sábado, 1 de agosto de 2015

Gal Costa, mais estratosférica do que nunca

01/08/15
Coluna: Última Nota   
Autor: Jean Pierry Leonardo

Uma artista que se preze, fincada nos 50 anos de carreira recém completados, comemorados e vividos, com 70 anos de idade e uma carreira brilhante, poderia muito bem acomodar-se em lançar discos e turnês a partir de seus – infinitos – clássicos. Só que não. Filha da Tropicália, discípula de João Gilberto, "irmã" de Caetano Veloso, comadre de Gilberto Gil, baiana “arretada” que só ela, Gal Costa gosta de desafios. Sempre busca inovar. E é, justamente, se reinventando, se transformando como uma camaleoa, que ela chega com "Estratosférica", seu novo álbum.


                              Gal Costa: celebrando cachos na capa do CD
                                                            Foto: Reprodução

Isso já se notabiliza na capa do disco. Gal reaviva suas raízes, e traz consigo seus cachos bem armados, conceito que a remete para o passado, mas que soa tão natural quanto o presente. Porém, é pouco para ela. Estratosférica é um daqueles trabalhos musicais atemporais. Muito mais do que celebrar seus feitos, Gal buscou na jovialidade de novos artistas, a fonte de parcerias e composições essenciais para marcar essa célebre junção de sua vida e carreira. Daí vieram parceiros como Marcelo Camelo, Malu Magalhães, Thalma de Freitas, Criollo, Céu, Lira entre outros. Novos rostos, da chamada Nova MPB. Um sopro de renovação e talento. Mas como esquecer dos “velhos” e bons amigos de outrora?! Gal não esqueceu deles e também trouxe consigo suas eternas e conhecidas amizades: Caetano, Milton Nascimento, Tom Zé, Marisa Monte e Guilherme Arantes. 



                                   Música: Quando Você Olha pra Ela
                                           Parceria de Gal Costa com Malu Magalhães                           
                  
Essa tônica do ontem e do hoje é o grande primor, e diferencial, de Estratosférica. Notoriamente, percebe-se a transição tênue de como a artista vai e volta nos elementos de suas canções, e a maneira como sua vez se encaixa entre a tradição e o contemporâneo. Gal Costa sai da zona de conforto e mais uma vez se joga na novidade, no desconhecido, no inovador, sem medo de errar. Mais um golaço. Aliás, inovação vem sendo a marca de Gal, ultimamente. Seu CD anterior, “Recanto” (2013), dividiu público e crítica, mas fincou-se como mais um marco em sua extensa trajetória. Ali a artista mostrou toda a força de sua personalidade, confiou na maestria de seu companheiro Caetano – que produziu o álbum, compôs junto e dirigiu seu show – e brincou com elementos que iam do eletro, passando pelo tecno, um pouco de Pop, rolou até uma batida funk em "Funk Melódico". Resultado: foi um dos melhores daquele ano, rendeu uma turnê com ingressos esgotados e um DVD.


Em Estratosférica, o eletro, Pop, rock e outras invencionices continuam ganhando espaço e surgem numa proporção harmoniosamente arrojada e gratificante aos ouvidos. Destaques ficam para “Quando Você Olha Pra Ela” (vídeo acima), composta por Malu Magalhães e já bem executada nas rádios do segmento adulto, para o rock de “Sem Medo nem Esperança”, síntese daquilo que Gal pensa e por isso mesmo afirma ser a que mais se identifica no CD, e para a única regravação presente do álbum, “Ilusão à Toa”, já familiarizada pelo público por embalar o romance homossexual de Ivan (Marcelo Mello Jr) e Sérgio (Claudio Lins), em “Babilônia”.


                             Música Ilusão à Toa: regravada e tema de novela                
                          
Dessa maneira fica cada vez mais claro que Gal Costa rompe os limites da sua própria musicalidade. Que não tem medo de ousar e ser ousada, características que sempre fizeram dela a voz do Brasil. Portanto, para aqueles, principalmente os mais jovens, que insistem em torcer o nariz - e os ouvidos - para artistas da MPB, fica a dica: abra-se para o novo e siga o som. Permita-se viajar com Gal Costa, sem fronteiras, porque ela chegou estratosférica e o céu já não é mais o limite.