01/08/15
Uma artista que se preze, fincada nos 50 anos de
carreira recém completados, comemorados e vividos, com 70 anos de idade e uma
carreira brilhante, poderia muito bem acomodar-se em lançar discos e turnês a
partir de seus – infinitos – clássicos. Só que não. Filha da Tropicália,
discípula de João Gilberto, "irmã" de Caetano Veloso, comadre de Gilberto Gil,
baiana “arretada” que só ela, Gal Costa gosta de desafios. Sempre busca inovar.
E é, justamente, se reinventando, se transformando como uma camaleoa, que ela
chega com "Estratosférica", seu novo álbum.
Gal Costa: celebrando cachos na capa do CD
Foto: Reprodução
Foto: Reprodução
Isso já se notabiliza na capa do disco. Gal reaviva
suas raízes, e traz consigo seus cachos bem armados, conceito que a remete para
o passado, mas que soa tão natural quanto o presente. Porém, é pouco para ela.
Estratosférica é um daqueles trabalhos musicais atemporais. Muito mais do que
celebrar seus feitos, Gal buscou na jovialidade de novos artistas, a fonte de
parcerias e composições essenciais para marcar essa célebre junção de sua vida
e carreira. Daí vieram parceiros como Marcelo Camelo, Malu Magalhães, Thalma de
Freitas, Criollo, Céu, Lira entre outros. Novos rostos, da chamada Nova MPB. Um
sopro de renovação e talento. Mas como esquecer dos “velhos” e bons amigos de
outrora?! Gal não esqueceu deles e também trouxe consigo suas eternas e
conhecidas amizades: Caetano, Milton Nascimento, Tom Zé, Marisa Monte e
Guilherme Arantes.
Música: Quando Você Olha pra Ela
Parceria de Gal Costa com Malu Magalhães
Parceria de Gal Costa com Malu Magalhães
Essa tônica do ontem e do hoje é o grande primor, e
diferencial, de Estratosférica. Notoriamente, percebe-se a transição tênue de como
a artista vai e volta nos elementos de suas canções, e a maneira como sua vez
se encaixa entre a tradição e o contemporâneo. Gal Costa sai da zona de
conforto e mais uma vez se joga na novidade, no desconhecido, no inovador, sem
medo de errar. Mais um golaço. Aliás, inovação vem sendo a
marca de Gal, ultimamente. Seu CD anterior, “Recanto” (2013), dividiu público e
crítica, mas fincou-se como mais um marco em sua extensa trajetória. Ali a
artista mostrou toda a força de sua personalidade, confiou na maestria de seu
companheiro Caetano – que produziu o álbum, compôs junto e dirigiu seu show – e
brincou com elementos que iam do eletro, passando pelo tecno, um pouco de Pop,
rolou até uma batida funk em "Funk Melódico". Resultado: foi um dos melhores
daquele ano, rendeu uma turnê com ingressos esgotados e um DVD.
Em Estratosférica, o eletro, Pop, rock e outras
invencionices continuam ganhando espaço e surgem numa proporção harmoniosamente
arrojada e gratificante aos ouvidos. Destaques ficam para “Quando Você Olha Pra
Ela” (vídeo acima), composta por Malu Magalhães e já bem executada nas rádios
do segmento adulto, para o rock de “Sem Medo nem Esperança”, síntese daquilo
que Gal pensa e por isso mesmo afirma ser a que mais se identifica no CD, e
para a única regravação presente do álbum, “Ilusão à Toa”, já familiarizada
pelo público por embalar o romance homossexual de Ivan (Marcelo Mello Jr) e
Sérgio (Claudio Lins), em “Babilônia”.
Música Ilusão à Toa: regravada e tema de novela
Dessa maneira fica cada vez mais claro que Gal Costa
rompe os limites da sua própria musicalidade. Que não tem medo de ousar e ser
ousada, características que sempre fizeram dela a voz do Brasil. Portanto, para
aqueles, principalmente os mais jovens, que insistem em torcer o nariz - e os
ouvidos - para artistas da MPB, fica a dica: abra-se para o novo e siga o som.
Permita-se viajar com Gal Costa, sem fronteiras, porque ela chegou estratosférica
e o céu já não é mais o limite.