segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Crítica: Tradicional e com boas interpretações, Além do Tempo conquista o público às 18h

03/08/15
Coluna: ManifesTV   Autor: Jean Pierry Leonardo

Com pouco mais de duas semanas no ar, a novela "Além do Tempo" já pode ser considerada um sucesso – de público e crítica. Seus bons números na audiência consolidam isso (médias que chegam na casa dos 26 pontos), bem como seus elogios. A trama de Elizabeth Jhin é bem diferente da anterior, “Sete Vidas”. Se antes da estreia a responsabilidade era grande por substituir a prosaica obra de Lícia Manzo, depois que seus capítulos foram revelados aos olhos dos telespectadores, o temor caiu por terra.

Foto: Reprodução
Apostando num enredo clássico, sem maiores artifícios, Além do Tempo é uma novela tradicional: com um galã bonito e que não ama sua noiva, uma mocinha sofredora e “ingênua”, uma vilã ardilosa e um núcleo cômico para não pesar demais. Apenas segue a cartilha daquilo que o brasileiro tá acostumado – e gosta – de ver. Porém, o folhetim vai além disso. Dividida em duas fases, uma no século XIX, e outra contemporânea – após o capítulo 70 – , ela vem com uma proposta ousada: com o pano de fundo do espiritismo por trás, algo bem dominado pela autora em suas últimas novelas (“Amor Eterno Amor” e “Escrito nas Estrelas”), ela será duas novelas em uma. Explica-se. Nessa primeira fase, quem é vilão(a), pode retornar no século seguinte como mocinho(a), e vice versa.


Esse recurso é algo que, sem dúvidas, vai provocar o telespectador que terá que (des)construir a imagem assemelhada até a virada. Entretanto, uma novela boa só se sustenta se tiver boas interpretações, e esse talvez seja o grande trunfo de Além do Tempo, para quando tudo mudar. Com uma acertada direção de núcleo de Rogério Gomes, também conhecido como Papinha, os atores  vem brilhando na TV. Começando por Alinne Moraes, que encarna uma protagonista difícil de não se envolver. A atriz ficou quatro anos longe das produções – desde que teve seu filho – e quando retorna, encanta público e crítica com seu talento e doses acertadas de emoção, romance, sofrimento e ternura de Lívia. Seu par, Rafael Cardoso, também vem dando um show à parte. Seu Felipe exige expressões contidas, uma  interpretação precisa e com sobriedade necessárias para sua personalidade, que ele conseguiu imprimir acertadamente bem. Outro destaque atende por Ana Beatriz Nogueira (Emília), mãe de Lívia e que mesmo com tamanha sofreguidão, está arrasando. Irene Ravache e sua Condessa Vitória à la Downtown Abbey (premiada série britânica), impressiona. Ainda temos Paolla Oliveira (Melissa), Júlia Lemmertz (Dorotéia), Letícia Persiles (Anita), Carolina Kasting (Rosa), Louise Cardoso (Gema), Emílio Dantas (Pedro), entre tantos outros, se destacando. A imponência dos figurinos, a bela fotografia, as locações simples e rebuscadas do Sul do Brasil conferem um charme – e se apresentam quase como – personagens à parte.

Lívia (Alinne Moraes) e Felipe (Rafael Cardoso)
Foto: Fábio Rocha/Gshow
Naturalmente com histórias mais “doces”, muito em função do horário, Além do Tempo vem despertando nos telespectador aquele ar de “novela do passado” – não somente pela época –, onde os enredos apostavam menos em temas polêmicos ou nem tocavam em assuntos como homossexualidade, prostituição, aborto e afins.  Aliada a todas as características acima citadas, fisga o público mais conservador que anda incomodado com  cenas “chocantes”, ultimamente, na tela de sua casa. Mas seja como for,  Além do Tempo é um daqueles folhetins que não precisa de feitos e efeitos para chamar a atenção: apenas um pouco de bom gosto já basta.