Por Jean Pierry Leonardo
Durante duas semanas, quase seguidas, um amigo culto, que
adora MPB, jazz, música clássica e outros gostos mais refinados aos ouvidos, veio
me fazer um protesto e dizer que nunca esperava ver funkeiros sentados no sofá
do “Programa do Jô”. Para ele, “o Jô já teve convidados melhores”. Os artistas
que despertaram esse nariz torcido nele? MC Duduzinho e Ludmilla,
respectivamente.
Respondi dizendo que isso era natural e há um bom tempo o
talk show do “Gordo” vinha recebendo convidados mais populares, ante aqueles
mais de “elite” que ele sempre convidava. Ainda assim, ele incompreendeu o
motivo. Bom, isso tudo significa que não somente esse meu amigo, mas muitas
pessoas vem lidando – e percebendo – que o Funk, vem ganhando cada vez mais
espaço no cenário musical, televisivo e radiofônico do Brasil. Antes
marginalizado, atualmente, os funkeiros são a nova “ode” das festas, boates,
programas e outras searas por aí. Os motivos são muitos, mas o fato é que eles
e elas chegaram pra ficar. O citado MC Duduzinho, motivo de indignação do amigo
acima, é um deles. O carioca de 22 anos, do sucesso “Normal, mamãe passou açúcar
em mim”, vem alcançando cada vez mais holofotes graças ao seu jeito “moleque
sem limites”, no bom sentido, de ser. Prova disso é que o funkeiro agora tem
contrato assinado com a Warner Music, por onde lançou seu hit “Paradinha”, tem mais de 500 mil seguidores no Facebook, mora no Recreio dos
Bandeirantes, área nobre da zona oeste do Rio, e se prepara para lançar o seu
primeiro álbum. Parar no Jô foi pouco.
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Jô Soares recebe MC Duduzinho em seu programa Foto: Ricardo Martins/Programa do Jô |
A também carioca Ludmilla (outro alvo dos protestos de meu
amigo) é outra artista meteórica. Começou cantando “Fala mal de mim” com o nome
de MC Beyoncé, mas teve que trocar o nome para não conflitar com sua diva
americana, e estourou. Também da Warner Music, hoje ela está presente nos
principais eventos de música e da TV, no asfalto e no morro, da baixada
fluminense à zona sul carioca, cantando baladas que vão do batidão ao romântico.
Mesmo tendo abolido o “MC” de sua grafia, ela transita entre o funk e o pop com
desenvoltura. É “cult”, “urban”, colou.
Ludmilla no clipe de "Não Quero Mais": lado Pop
Reprodução: YouTube
Ainda no Rio de Janeiro, quem vem despontando e promete
dominar o Brasil com seu jeito mais tresloucado de ser, suas letras de duplo
sentido e seu jeito “ostentação’’ é Nego do Borel. Se ainda não ouviu falar, em
breve o nome será familiar. O jovem carioca é outro que deixou de ser
independente e conquistou espaço numa grande gravadora, com a repercussão de
seu trabalho. Sua “nova casa” será a Sony Music, que ficou interessada no seu
lado mais Pop após o clipe de “Não Me Deixe Sozinho”, onde Borel
explorou seu lado mais cômico e melódico de ser. Verdadeiro fenômeno das noites
da cidade maravilhosa, Nego é autêntico e não tem pudor em mostrar sua vida de
luxo, ante as dificuldades de quando era da comunidade do Borel, na Tijuca,
zona norte do Rio. Assim como Duduzinho, sua inspiração vem do R&B
americano. Seu primeiro CD com selo sairá ainda esse ano.
"Não Me Deixe Sozinho": hit de Nego do Borel
Reprodução: YouTube
Mas não é só o RJ que contribui para a ascensão Pop do Funk.
São Paulo também representa quando o quesito é funkeiros. Com 21 anos, Tati
Zaqui chegou com seu “Parara-Ti-Bum” e mostrou que as mulheres tem poder também.
Estilosa e dona de cabelos azuis, ela virou sensação com a música acima, mesmo
depois de ter sido impedida judicialmente de cantar a música por problemas burocráticos.
Ousada e sem papas na língua, a jovem não só fez sucesso nas músicas, como também
ganhou status de sex symbol ao sair como capa e recheio da “Playboy” de julho.
Atualmente, está no México gravando cenas para seu novo clipe: “Água na Boca”.
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Tati Zaqui: capa da Playboy de Julho Foto: Divulgação |
Já MC Gui é o caçula do momento. Mas não menos talentoso.
Representante do “funk ostentação’’ ele coleciona views pelo YouTube, desde o
hit “O Bonde Passou”, de 2013. De lá pra cá passou a integrar a Universal
Music, ganhou cada vez mais seguidores nas redes sociais e virou figurinha
carimbada em programas como “Domingo Legal”, do “SBT”, e “Esquenta” da “Rede
Globo”. Seu clipe da música “Sonhar” já contabiliza mais de 35 milhões de
acessos. Também já foi indicado ao “Prêmio Multishow de Música Brasileira” e venceu
como “Artista Revelação” no “Prêmio Jovem Brasileiro”. Em 2014, gravou seu primeiro
DVD “O Bonde é Seu – Ao Vivo”. Carisma e simpatia são suas principais características
e a garantia do sucesso que faz.
Música: Sonhar (MC Gui)
Reprodução: YouTube
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MC Guimê cantando "País do Futebol" no Domingão do Faustão Foto: Felipe Monteiro/Gshow |
Recentemente, o que dominou as rodas de conversas e a
internet foi o “buzz” causado pelo reality “Lucky Ladies”, da Fox Life. O
programa reuniu cinco funkeiras: MC Sabrina, Karol Ka, Mulher Filé, Mari
Silvestre e MC Carol para mostrar como é o universo do funk feminino e levá-las
ao estrelato no segmento. Juntas, elas eram comandadas por uma das mais
expressivas funkeiras do Brasil, Tati Quebra Barraco. A espontaneidade, as
picuinhas, o bom humor e a qualidade da atração chamaram a atenção e mostraram
que o Funk está, mais do que nunca, na moda. Isso provou que existe um “filão”
a ser explorado nesse meio e que o telespectador também tem curiosidade de conhecer
essas mulheres e seus trabalhos, para além dos palcos.
Tati Quebra Barraco e participantes do Lucy Ladies: sucesso da TV paga Foto: Divulgação |
Assim sendo, para aqueles que se espantam ou se revoltam
como meu amigo, por ver artistas populares – especialmente funkeiros – sentados
no sofá de Jô Soares, fica a dica: aceita que dói menos. Porque eles/elas
chegaram pra ficar e não vão sair tão cedo de nossas casas, rádios e programas.