marcada pela primeira e única Helena negra, jovem, das histórias de Manoel Carlos. Interpretada por Taís Araújo, que dispensa comentários, a icônica personagem não despertou amores como as homônimas mais famosas de outras tramas do autor. Um dos motivos seria a baixa expectativa que ela causou, além da importância que o papel tem. Não colou.



                              Nelinha (Fernanda Vasconcellos)
                                     Foto: Divulgação/TV Globo


Escrita por Bosco Brasil, "Tempos Modernos" (2010) é considerada a pior novela do horário das 19h. Pelo menos uma das menores quando o assunto é audiência. Isso também se refletiu na empatia de Nelinha, de Fernanda Vasconcellos. Mesmo protagonizando a trama ao lado do companheiro Thiago Rodrigues, de tantos outros casais em novelas, não teve jeito: o público enjoou dos dois juntos, e a característica de ser boazinha demais, e querer resolver todos os problemas não convenceu.


                              Paula e Thaís (Alessandra Negrini)
                                     Foto: Divulgação/TV Globo

No início do texto foi dito porque Bebel (Camila Pitanga) roubou a cena em "Paraíso Tropical", de Gilberto Braga e Ricardo Linhares, lembram?! Pois bem. Isso se deve ao fato das gêmeas Paula (a boa) e Thaís (a má) de Alessandra Negrini, não ter correspondido ao que o público esperava. A interpretação da atriz foi contestada, e ela não teve muito o que fazer. Não deixou saudades.



                                       Diana (Fernanda Lima)
                                       Foto: Divulgação/ TV Globo

Trocar as passarelas pelo mundo da TV, foi traumatizante para Fernanda Lima. Em 2005, ela estreou na Rede Globo para protagonizar a trama de Mário Prata e Carlos Lombardi, "Bang Bang", como Diana. Com uma trama confusa, ambientada num faroeste, nada funcionou. A personagem não convencia, a inexperiência da artista ficou clara, o ibope foi um fiasco. Resumindo: irritou o telespectador. Mesmo tendo feito outra novela em seguida, Fernanda parece ter desistido da carreira e hoje dedica-se apenas ao posto de apresentadora.



                                       Sol (Deborah Secco)
                                      Foto: Divulgação/TV Globo

Apesar do sucesso da novela, se teve um "calcanhar de Aquiles" na história foi Sol. Em América (2005), a personagem de Deborah Secco que tentava a todo custo cruzar a fronteira dos EUA e ter uma vida melhor por lá, tirou a paciência dos novelistas. A jovem sofreu tanto, chorou tanto, que irritou. Também não funcionou a química com o peão Tião (Murilo Benício).

                                      Letícia (Juliana Didone)
                                         Foto: Gianne Carvalho/TV Globo



Em "Malhação", na temporada de 2004, Juliana Didone teve essa ruim experiência com a mocinha Letícia. Dona de jeito bondoso, onde queria "ajudar todas as crianças do mundo", além da forte personalidade, a personagem conseguiu irritar o público adolescente. No falecido Orkut ela ganhou até uma comunidade (alguém lembra?!) chamada "Eu Odeio a Letícia de Malhação". Deu ruim.


O "fenômeno", talvez, explica-se pelo fato de que o telespectador já não é apenas um mero espectador. Ele cada vez mais se envolve, opina, escreve a novela junto aos autores. Se não for do jeito que sua expectativa quer, fica difícil seguir em frente com  enredo. Além disso, a maneira como determinada atriz incorpora o papel também contribui. Faz diferença. Se os dramaturgos não podem ficar abrindo concessão também a tudo aquilo que quem está em casa espera, ele também não desmerece o mesmo.


É verdade que nem tudo está perdido - vide Marizete ("I Love Paraisópolis"), Lígia e Júlia ("Sete Vidas"), Arlete/Angel ("Verdades Secretas"), Karina ("Malhação) entre outras - mas já não se encontram mais "Namoradinhas do Brasil" à la Regina Duarte de tantas protagonistas, como antigamente. Eis a questão. Plim plim.

Fonte: UOL Entretenimento   22/06/15

Coluna: Segunda Tela   Autor: Jean Pierry Leonardo