domingo, 2 de agosto de 2015

Vamos falar de Sexismo?

Priscila Silva


Não, eu não disse sexo, eu disse sexismo! Acreditem ou não, ainda há um grupo de pessoas que associam o termo a este ato biológico, que em breve certamente será tema de alguma de nossas colunas, mas uma coisa não tem nada a ver com a outra. Também há quem confunda sexismo com machismo, e “reclame” que as mulheres sejam as vítimas exponenciais nesse quesito. Errado. Muitas vezes somos vítimas, mas não as únicas. Uma pesquisa foi realizada em diversos grupos sociais antes de iniciarmos essa matéria para ouvir o que as pessoas tinham a dizer sobre esse tema. Ouvi, ao vivo, mulheres, homens e homossexuais, pessoas de classe C e da classe média. Nas redes sociais, a pesquisa se deu entre universitários, estudantes de comunicação e em diversos outros grupos.

Dentre as opiniões ouvidas, 50% classificou o sexismo como a inferiorização da mulher, pelos homens ou pela sociedade, 20% associaram o termo ao ato sexual, e apenas 30% demonstraram ter esclarecimento sobre o assunto.
Mas afinal, que palavra é essa? Vamos às definições. Nos dicionários, podemos encontrar as seguintes:
  • “Conjunto de estereótipos quanto à aparência, atos, habilidades, emoções e papel apropriado na sociedade, de acordo com o sexo. Apesar de também estereotipar o homem, mais frequentemente reflete preconceitos contra o sexo feminino. Exemplo: a mulher vista apenas como mãe, vítima indefesa ou sedutora, e o homem, como machão, poderoso e conquistador”.
  • “Termo empregado pelos movimentos de emancipação feministas para designar a atitude dominadora dos homens para com as mulheres”.
  • “Teoria que defende a superioridade de um sexo, geralmente o sexo masculino, sobre o outro”.
  • Discriminação baseada em critérios sexuais”.


Podemos entender que o sexismo, basicamente, é a exaltação de um gênero em detrimento de outro, e isso não se refere apenas a homens e mulheres, há também o sexismo diretamente ligado à homofobia. E também nos pressupostos de julgamentos baseados, a priori, em classificação de gênero e/ou orientação sexual. Tornando mais prático, alguns exemplos:

Caracterização das mulheres, em primeiro plano, por suas atribuições físicas, pela beleza ou “falta dela (julgada segundo os ‘padrões’ estabelecidos) ” ou por sua indumentária, enquanto que com os homens, no geral, essa classificação se dá segundo suas capacidades intelectuais, ou pela quantidade de relacionamentos que possui ou possuiu (avaliação do quão “predador” ele é). Temos exemplos na política brasileira.


Livres das discussões partidárias, basta observarmos que quando se tratava de “desmerecer” o ex-presidente Lula, fazia-se críticas a seu suposto “analfabetismo” e despreparo intelectual. Hoje, podemos observar a quantidade de ataques sexistas, direcionados a Presidente Dilma Rousseff, utilizando-se de termos pejorativos e de baixo calão, apenas por sua “condição” de mulher. Os ataques chegaram ao ápice, com a imagem abaixo:























Apontamento de uma pessoa, por vocábulos pejorativos, associados à sua sexualidade. Por exemplo, taxar um gay, uma lésbica ou um trans. como promíscuos, irresponsáveis e outros termos, pelo pré-julgamento atrelado a homofobia, quando ao menos se tem conhecimento da história e da vida daquele indivíduo.

Sexismo nas instituições: Não só é predominante em grandes organizações, especialmente em altos cargos, como, pasmem, está em ascensão. Mesmo com informações como o maior índice de mulheres formadas em curso superior, nível de competência equiparado ou, por vezes, muito melhor preparadas, as mulheres ainda ganham menos que os homens no mercado de trabalho. Em percentuais fornecidos pelo Ministério do Trabalho e Emprego, a diferença na remuneração inicial, entre homens e mulheres, subiu em 7,53% entre 2003 e março deste ano. E os índices são ainda maiores, em cargos mais altos. Podemos observar esses índices em gráfico publicado pela Folha de São Paulo, no último mês de maio.


Educação X Sexismo


Segundo o mestre em educação Wilson Correia, em artigo publicado no site Brasil Escola, “as crianças não são acolhidas pelo que elas são, mas pelo que a sociedade adulta quer que elas sejam. Daí o aprendizado sexista, desde cedo”. De acordo com o autor, é na escola que se evidenciam as divisões de gênero, e elas estão por toda parte, inclusive nas atitudes dos profissionais de educação e nos materiais didáticos. Há diversas análises realizadas por mestres em pedagogia e educação, dos livros didáticos disponíveis nas escolas ainda hoje, evidenciando termos, expressões e fortalecimento de um comportamento sexista.

Ora, desmistificar preconceitos e comportamentos enraizados em uma sociedade e que são transmitidos por gerações a fio, como naturais, como comportamentos sexistas, é um grande desafio deste século. Mas não impossível se começarmos de algum lugar. E esse lugar, certamente são os espaços escolares, com foco na educação básica, que é onde o indivíduo inicia seu processo de socialização. Estudos comprovam que é na educação básica, que nem sempre recebe a atenção que deveria dos governos em relação a investimentos e qualidade da formação do quadro docente, que se dá início à construção social do futuro. Assim sendo, defende-se que é exatamente ali que se deve dar início a esse processo de criar gerações mais igualitárias na questão de gênero, do respeito às diferenças, e da não aceitação de comportamentos que promovam os estereótipos e exemplos citados no início deste texto. E deve ser um caminho continuado nos outros âmbitos educacionais. Apenas com educação, informação e ações práticas poderemos chegar em um lugar em que respeito e igualdade norteiem nosso comportamento.

Somos todos sexistas?


Este tipo de questionamento está na moda. E sempre partimos do princípio que nós estamos livres de qualquer preconceito, atitude homofóbica e desrespeitosa para com o próximo, mas será mesmo? O questionamento não pode nem deve ficar apenas no discurso. Porque não fazê-lo no silêncio de nosso próprio eu?

Não podemos nos conformar em esperar que apenas as gerações futuras resolvam essas questões. Sim, enfraquecer esses comportamentos será trabalhoso e deve começar no espaço escolar, na formação primeira do indivíduo, mas e nós? E essa geração?

Nunca se viveu uma onda tão inflamada de preconceito, ódio e desrespeito entre os seres. Estamos o tempo inteiro nos atacando e querendo, a todo custo, provar nossa superioridade. Intolerâncias de gênero, homofobia, feminicídio, machismo. Conceitos são discutidos amplamente. E as ações, onde ficam? E não falo de grandes ações governamentais, de reformulação do sistema. Quais são as nossas ações individuais para tornar o mundo onde vivemos mais igualitário? Não podemos apenas esperar pelo futuro. O momento é agora! Vamos apertar o play?

As opiniões aqui retratadas não refletem necessariamente a posição do Manifesto, e são de total responsabilidade do seu escritor.

Imagens: Google imagens