sábado, 15 de agosto de 2015

Última Nota: Funk is the New Pop?

15/08/15
Por Jean Pierry Leonardo

Durante duas semanas, quase seguidas, um amigo culto, que adora MPB, jazz, música clássica e outros gostos mais refinados aos ouvidos, veio me fazer um protesto e dizer que nunca esperava ver funkeiros sentados no sofá do “Programa do Jô”. Para ele, “o Jô já teve convidados melhores”. Os artistas que despertaram esse nariz torcido nele? MC Duduzinho e Ludmilla, respectivamente.

Respondi dizendo que isso era natural e há um bom tempo o talk show do “Gordo” vinha recebendo convidados mais populares, ante aqueles mais de “elite” que ele sempre convidava. Ainda assim, ele incompreendeu o motivo. Bom, isso tudo significa que não somente esse meu amigo, mas muitas pessoas vem lidando – e percebendo – que o Funk, vem ganhando cada vez mais espaço no cenário musical, televisivo e radiofônico do Brasil. Antes marginalizado, atualmente, os funkeiros são a nova “ode” das festas, boates, programas e outras searas por aí. Os motivos são muitos, mas o fato é que eles e elas chegaram pra ficar. O citado MC Duduzinho, motivo de indignação do amigo acima, é um deles. O carioca de 22 anos, do sucesso “Normal, mamãe passou açúcar em mim”, vem alcançando cada vez mais holofotes graças ao seu jeito “moleque sem limites”, no bom sentido, de ser. Prova disso é que o funkeiro agora tem contrato assinado com a Warner Music, por onde lançou seu hit “Paradinha”, tem mais de 500 mil seguidores no Facebook, mora no Recreio dos Bandeirantes, área nobre da zona oeste do Rio, e se prepara para lançar o seu primeiro álbum. Parar no Jô foi pouco.

Jô Soares recebe MC Duduzinho em seu programa
Foto: Ricardo Martins/Programa do Jô

A também carioca Ludmilla (outro alvo dos protestos de meu amigo) é outra artista meteórica. Começou cantando “Fala mal de mim” com o nome de MC Beyoncé, mas teve que trocar o nome para não conflitar com sua diva americana, e estourou. Também da Warner Music, hoje ela está presente nos principais eventos de música e da TV, no asfalto e no morro, da baixada fluminense à zona sul carioca, cantando baladas que vão do batidão ao romântico. Mesmo tendo abolido o “MC” de sua grafia, ela transita entre o funk e o pop com desenvoltura. É “cult”, “urban”, colou.

                                          Ludmilla no clipe de "Não Quero Mais": lado Pop
                                                           Reprodução: YouTube

Ainda no Rio de Janeiro, quem vem despontando e promete dominar o Brasil com seu jeito mais tresloucado de ser, suas letras de duplo sentido e seu jeito “ostentação’’ é Nego do Borel. Se ainda não ouviu falar, em breve o nome será familiar. O jovem carioca é outro que deixou de ser independente e conquistou espaço numa grande gravadora, com a repercussão de seu trabalho. Sua “nova casa” será a Sony Music, que ficou interessada no seu lado mais Pop após o clipe de “Não Me Deixe Sozinho”, onde Borel explorou seu lado mais cômico e melódico de ser. Verdadeiro fenômeno das noites da cidade maravilhosa, Nego é autêntico e não tem pudor em mostrar sua vida de luxo, ante as dificuldades de quando era da comunidade do Borel, na Tijuca, zona norte do Rio. Assim como Duduzinho, sua inspiração vem do R&B americano. Seu primeiro CD com selo sairá ainda esse ano.

                                          "Não Me Deixe Sozinho": hit de Nego do Borel
                                                              Reprodução: YouTube

Mas não é só o RJ que contribui para a ascensão Pop do Funk. São Paulo também representa quando o quesito é funkeiros. Com 21 anos, Tati Zaqui chegou com seu “Parara-Ti-Bum” e mostrou que as mulheres tem poder também. Estilosa e dona de cabelos azuis, ela virou sensação com a música acima, mesmo depois de ter sido impedida judicialmente de cantar a música por problemas burocráticos. Ousada e sem papas na língua, a jovem não só fez sucesso nas músicas, como também ganhou status de sex symbol ao sair como capa e recheio da “Playboy” de julho. Atualmente, está no México gravando cenas para seu novo clipe: “Água na Boca”.

Tati Zaqui: capa da Playboy de Julho
Foto: Divulgação

 Já MC Gui é o caçula do momento. Mas não menos talentoso. Representante do “funk ostentação’’ ele coleciona views pelo YouTube, desde o hit “O Bonde Passou”, de 2013. De lá pra cá passou a integrar a Universal Music, ganhou cada vez mais seguidores nas redes sociais e virou figurinha carimbada em programas como “Domingo Legal”, do “SBT”, e “Esquenta” da “Rede Globo”. Seu clipe da música “Sonhar” já contabiliza mais de 35 milhões de acessos. Também já foi indicado ao “Prêmio Multishow de Música Brasileira” e venceu como “Artista Revelação” no “Prêmio Jovem Brasileiro”. Em 2014, gravou seu primeiro DVD “O Bonde é Seu – Ao Vivo”. Carisma e simpatia são suas principais características e a garantia do sucesso que faz.

                                                         Música: Sonhar (MC Gui)
                                                         Reprodução: YouTube

 Seu companheiro de estrada, MC Guimê é puro estilo e ostentação. Além de tatuagens pelo corpo. Seu single “Plaquê de 100” foi o carro chefe para o Brasil conhecer seu talento. Com 22 anos, Guimê já é considerado um dos principais nomes do gênero e com razão de ser: tem mais de 50 milhões de acessos em “Plaquê de 100”, clipe mais visto de 2012, sua música/clipe “País do Futebol”, em homenagem a Copa das Confederações, com Neymar e o rapper Emicida teve 1 milhão de acessos em 24 horas, foi capa da revista Veja em 2014, gravou música com participação do rapper americano Soulja Boy, e viu as portas se abrirem nas grandes emissoras para atrações como “Legendários”, “Hoje em Dia”, “Esquenta”, “Domingão do Faustão”, “Altas Horas” e “Programa Raul Gil”. Mais “pop’’, impossível.

MC Guimê cantando "País do Futebol" no Domingão do Faustão
Foto: Felipe Monteiro/Gshow

Recentemente, o que dominou as rodas de conversas e a internet foi o “buzz” causado pelo reality “Lucky Ladies”, da Fox Life. O programa reuniu cinco funkeiras: MC Sabrina, Karol Ka, Mulher Filé, Mari Silvestre e MC Carol para mostrar como é o universo do funk feminino e levá-las ao estrelato no segmento. Juntas, elas eram comandadas por uma das mais expressivas funkeiras do Brasil, Tati Quebra Barraco. A espontaneidade, as picuinhas, o bom humor e a qualidade da atração chamaram a atenção e mostraram que o Funk está, mais do que nunca, na moda. Isso provou que existe um “filão” a ser explorado nesse meio e que o telespectador também tem curiosidade de conhecer essas mulheres e seus trabalhos, para além dos palcos.

Tati Quebra Barraco e participantes do Lucy Ladies: sucesso da TV paga
Foto: Divulgação

Assim sendo, para aqueles que se espantam ou se revoltam como meu amigo, por ver artistas populares – especialmente funkeiros – sentados no sofá de Jô Soares, fica a dica: aceita que dói menos. Porque eles/elas chegaram pra ficar e não vão sair tão cedo de nossas casas, rádios e programas.