Coluna: Cultura Manifesta Autor: Israel Esteves
A entrevista da semana foi feita pra ser lida
tomando um bom café. Isso mesmo. Conversei nesta semana com a banda de rock e
bossa nova Cafe Frio. Contam um pouco de quem são, trabalhos e projetos.
Integrantes e suas funções:
Jefferson Arcanjo: Baixo
Miguel Travassos: Bateria
Paulo Delorenci: Guitarra
Samuel Chuengue: Voz e Flauta Transversal
Qual a origem do nome?
O nome Cafe Frio era o título de uma das primeiras
canções da banda. Após alguns ensaios e ainda sem um nome que agradasse a todos
os integrantes, a ideia partiu de amigos que assistiam aos ensaios, e sugeriram
que o nome da canção Cafe Frio fosse o nome de batismo da banda. A canção
passou a chamar-se apenas ‘Café’, e está presente no EP.
Se descrevem como uma junção de bossa nova e rock'n roll.
Qual o principal segredo dessa mistura?
Essa descrição surgiu da nossa dificuldade em
classificar o próprio som, de falar ‘é exatamente isso’, e das opiniões do
público nos locais onde a gente toca. Em 90% dos casos aqui no RJ tocamos em
eventos que se auto denominam ‘eventos de rock’, com um público muito voltado
as músicas pesadas. Quando a galera vê a gente (não todo mundo, mas em muitos
casos) ficam meio grilados com a formação, rola um ‘pré conceito’ com o som. Depois
que a gente toca (felizmente) a aceitação é muito boa! A gente resolveu usar
essa classificação por isso, acreditamos que ela dá alguma noção do que esperar
e ao mesmo tempo não diz muita coisa. (risos) O segredo é, apesar de cada
integrante ter uma influência maior desse ou daquele estilo, todos estão
dispostos a não ter nada como absoluto ou verdade incontestável pra criar,
preferimos deixar a coisa fluir.
Na Bossa nova, Tom Jobim , João Gilberto , Vinícius
de Morais , entre outros , influenciaram muito em sua época e até os dias
atuais . O que a Cafe Frio traz de novo ao cenário cultural?
Difícil essa pergunta, principalmente com os nomes
colocados aí... Esses caras citados são sim influências musicais nossas, mas
falta muito para chegarmos a 0,1% do que eles representam pra música brasileira
e do quanto inovaram e influenciaram a tantos artistas. Acreditamos que o nosso
som traz uma energia nova no sentido de pegar o que seria um ritmo clássico de
bossa, misturar com guitarras distorcidas e solos, uma bateria completamente
diferente e etc. Nosso som não se resume somente a isso, mas são elementos
presentes em algumas composições. Falando no cenário cultural como um todo, nós
e muitas outras bandas não fazemos só música. Em muitos casos por necessidade
mesmo. Nós e uma galera que conhecemos temos sido músicos, produtores, roadies,
fotógrafos, videomakers, enfim, se não fizermos ou se não corremos atrás de
apoios, a parada não anda. Acredito que a Cafe Frio e muitas bandas e coletivos
hoje, além da sua música/arte/poesia trazem ao cenário cultural o conceito de
coletividade, de fazer acontecer quando se tem pouca grana (ou nenhuma), quando
se tem pouca estrutura. A bandas hoje vão fazendo as conexões para as coisas
funcionarem e todo mundo circular, tocar,
fazer o que gosta. Sem isso nada aconteceria.
Como é o processo de composição das músicas?
Temos trabalhado algumas composições instrumentais
há um tempo. Elas geralmente surgem nos ensaios, quando decidimos brincar entre
uma música e outra, ou nos shows quando há algum imprevisto e a gente tem que
‘enrolar o público’. O Paulo (Guitarrista) tem bastante músicas instrumentais e
estamos começando a incorporar mesmo isso no repertório da Cafe, tem dado muito
certo. Nas nossas músicas com letra também tem bastante espaços pro
instrumental e improviso nos shows. O processo mais comum tanto para as músicas
instrumentais quanto pras canções com letras tem sido o seguinte: Eu (Samuel –
ou qualquer outra pessoa) chego com letra e
harmonias prontas,apresento pra banda e começamos e trabalhar e opinar
dentro da composição ate achar que ela está pronta pra gravar e apresentar em
um show.
Qual frase, citação ou trecho, melhor define vocês?
Arrisque-se.
Se originando do COMPLEXO DA MARÉ, que importância a
música teve na vida de vocês e qual influência acreditam que exerce na vida dos
jovens de lá?
A banda originou-se na Maré, e a primeira formação
foi em 2008. Na formação atual, somente Eu (Samuel – Voz e Flauta) e Jefferson
(Baixo) somos lá da Maré, embora não moremos mais lá, a relação com o lugar se mantém.
A Cafe Frio produz em parceria com as bandas Levante e Algoz o Rock em
Movimento: um evento de música que acontece na rua, há muitos anos, no Morro do
Timbau, e recentemente começou a ter edições na Biblioteca de Caxias. A Maré é
um lugar muito musical, temos o forró, o samba, o pagode, o funk, o hip hop, a
música clássica (há orquestras e professores de música de lá), o rock (o
movimento rock da Maré é fortíssimo), todos eles (e tantos outros) convivendo e
acontecendo no mesmo lugar. A música tem uma influência sempre positiva e
modificadora, onde quer que seja, as periferias são verdadeiros centros
criativos em qualquer lugar do mundo. A música e a musicalidade são naturais e
muito fortes na Maré.
Além dos estilos musicais já citados, pretendem
misturar algum outro nas canções?
Nós não decidimos isso com antecedência, nem é uma
regra, mas pode sim rolar muita coisa futuramente. Todos vem de escolas
diferentes e tem outros projetos paralelos a Cafe que vão por outros caminhos:
Miguel (Bateria) toca em uma banda de Jazz e uma banda de Rap, Paulo (Guitarra)
estuda Arranjo e MPB na UNIRIO, além da violão 12 cordas. O Jefferson (Baixo)
já estudou violão clássico, tocou em orquestra e atualmente a playlist dele vai
de Black Sabbath a Jackson do Pandeiro, Eu (Samuel – Voz e Flauta) estudei
música na UFRJ e na Escola de Música Villa Lobos, acabo trazendo na flauta
influências da música clássica e modalismo grego; somado ainda ao que cada um
escuta, as bandas da atualidade que admiramos... Enfim, por todo esse movimento
dos integrantes, acredito que seja inevitável essas influências surgirem na Cafe
Frio, só que dentro de um contexto inesperado.
Qual é o maior sonho da Cafe Frio?
Conseguir viver da música. Fazer só música, estar em
estúdio gravando e viajar. Isso seria bom.
O que move vocês a entrar no palco?
Contar nossas histórias, contar as pessoas o nosso
recorte do mundo através da música, e receber essa energia de volta.
O que gostariam de falar ao público?
Vá aos shows/espetáculos/festivais/expos/exibições
locais.
Apoie os artistas independentes.
Sejam felizes.
(não necessariamente nesta ordem)
Curtiram os caras?
Contatos: contatocafefrio@gmail.com
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Imagens: Arquivo/Cafe frio