Coluna: Educação Manifesta Autora: Débora Silva
Atualmente a falácia em defesa da escola pública de qualidade
tem estado presente no discurso de muitos políticos e educadores, contudo o que
observamos são ações contraditórias a tal escola democrática. O manifesto dos
pioneiros da Escola Nova em 1932 tinha como principal ponto de defesa esta
escola democrática, onde todos podem ser ouvidos e se envolver na luta pela
escola, indo contra a gestão conservadorista e tradicionalista.
Realmente era nisso que acreditavam os 27 educadores
que assinaram o manifesto em favor do Plano Nacional da Educação (pautado na
escola democrática para todos), que estava impregnado em suas convicções. A
escola que poderia ser diferente a partir daquele momento, não existia
contradições a respeito do que estava sendo defendido, contudo o que observamos
hoje é a contradição daqueles que defendem essa escola, mais que não lutam por
ela.
A escola pública ainda se mantém autoritária e
tradicionalista em sua gestão. Segundo GADOTTI (2001) de nada adiantaria uma
Lei de Gestão Democrática do Ensino Público que concede autonomia pedagógica,
administrativa e financeira às escolas, se o gestor, professores, alunos, e
demais atores do processo desconhecem o significado político da autonomia. De
acordo com o autor o exercício da autonomia é uma prática que se constrói
continuamente, individual e coletivamente.
Contudo, tais práticas autônomas tem perdido o
significado real, observamos isso na fala de muitos professores da educação
básica e universitária. Será que todos acreditam realmente nesta escola
democrática e autônoma? Diversas vezes ouvimos alguns professores, pedagogos,
mestres e doutores em educação defendendo esta escola pública democrática e de
qualidade, porém eles não acreditam que o ensino de tais escolas seja realmente
significativo, pelo fato de não querer que seus filhos estejam inseridos em tal
contexto.
Alguns professores universitários e da educação
básica apoiam e acreditam nesta escola democrática, porém discordam do ensino
de qualidade. Muitos licenciados acreditam na escola pública, porém não querem
que seus filhos estejam inseridos nela, ou seja, duvidam até mesmo do seu
próprio ensino. Observamos um posicionamento contraditório por parte destes
agentes da educação. É comum ouvirmos de professores que trabalham na rede
pública de ensino as seguintes afirmativas: “Meu filho estuda na melhor escola
particular da região!”, “Quero que meu filho tenha a melhor educação possível”,
“Meu filho estuda em escola particular!”, “Na escola tradicional meu filho
aprende desde pequeno para passar no vestibular!” ou “Na rede de ensino privada
meu filho aprende a competir desde criança, pra quando chegar num ENEM da vida
está preparado.”, dentre outras falas. A escola democrática trazida pelos
educadores do manifesto da Escola Nova existe e os educadores da atualidade
acreditam nela, porém aonde foi parar o ensino de qualidade? Cadê o ensino de
qualidade público defendido por toda população de modo geral, pois essa
contradição existe não apenas entre os educadores da
atualidade, mas de todos aqueles que fazem parte da sociedade atual.
Muitas são as lutas, muitos são os objetivos a serem
alcançados, pois a atividade humana é finalista, isso não se diferencia no
sistema. Sabemos que o ensino da escola pública necessita de objetivos mais
claros para todos, pois de maneira geral dependemos todos dos que serão
formados nesta escola, pois estes que estão inseridos na escola pública atual
serão o futuro da população de amanhã, quando são criados em um ambiente
contraditório serão também cidadãos contraditórios no futuro. Então devemos
todos nos unir para desimpregnar as ideias de que na escola pública só exista
pobres coitados, ao contrário devemos defender com unhas e dentes esta escola e
construí-la acreditando que seu ensino realmente é de qualidade e para todos
sem exceção.
Imagem: Daniel Ottaino