sábado, 8 de agosto de 2015

Sam Smith: um jovem talento a serviço do Soul e dos direitos LGBTs

08/08/15
Coluna: Última Nota     Autor: Jean Pierry Leonardo

Uma desilusão amorosa foi o suficiente para que Sam Smith sofresse tanto a ponto de exteriorizar seus sentimentos em versos e prosas. Sim, se antes ele chorava por não ter sido correspondido pelo homem que tanto amava, hoje, ele só tem motivos para agradecer seu “algoz” e sorrir. Grande revelação da música nos últimos anos, Sam Smith sagrou-se como a grande voz do Soul britânico do momento, alçado ao estrelato pelo álbum “In The Lonely Hour”. Foi o nome no Grammy 2015, com quatro gramofones, o maior vencedor da noite.

Sam Smith no Grammy 2015: maior vencedor da noite
Foto: Divulgação

Com apenas 22 anos, o jovem conquistou o mundo com suas letras melosas, românticas e sensíveis. Para muitos críticos, In The Lonely Hour demonstra muito mais do que alguém que não se deu bem no amor, mas também evidencia um lado de subserviência, submissão, de Sam pelo amado. É verdade. Mas isso não chega ser nenhum demérito. Pelo contrário. Sem medo de expor seus sentimentos, Sam consegue emocionar e te faz sentir a dor de um coração partido, despedaçado, a cada música do CD. “Stay with Me”, carro-chefe do disco, simboliza isso. Ali, o artista suplica para que o boy fique com ele. Mais como num carrossel de emoções, perdido em si, sem saber o que queres, ou o que sente, ele também volta atrás e afirma “Leave Your Love” (Deixar seu Amor). Pior do que amar alguém, é saber que você não é o único, traduzida com pesar em “I’m Not The Only One”. Ainda tem espaço para desejar-lhe, querer-te com muito amor, mas “Not in The Away” (Não Desse Jeito). Entre tantos outros clamores, suspiros, alentos e dores.

                                                               Clipe: Stay With Me
                                                              Reprodução: YouTube

Muita sofreguidão, depressivo, rendido, todos esses adjetivos já foram e podem ser imputados a Sam pelo “In The Lonely Hour”, mas sua ascensão artística, prêmios, críticas (boas e construtivas) e fãs, comprovam que falar e cantar sobre amor, nunca é demais. Outra coisa que chama atenção no novato britânico é a sua maturidade. Com tão pouca idade, Sam esbanja segurança e controle para alguém da sua idade. Não se deixou deslumbrar pelos holofotes sobre si. Sempre muito sereno, tímido e discreto, ele também atrai pela simplicidade e simpatia. Com uma voz que flutua entre o grave e o agudo, todas as músicas, repito, TODAS as 14 músicas de seu encarte foram compostas por ele. Haja amor, haja sofrimento, haja inspiração. Apelidado de “Adele de calças”, pela semelhança no estilo, jeito e maneira de compor e cantar, além da desilusão amorosa – Adele também explodiu ao escrever o álbum “21” depois de um término de relacionamento – Smith vai além disso.

Álbum "In The Lonely Hour": multiplatinado
Foto: Reprodução
O artista não se limitou a ficar choramingando pela infundada paixão platônica e rompe barreiras também. Assumidamente homossexual, Sam tem consciência de sua, hoje, privilegiada posição frente outros inúmeros meninos e meninas de sua idade, espalhados pelo mundo. Por isso, cada vez com mais afinco, ele vem usando de sua notoriedade para chamar atenção para os direitos LGBTs (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transsexuais e Transgêneros). No clipe de ”Lay Me Down”, num belo apelo político, ele defendeu o direito ao casamento homoafetivo de seus pares. E não parou por aí.       

                                         "Lay me Down": ato político pelo casamento gay
                                                           Reprodução: YouTube

Na última quarta feira (29), ele desabafou contra a homofobia via redes sociais. Após assistir a autobiografia do ator e ativista australiano Timothy Conigrave, “Holding the Man”, Sam incomodou-se com o preconceito. “Como homem gay, é difícil me identificar de verdade com um filme. A coisa mais poderosa foi retratar como é crescer sendo gay, e os momentos assustadores e incríveis que tive ao me assumir. Fico tão chateado ao pensar nas centenas de milhares de homens e mulheres gays no mundo que passam tanta dificuldade só por querer amar quem eles amam. Isso me deixa tão triste e, às vezes, culpado por ter essa simples liberdade que outros não têm. Desculpe ser tão profundo, mas isso me mata. Eu não entendo o porquê de mais de nós não fazermos nada a respeito", escreveu. Além disso, já houvera afirmado à revista francesa Têtu que tinha orgulho de ser gay. “Quero me tornar uma voz para jovens gays em dificuldade no mundo", afirmou. Depois, ele brincou: “Gosto da ideia de que podem haver caras homofóbicos que escutam meu disco e não imaginam que sou gay!”

Sam Smith: A voz que canta e luta pela dignidade
Foto: Reprodução
Melhor do que tudo isso, é saber que o artista tem viagem marcada para o Brasil. No dia 26 de setembro, Smith promete transformar o Rock in Rio numa apoteótica noite com sua turnê, antecedendo Rihanna no palco. Assim chega Sam Smith no mainstream: com clareza, inteligência, seriedade, talento, boa música e voz acalentadora. Um sopro de esperança e renovação na indústria musical em crise e com jovens carecendo de bons ídolos.