Coluna: Última Nota Autor: Jean Pierry Leonardo
Uma desilusão amorosa foi o suficiente para que Sam
Smith sofresse tanto a ponto de exteriorizar seus sentimentos em versos e
prosas. Sim, se antes ele chorava por não ter sido correspondido pelo homem que
tanto amava, hoje, ele só tem motivos para agradecer seu “algoz” e sorrir.
Grande revelação da música nos últimos anos, Sam Smith sagrou-se como a grande
voz do Soul britânico do momento, alçado ao estrelato pelo álbum “In The Lonely
Hour”. Foi o nome no Grammy 2015, com quatro gramofones, o maior vencedor da
noite.
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Sam Smith no Grammy 2015: maior vencedor da noite Foto: Divulgação |
Com apenas 22 anos, o jovem conquistou o mundo com
suas letras melosas, românticas e sensíveis. Para muitos críticos, In The
Lonely Hour demonstra muito mais do que alguém que não se deu bem no amor, mas
também evidencia um lado de subserviência, submissão, de Sam pelo amado. É
verdade. Mas isso não chega ser nenhum demérito. Pelo contrário. Sem medo de
expor seus sentimentos, Sam consegue emocionar e te faz sentir a dor de um
coração partido, despedaçado, a cada música do CD. “Stay with Me”, carro-chefe do
disco, simboliza isso. Ali, o artista suplica para que o boy fique com ele.
Mais como num carrossel de emoções, perdido em si, sem saber o que queres, ou o
que sente, ele também volta atrás e afirma “Leave Your Love” (Deixar seu Amor).
Pior do que amar alguém, é saber que você não é o único, traduzida com pesar em
“I’m Not The Only One”. Ainda tem espaço para desejar-lhe, querer-te com muito
amor, mas “Not in The Away” (Não Desse Jeito). Entre tantos outros clamores,
suspiros, alentos e dores.
Clipe: Stay With Me
Reprodução: YouTube
Muita sofreguidão, depressivo, rendido, todos esses
adjetivos já foram e podem ser imputados a Sam pelo “In The Lonely Hour”, mas
sua ascensão artística, prêmios, críticas (boas e construtivas) e fãs,
comprovam que falar e cantar sobre amor, nunca é demais. Outra coisa que chama
atenção no novato britânico é a sua maturidade. Com tão pouca idade, Sam
esbanja segurança e controle para alguém da sua idade. Não se deixou deslumbrar
pelos holofotes sobre si. Sempre muito sereno, tímido e discreto, ele também
atrai pela simplicidade e simpatia. Com uma voz que flutua entre o grave e o
agudo, todas as músicas, repito, TODAS as 14 músicas de seu encarte foram
compostas por ele. Haja amor, haja sofrimento, haja inspiração. Apelidado de
“Adele de calças”, pela semelhança no estilo, jeito e maneira de compor e
cantar, além da desilusão amorosa – Adele também explodiu ao escrever o álbum
“21” depois de um término de relacionamento – Smith vai além disso.
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Álbum "In The Lonely Hour": multiplatinado Foto: Reprodução |
O artista não se limitou a ficar choramingando pela
infundada paixão platônica e rompe barreiras também. Assumidamente homossexual,
Sam tem consciência de sua, hoje, privilegiada posição frente outros inúmeros
meninos e meninas de sua idade, espalhados pelo mundo. Por isso, cada vez com
mais afinco, ele vem usando de sua notoriedade para chamar atenção para os
direitos LGBTs (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transsexuais e
Transgêneros). No clipe de ”Lay Me Down”, num belo apelo político, ele defendeu
o direito ao casamento homoafetivo de seus pares. E não parou por aí.
"Lay me Down": ato político pelo casamento gay
Reprodução: YouTube
Na última quarta feira (29), ele desabafou
contra a homofobia via redes sociais. Após assistir a autobiografia do ator e
ativista australiano Timothy Conigrave, “Holding the Man”, Sam incomodou-se com
o preconceito. “Como homem gay, é difícil me identificar de verdade com um
filme. A coisa mais poderosa foi retratar como é crescer sendo gay, e os
momentos assustadores e incríveis que tive ao me assumir. Fico tão chateado ao
pensar nas centenas de milhares de homens e mulheres gays no mundo que passam
tanta dificuldade só por querer amar quem eles amam. Isso me deixa tão triste
e, às vezes, culpado por ter essa simples liberdade que outros não têm.
Desculpe ser tão profundo, mas isso me mata. Eu não entendo o porquê de mais de
nós não fazermos nada a respeito", escreveu. Além disso, já houvera
afirmado à revista francesa Têtu que tinha orgulho de ser gay. “Quero me tornar
uma voz para jovens gays em dificuldade no mundo", afirmou. Depois, ele
brincou: “Gosto da ideia de que podem haver caras homofóbicos que escutam meu
disco e não imaginam que sou gay!”
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Sam Smith: A voz que canta e luta pela dignidade Foto: Reprodução |
Melhor do que tudo isso, é saber que o artista tem
viagem marcada para o Brasil. No dia 26 de setembro, Smith promete transformar
o Rock in Rio numa apoteótica noite com sua turnê, antecedendo Rihanna no
palco. Assim chega Sam Smith no mainstream: com clareza, inteligência,
seriedade, talento, boa música e voz acalentadora. Um sopro de esperança e
renovação na indústria musical em crise e com jovens carecendo de bons
ídolos.