sexta-feira, 10 de julho de 2015

A ESCOLA DEMOCRÁTICA vs O ENSINO DE QUALIDADE

10/07/15
Coluna: Educação Manifesta   Autora: Débora Silva



Atualmente a falácia em defesa da escola pública de qualidade tem estado presente no discurso de muitos políticos e educadores, contudo o que observamos são ações contraditórias a tal escola democrática. O manifesto dos pioneiros da Escola Nova em 1932 tinha como principal ponto de defesa esta escola democrática, onde todos podem ser ouvidos e se envolver na luta pela escola, indo contra a gestão conservadorista e tradicionalista.

Realmente era nisso que acreditavam os 27 educadores que assinaram o manifesto em favor do Plano Nacional da Educação (pautado na escola democrática para todos), que estava impregnado em suas convicções. A escola que poderia ser diferente a partir daquele momento, não existia contradições a respeito do que estava sendo defendido, contudo o que observamos hoje é a contradição daqueles que defendem essa escola, mais que não lutam por ela.

A escola pública ainda se mantém autoritária e tradicionalista em sua gestão. Segundo GADOTTI (2001) de nada adiantaria uma Lei de Gestão Democrática do Ensino Público que concede autonomia pedagógica, administrativa e financeira às escolas, se o gestor, professores, alunos, e demais atores do processo desconhecem o significado político da autonomia. De acordo com o autor o exercício da autonomia é uma prática que se constrói continuamente, individual e coletivamente.

Contudo, tais práticas autônomas tem perdido o significado real, observamos isso na fala de muitos professores da educação básica e universitária. Será que todos acreditam realmente nesta escola democrática e autônoma? Diversas vezes ouvimos alguns professores, pedagogos, mestres e doutores em educação defendendo esta escola pública democrática e de qualidade, porém eles não acreditam que o ensino de tais escolas seja realmente significativo, pelo fato de não querer que seus filhos estejam inseridos em tal contexto.

Alguns professores universitários e da educação básica apoiam e acreditam nesta escola democrática, porém discordam do ensino de qualidade. Muitos licenciados acreditam na escola pública, porém não querem que seus filhos estejam inseridos nela, ou seja, duvidam até mesmo do seu próprio ensino. Observamos um posicionamento contraditório por parte destes agentes da educação. É comum ouvirmos de professores que trabalham na rede pública de ensino as seguintes afirmativas: “Meu filho estuda na melhor escola particular da região!”, “Quero que meu filho tenha a melhor educação possível”, “Meu filho estuda em escola particular!”, “Na escola tradicional meu filho aprende desde pequeno para passar no vestibular!” ou “Na rede de ensino privada meu filho aprende a competir desde criança, pra quando chegar num ENEM da vida está preparado.”, dentre outras falas. A escola democrática trazida pelos educadores do manifesto da Escola Nova existe e os educadores da atualidade acreditam nela, porém aonde foi parar o ensino de qualidade? Cadê o ensino de qualidade público defendido por toda população de modo geral, pois essa contradição existe não apenas entre os educadores da atualidade, mas de todos aqueles que fazem parte da sociedade atual.

Muitas são as lutas, muitos são os objetivos a serem alcançados, pois a atividade humana é finalista, isso não se diferencia no sistema. Sabemos que o ensino da escola pública necessita de objetivos mais claros para todos, pois de maneira geral dependemos todos dos que serão formados nesta escola, pois estes que estão inseridos na escola pública atual serão o futuro da população de amanhã, quando são criados em um ambiente contraditório serão também cidadãos contraditórios no futuro. Então devemos todos nos unir para desimpregnar as ideias de que na escola pública só exista pobres coitados, ao contrário devemos defender com unhas e dentes esta escola e construí-la acreditando que seu ensino realmente é de qualidade e para todos sem exceção.


Imagem: Daniel Ottaino