sexta-feira, 7 de agosto de 2015

A bond girl brasileira: Adele Fátima

07/08/15
Coluna: CineManifesto   Autor: Rodrigo dos Santos

Qual mulher não gostaria de ser como ela?A cor do Rio que só de olhar já basta, e um par de olhos que fazem enfeitiçar qualquer agente secreto.  Confesso que desgrudar o meu par de olhos de suas fotos para escrever esta coluna foi algo extremamente desafiador perante tamanha beleza.
 Adele Fátima de origem germânica por parte de pai e legitimamente carioca por parte de mãe é oriunda das pacatas ruas da Urca onde nasceu e se criou,situação esta tratou de colocar a cereja que faltava, ser do Rio de Janeiro.

Uma negra que derruba qualquer estereótipo de mulata dos dias de hoje que necessitam de um abdómen mutante, gelatinas nos inferiores ,cargas de silicone no busto e que fazem até curso preparatório de como se equilibrar nas plataformas de salto, a madrinha de bateria da Mocidade Independente de Padre Miguel  tinha samba no pé e naturalmente cada centímetro e diâmetro no seu devido lugar (e que lugares).

Descoberta no fim dos anos 70 pelo magnata Rubens Gomes da Costa, dono do império das sardinhas enlatadas, Adele foi convidada pessoalmente pelo empresário para estrelar o comercial das Sardinhas 88, o que se pode dizer que foi o carimbo inicial no seu passaporte com destino ao mundo. Assista no vídeo abaixo.



Magnética, primavera em pessoa, assim Jorge Ben definiu na música que compôs para ela em 1980, “Adelita ”, como uma forma de juramento ou gratidão por dividir o mesmo planeta que a beldade (o mesmo diria este colunista). Assista no vídeo abaixo.



Com 18 filmes e duas minisséries em sua carreira, Adele se transformou na musa do cinema nacional nos meados dos anos 70 e início dos anos 80, seu primeiro filme foi em 1975, “Com as calças na mão” dirigido por Carlo Mossy e estrelado por Jorge Dória, Wilza Carla, Lady Francisco, Tião Macalé entre outros.



Em 1979 protagonizou a pornochanchada, “Histórias que nossas babás não contavam ” de Oswaldo Oliveira, que satirizava o conto clássico da Branca de neve. Adele como  Clara das Neves dividia as cenas com 6 anões com o libido de estatura estratosférica (um deles era gay, mas nem por isso fica a ver navios no filme, ele se arranja também) e o inigualável Costinha como caçador. O filme é bastante divertido e é possível delirar com takes de Adele como veio ao mundo.

Ainda em 79 na supra da beleza foi que sua carreira teria tudo para decolar com pretensões internacionais,ou quase. Chamada para filmar ao lado de Roger Moore, 007 contra o foguete da morte que contém cenas gravadas no Rio de Janeiro, Adele entraria para história como a primeira “bond girl” brasileira, mas como em todo meio artístico, se existe beleza há rumores, e com Adele Fátima não seria diferente, com 18 aninhos a mulata de Sargenteli despertava o interesse de toda imprensa que talvez na ausência de pauta ou preguiça mesmo roteirizaram uma fábula que estamparia as manchetes dos jornais.






Com toda aquela badalação de estrelas hollywoodianas em cenário carioca entre uma divulgação e outra do filme seria o suficiente para novas versões de que a estrela principal Roger Moore estivesse de caso amoroso com nossa musa afro, em um dos boatos eles estariam até de viagem marcada assim que acabassem as filmagens.



 Com exceção das fofocas criadas pela imprensa carioca nada disso ocorreu, mas na cabeça de muitos,bem que o espião gostaria que tivesse acontecidomesmo 007 sendo casado, fato este que foi primordial na saída de Adele da rodagem do filme, já que a esposa de Moore evidentemente não gostou nada da história e exigiu da direção que a beldade saísse do longa imediatamente , ultimato concedido! Afinal, pior que a esposa do agente mais competente do mundo seria a ex esposa desse agente, Adele não faria mais o filme , sendo substituída pela bela (mas nem tanto) Emily Bolton, mas ainda é possível observar seu nome nos créditos finais e em alguns cartazes do filme, o que a faz ser a primeira “bond girl” brasileira da história.



Em um tempo muito diferente dos dias de hoje onde o empresário do artista é peça chave na vida do astro, Adele foi vítima do lado escabroso e manipulador da imprensaque se engrandeceu pela ausência de um profissional que falasse por ela, além da prática visível nosnossostempose que nos anos 70 e 80 eram ainda mais “claros”na rotina da atriz,o preconceito.
 Mesmo assim com sua garra e talento Adele brilhou e não deixou que qualquer história apagasse seu brilho, que rebate e se mistura até hoje na história do cinema nacional.

Imagens: Internet