03/08/15
Coluna: ManifesTV Autor: Jean Pierry Leonardo
Coluna: ManifesTV Autor: Jean Pierry Leonardo
Com pouco mais de duas semanas no ar, a novela
"Além do Tempo" já pode ser considerada um sucesso – de público e
crítica. Seus bons números na audiência consolidam isso (médias que chegam na
casa dos 26 pontos), bem como seus elogios. A trama de Elizabeth Jhin é bem
diferente da anterior, “Sete Vidas”. Se antes da estreia a responsabilidade era
grande por substituir a prosaica obra de Lícia Manzo, depois que seus capítulos
foram revelados aos olhos dos telespectadores, o temor caiu por terra.
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Foto: Reprodução |
Apostando num enredo clássico, sem maiores
artifícios, Além do Tempo é uma novela tradicional: com um galã bonito e que
não ama sua noiva, uma mocinha sofredora e “ingênua”, uma vilã ardilosa e um
núcleo cômico para não pesar demais. Apenas segue a cartilha daquilo que o
brasileiro tá acostumado – e gosta – de ver. Porém, o folhetim vai além disso.
Dividida em duas fases, uma no século XIX, e outra contemporânea – após o
capítulo 70 – , ela vem com uma proposta ousada: com o pano de fundo do
espiritismo por trás, algo bem dominado pela autora em suas últimas novelas
(“Amor Eterno Amor” e “Escrito nas Estrelas”), ela será duas novelas em uma.
Explica-se. Nessa primeira fase, quem é vilão(a), pode retornar no século
seguinte como mocinho(a), e vice versa.
Esse recurso é algo que, sem dúvidas, vai provocar o
telespectador que terá que (des)construir a imagem assemelhada até a virada.
Entretanto, uma novela boa só se sustenta se tiver boas interpretações, e esse
talvez seja o grande trunfo de Além do Tempo, para quando tudo mudar. Com uma
acertada direção de núcleo de Rogério Gomes, também conhecido como Papinha, os
atores vem brilhando na TV. Começando
por Alinne Moraes, que encarna uma protagonista difícil de não se envolver. A
atriz ficou quatro anos longe das produções – desde que teve seu filho – e
quando retorna, encanta público e crítica com seu talento e doses acertadas de
emoção, romance, sofrimento e ternura de Lívia. Seu par, Rafael Cardoso, também
vem dando um show à parte. Seu Felipe exige expressões contidas, uma interpretação precisa e com sobriedade
necessárias para sua personalidade, que ele conseguiu imprimir acertadamente
bem. Outro destaque atende por Ana Beatriz Nogueira (Emília), mãe de Lívia e
que mesmo com tamanha sofreguidão, está arrasando. Irene Ravache e sua Condessa
Vitória à la Downtown Abbey (premiada série britânica), impressiona. Ainda
temos Paolla Oliveira (Melissa), Júlia Lemmertz (Dorotéia), Letícia Persiles
(Anita), Carolina Kasting (Rosa), Louise Cardoso (Gema), Emílio Dantas (Pedro),
entre tantos outros, se destacando. A imponência dos figurinos, a bela
fotografia, as locações simples e rebuscadas do Sul do Brasil conferem um
charme – e se apresentam quase como – personagens à parte.
Naturalmente com histórias mais “doces”, muito em
função do horário, Além do Tempo vem despertando nos telespectador aquele ar de
“novela do passado” – não somente pela época –, onde os enredos apostavam menos
em temas polêmicos ou nem tocavam em assuntos como homossexualidade,
prostituição, aborto e afins. Aliada a
todas as características acima citadas, fisga o público mais conservador que
anda incomodado com cenas “chocantes”,
ultimamente, na tela de sua casa. Mas seja como for, Além do Tempo é um daqueles folhetins que não
precisa de feitos e efeitos para chamar a atenção: apenas um pouco de bom gosto
já basta.