domingo, 30 de agosto de 2015

Segunda Tela: Sense8 e a capacidade de surpreender a cada episódio

30/08/15
Por Jean Pierry Leonardo


Depois do sucesso de bilheteria que foi a ficção científica de “Matrix”, nos cinemas, os irmãos americanos Andy e Lana Wachowski voltam à cena com uma nova produção: “Sense8”. Ao lado de J.Michael Straczynski, eles produziram, escreveram e dirigiram a mais nova série original da revolucionária “Netflix”. Mais uma vez, apostaram na temática que os consagraram e marcaram outro “golaço”.

Foto: Reprodução/ Wikipedia

 Sense8 (um trocadilho com a palavra inglesa “sensate”, pessoa com apelos sensoriais) teve sua primeira temporada exibida com 12 episódios. A história gira em torno de oito personagens: Will Gorski (Chicago, EUA), Riley Blue(norueguesa radicada em Londres, UK), Capheus “Van Damme” (Nairóbi, Quênia), Sun Bak (Seul, Coréia do Sul), Lito Rodriguez (Cidade do México, México), Kala Dandekar (Mumbai, Índia), Wolfgang Bogdanow (Berlim, Alemanha) e Nomi Marks (São Francisco, EUA). Juntos, cada um em seu cotidiano, em seu país, com sua língua, costumes e cultura apresentam ligações mentais e emocionais que, sensorialmente, os unem. Sendo capazes de se comunicar, sentir e apoderar-se do conhecimento, linguagem e habilidades alheias. A esse tipo de dom é dado o nome de Sensate (daí o nome da série). À primeira vista você estranha. Os três primeiros episódios funcionam como uma espécie de apresentação da série, dos personagens, de tudo. Cada detalhe faz diferença e perder algo de vista é perder o “fio da meada”. Talvez, por isso, não empolgue tanto os mais afoitos por ação, aventura e toda a eletricidade que ficamos acostumados a admirar com o trabalho mais relevante até então (Matrix), dos “The Wachowskis”. Ledo engano.

Os oito sensates protagonistas
Foto: Reprodução

A partir dali, tudo muda. Parece outra série. Mas não é. Muito bem roteirazada, Sense8 começa a aprofundar o jogo psicológico e dramático que correm nas veias – literalmente – de todos os seus protagonistas. Cada episódio começa a centralizar-se em cima de um contexto geográfico, físico, emocional e ficcional diferente. Como num jogo de quebra cabeças, xadrez ou algo do tipo “gato e rato”, a trama cresce em contornos surpreendentes e muito interessantes. Respaldados pela liberdade e confiança que o on demand despeja sobre seus autores, os irmãos Wachowski faz da bandeira da empresa algo salutar para suas intempéries: a diversidade, a coragem, o inovador. Sem o conservadorismo e a hipocrisia que assola cá pras bandas da América Latina, especialmente na TV brasileira, contextos tidos por aqui como polêmicos, forçados, que atentam “contra a família brasileira” são muito bem costurados. Satisfatoriamente fascinantes. Por isso a tela começa a tingir com bordados mais coloridos quando podemos acompanhar Nomi (Jaime Clayton) – sensacional – desbotando sua transsexualidade e relacionamento lésbico com Amanita (Freema Agyeman). Sem pudores. Ou ainda “shippar” (termo que também significa curtir) o casal formado por Lito (Miguel Angel Silvestre) e Hernando (Alfonso “Poncho” Herrera), que ensandecem o telespectador/internauta no melhor estilo “latin lovers”. Encantadores. Outro destaque que salta aos olhos – sejam aqueles mais libidinosos ou mais recatados – são as cenas de sexo e nudez. Muitos diriam tratar-se de apelativas ou desnecessárias. Mas um olhar mais aguçado já deixa claro que não é, que tem sentido de ser. Todas são cuidadosamente feitas, onde uma das mais belas exibidas, grupal, uma transe coletiva, onde cada um parece fundir-se no corpo de outro, é digna de suspiros e aplausos.


Cenas de sexo são destaques pela beleza e seriedade em Sense8
Foto: Reprodução

Mas não para por aí. O mais fidedigno de Sense8, e por isso mesmo uma de suas principais virtudes, é apostar na globalização. A contemporaneidade e distinção de realidades completamente diferentes dos oito sensates contribui para que possamos mergulhar na característica de cada um. E entender a resistência de lidarem com seus poderes e emoções, sempre tão exaltadas e comprimidas em obstáculos – físicos, mentais e comportamentais. É uma espécie de thriller ficcional que, bloco por bloco, não permite arriscar ou palpitar muito sobre os próximos capítulos. Cada passo dado não significa, necessariamente, uma evolução. Pelo contrário. Aprendendo com os erros, lidando com incertezas e conhecendo suas habilidades, os personagens vão e voltam em seus próprios pontos de vistas. Impactante resume.

Cenas de ação em Sense8 entre Capheus e Sun
Foto: Reprodução

Por isso não foi tão difícil vislumbrar uma continuação. Em 08/08/15 - o mesmo dia e mês que os oito personagens principais da série fazem seus aniversários - a conta oficial no Twitter de Sense8 postou um vídeo do membros do elenco anunciando que a série da Netflix foi renovada para uma 2ª temporada prevista para 2016. Para delírio dos “fansaters”(alcunha inventada por quem vos escreve para os aficcionados ahaha) e felicidade geral da nação. Vida longa a todos!