Coluna: Apito Manifesto Autor: Felipe Lavor
Se engana quem pensa que os galáticos do Real Madrid foram formados a partir dos anos 2000, com Zidane, Raul, Ronaldo, Figo e cia.
A primeira constelação que conquistou a Espanha e o
mundo foi formada em 1958. Os madrilenhos da nova geração não viram, e muitos
nunca ouviram falar em Kopa, Di Stéfano, Puskas e Gento. O ataque dos sonhos e
com um peso equivalente ao do rival Barcelona nos dias atuais.
Raymond Kopaszewski mais conhecido como Kopa, tinha
apenas 1,67 m de altura, mas um futebol de gente grande. Foi considerado pelos
próprios franceses o melhor jogador da era "pré - Platini", sendo
tratado como o Napoleão do futebol.
Antes de se transferir para o Real Madrid, Kopa
jogava pelo Reims e era duramente criticado pela imprensa por driblar demais e
o seu técnico Albert Batteux deixou claro: "Se você não driblar mais, tiro
você do time". E Kopa nunca mais parou.
Uma pena não ter obtido o reconhecimento que outros
companheiros galáticos tiveram e em 2001 teve que colocar à venda sua coleção
de medalhas em um leilão na Inglaterra, pois precisava de dinheiro para viver.
O único objeto que Kopa não colocou à venda foi a sua camisa 10 utilizada no
Real Madrid.
Já Francisco Gento foi considerado um dos jogadores
mais rápidos de todos os tempos, este espanhol corria 100 metros em 10 segundos
com a bola no pé. Um ponta esquerda tão veloz que conquistou em sua carreira 24
títulos. Seu recorde acabou sendo superado por Xavi, em 2013, pelo Barcelona.
Onde então foi lembrado por apenas um de seus vários feitos.
Na década de 50 a Hungria tinha uma grande seleção,
e o seu principal jogador também era um galático: Ferenc Puskas. Em 1956, o
craque húngaro se revoltou contra o governo de seu país por causa do domínio
soviético e não voltou mais para lá. Foi então suspenso pela FIFA e depois de
cumprir dois anos longe dos gramados, tornou-se o capitão desse lendário Real
Madrid. Impedido de voltar para a Hungria, ainda se naturalizou espanhol aos 31
anos. Em 1300 jogos oficiais, Puskas marcou 1176 gols, ficando atrás apenas de
Pelé.
Foi então eleito pela Federação Internacional de
História e Estatística do Futebol como o Artilheiro do Século. Quando soube da
premiação, Puskas já não estava bem de vida e de saúde e respondeu friamente:
"Se eles querem me dar o prêmio,deixem eles. Eu joguei futebol para marcar
gols, não para ganhar prêmios".
O mal de Alzheimer que deixou Puskas internado por 5
anos em um hospital de Budapeste, em 2005, teve altas despesas e pobre, não
tinha condições de arcar com as contas. Foi quando sua família decidiu leiloar
100 objetos pessoais do craque. O que rendeu à Puskas, algo em torno de 180 mil
dólares. Pouco e injusto para um jogador que soube como ninguém aproveitar as
oportunidades que a bola dá. Hoje o prêmio anual de gol mais bonito da
temporada, eleito pela FIFA, tem nome, e seu nome é Prêmio Puskas.
O único que recebe até hoje do Real Madrid honrarias
e reconhecimento daquele time é Alfredo Di Stéfano. Apelidado pela torcida como
"La Seta Rubia" (A Seta Loira). A importância do atacante argentino
em de sua época era a mesma de outro argentino da atualidade, Leonel Messi. A
fama e o prestígio de Di Stéfano eram tão grandes que em 1963, ele foi
sequestrado durante um torneio na Venezuela, pelo grupo guerrilheiro Forças
Armadas da Libertação e solto dois dias depois. Não se sabe dizer se houve
recompensa.
Mas recompensa maior foi a que o próprio Di Stéfano
recebeu. É um homem rico, mora em um palacete perto do estádio Santiago
Bernabéu e nos jardins de sua luxuosa casa há um busto de uma bola com a
inscrição "Gracias, Vieja" (Obrigado, Velha).
Não poderia faltar o talento brasileiro no meio de
tantos craques, por isso, lá estava Waldir Pereira, o famoso Didi. Apelidado
por Nelson Rodrigues como o Príncipe Etíope.
Após a Copa do Mundo de 1958, em que o Brasil
conquistou seu primeiro título mundial, Didi foi comprado a peso de ouro pelo
Real Madrid. Sua passagem pela equipe merengue foi curta, durou apenas dois
anos. Porém, muitos foram os boatos sobre a adaptação de Didi. Dizia-se que o
brasileiro teve dificuldade de se encaixar ao ritmo de jogo veloz dos
espanhóis. Outros mais maliciosos diziam que tudo não passou de um boicote
feito pelo "dono do time", Di Stéfano.
Boa parte ficou esclarecida em 2000, quando Di
Stéfano lançou sua biografia e declarou que aconselhava Didi a mandar sua
esposa, Guiomar, de volta ao Brasil, pois ela escrevia artigos em jornais
brasileiros para tumultuar a relação entre os dois jogadores.
Em campo Didi era fora de série e costumava dizer
aos companheiros: "O importante não é ter velocidade nas pernas e sim no
raciocínio. Quem precisa de velocidade é a bola. Por isso ela já vem
redonda". Talvez isto explique o fato de não se entrosar com Gento,
Puskas, Kopa e Di Stéfano. Mas o mais importante todos eles fizeram: Foram os
primeiros a mostrar que estrelas demais em um elenco geram títulos, briga de
egos e história. Muita história!
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