Coluna: Esporte Manifesto Autor: Bruna Rafaela
Um dos setores que mais se destaca no cenário no jornalismo;
é o de esportes. Enquanto por um lado, temos milhões de pessoas apaixonadas
pelos programas esportivos, por outro, acontece um fenômeno: o jornalista
esportivo em si é desvalorizado, desprezado em seu papel como formador de
opinião.
Ao direcionarmos um olhar mais abrangente à história
do jornalismo esportivo no Brasil, constatamos duas características
inquietantes. A primeira, é que o mesmo é visto como mero entretenimento das
massas, e a segunda é que pelo menos 70% das temáticas noticiosas e das
reportagens especializadas giram em torno do futebol. O espaço preenchido por
outros esportes é praticamente inexpressivo no jornalismo.
Além da pouca expressividade, convém apontar, que
sobre aqueles 70% de coberturas jornalísticas do futebol mencionadas
anteriormente, só há, em sua maior parte, notícia-entretenimento, englobando
dados corriqueiros sobre agendas de campeonatos, copas, ou então, mitificando
jogadores, técnicos etc. A impressão que fica é que há um cumprimento
mecanizado das pautas, sem quaisquer teores mais criativos ou científicos. Para
piorar a massa deste bolo, o que acontece quando algum profissional tenta
romper esta sistematização, é que ele é visto com maus olhos.
Exemplo?
A equipe da ESPN Brasil é reconhecida pela
excelência em seus documentários, apontando o esporte sob um ponto de vista
sociológico ou político, como na relação do futebol com a ditadura militar,
porém, é vista por muitos no meio esportivo, como uma emissora cheia de
profissionais “enfadonhos”. Enquanto isso, outros que seguem o lado da
alienação e do humor são aplaudidos, mesmo que o conteúdo seja irrelevante e
não traga agregação alguma. Infelizmente, é exatamente isto o que a grande
parte dos leitores e ouvintes espera, pois fora acostumado assim.
O leitor/ espectador não quer aprofundar os saberes
sobre o esporte, quer apenas uma divulgação sobre seus personagens, só se quer
ficar a par dos placares (pra não dizer, exclusivamente!) e também, ler
“notícia” como quem lê revistas de fofoca.
Então, será que é este o papel do jornalista de
esportes? Ser tendencioso? Apenas construir factoides, para reverberar e
entreter? Nego-me lucidamente a acreditar neste viés. Jornalista é jornalista
independente de qual vertente optar, e isto significa ter sapiência o
suficiente para discorrer em qualquer meio, e este é o ponto nevrálgico.
Rótulos são incorporados e jornalistas esportivos subjugados,
a crise é crescente, e o profissional do esporte precisa ter a humildade de se
reciclar, criando um jornalismo esportivo mais crítico. Que não pense apenas no gramado, mas naquilo que acontece nos bastidores.
Enquanto isso não acontecer, a verdade nua e crua é que continuaremos a pensar
que somos importantes quando na realidade fazemos de tudo para não termos importância alguma.
Imagem: Internet