Coluna: Cultura Manifesta Autor: Israel Esteves
Estamos crescendo. A cada semana sai uma entrevista e alguém novo entra para o nosso show. Nesta semana, falei com os produtores do festival de rock em Marechal Hermes, o Roquealize-se. O evento está em sua 6ª edição e promove o rock independente não só na região, mas de uma forma geral. Nada mais a cara da Cultura Manifesta. Confira e Roquealize-se você também.
Quem
são os produtores do festival?
Renan
Sparrow: Atualmente a produção é formada pelo Raphael
Palladino (Fotógrafo e Músico), Henrique Ralsi (Estudante de Engenharia Naval e
Oceânica na UFRJ e Músico), Rafael Acioly (Dono da Voltz Skateboards), Paula
Puga (Fotógrafa e Publicitária), Thays Grabielle (Estudante de Matemática na
UFRJ), Alysson Bravo (Estudante de Engenharia Química) e eu, que sou
Publicitário e Designer em uma agência.
O
que é o Roquealize-se?
Raphael
Palladino: O Roquealize-se é um projeto musical que visa levar
novas bandas de rock, de forma gratuita, à praça de Marechal Hermes, atual casa
do evento.
Como
surgiu o projeto?
Raphael
Palladino: Há uns anos existiam encontros de roqueiros pela
cidade, e um desses era organizado por três dos produtores, Henrique Ralsi,
Raphael Palladino e Renan Sparrow, sempre com a ideia de pôr bandas na praça
onde o evento acontecia. Renan procurou os demais para expor ideias e dar
início ao evento.
Renan
Sparrow: A ideia foi plantada em 2010 e só tomou forma em
2013.
Vocês
estão na 6ª edição. Quais foram e quais são as principais dificuldades na
produção do evento?
Raphael
Palladino: O evento acontece de maneira gratuita e uma das
grandes dificuldades são os gastos financeiros. Além disso, é numa praça, ainda
precisamos nos locomover até o local, montar toda estrutura e correr contra o
tempo. É um grande desafio que encaramos a cada 4 meses, mas o resultado é
gratificante.
Renan
Sparrow: Esse talvez seja o nosso maior problema. Muita
gente acha que por estarmos vinculados com a prefeitura estamos embolsando um
mar de dinheiro. Mas, por muitas vezes, eu (e os outros produtores) tiramos
dinheiro do nosso bolso para fazer acontecer o evento. Então se você tem uma
empresa e está lendo isso, nos patrocine!
Tem
apoios como a Rádio Cidade e a Prefeitura do Rio de Janeiro. Qual a importância
das parcerias não só desses, mas de outros apoiadores do projeto?
Raphael
Palladino: Um evento apoiado pela Prefeitura é
sempre bem visto, com seriedade, pois para ter esse apoio é preciso ter um
evento documentado. A Rádio Cidade é um dos maiores portais de rock no Brasil,
com isso ela nos fez difundir mais o evento. Não tivemos somente o nome da
Rádio conosco, mas sim, ela presente. Isso foi de total importância para nós e
para o público.
Renan
Sparrow: Arriscaria dizer que a Rádio Cidade foi de
fundamental importância para a última edição. Graças a isso, para as próximas
edições, nos sentimos preparados para voos maiores. E, para, a cada edição
oferecer maior conforto ao público e às bandas.
O
festival é produzido na zona norte do Rio de Janeiro há 2 anos. Acreditam na
maior difusão não só do rock, mas da arte na região nesse tempo?
Raphael
Palladino: Após a chegada do Roquealize-se em Marechal Hermes,
pudemos ver a praça ser revitalizada, onde, além do rock passaram a acontecer
outros tipos de arte. No início do dia, quando começamos a montagem do evento
já somos abordados por moradores interessados em saber o que terá na praça.
Renan
Sparrow: Depois de nós começou a rolar pagode, feira de
livro e outras atividades na praça. Acho que mostramos que ali é um ótimo ponto
para esse tipo de coisa.
Paula
Puga: Antes do Roquealize-se chegar em Marechal Hermes,
todo o bairro estava carente de cultura, mesmo tendo um teatro bem perto. E
desde quando o evento chegou, surgiram diversos eventos, desde MPB até teatro
de rua, e sem contar que os moradores da região começaram a frequentar, não só
o Roquealize-se, mas outros eventos de rock.
Abaixo o vídeo da terceira edição do evento, realizado em 12/04/14
Apoiaram
a campanha “Underground Contra o Frio”. Acreditam que o cenário cultural pode
ser mais que arte pela arte?
Renan
Sparrow: Isso sempre será. O Rock até o começo dos anos 90
falava muito em grupos, ideologias, movimentos... Após o Grunge não tivemos
nenhuma outra “cena” rock de proporção global. As bandas que surgiram depois e
tomaram proporção mundial só falam de suas músicas no sentido individual. O
“eu” é importante, não mais o coletivo. Então, acreditamos que apoiar causas e
tudo mais é de suma importância para a aceitação social do festival.
Raphael
Palladino: Sem dúvida, apoiar causas assim é muito importante,
como o Renan disse. Como músico, já toquei em diversos eventos onde
arrecadávamos alimentos e roupas, além de levar assistência social e música às
comunidades carentes no Rio. No dia do evento
mesmo, estávamos, além de recolhendo agasalhos, também anunciando um evento em
prol de uma menina que teve a casa incendiada. O evento acontecera na Lona
Cultural de Guadalupe.
Henrique
Ralsi: Sim. Na verdade, acredito que todo movimento
cultural, seja artístico ou social, é agente modificador da sociedade. A
história da música nacional apresenta exemplos de fortes ideologias que
impulsionaram movimentos culturais que não eram apenas arte pela arte.
Alysson
Bravo: Inclusive, todas as roupas arrecadadas nesta
edição, foram doadas pela equipe do Underground Contra o Frio para moradores de
rua ali mesmo pelos arredores da praça durante o evento.
Dão
oportunidade a uma banda eleita pelo público para abrir o festival. Qual a
importância do incentivo a arte independente?
Renan
Sparrow: São sempre 6 bandas no nosso palco. Temos todo um
trabalho para montar um lineup bem diversificado não só musicalmente, mas de
áreas diversas do Rio de Janeiro. A banda de abertura é uma forma que temos de
atingir ainda mais novos artistas e coloca-los em um palco bom e já reconhecido
pela cidade. Pois sabemos que muitos eventos são fechados em grupos e é difícil
bandas não amigas participarem.
Qual
a sensação de terem o evento no calendário das comemorações dos 450 anos do Rio
de Janeiro e o reconhecimento como Ação Local pela Secretaria de Cultura da
cidade?
Renan
Sparrow: Não foi algo entregue de bandeja. Participamos de
um edital para a Prefeitura, e eu tive que largar minha monografia para
conseguir entregar tudo a tempo. Com trabalho vem o resultado, nada cai do céu.
Raphael
Palladino: Corremos pela cidade colhendo depoimentos, foram
mais de 100km por aí, mas no final deu tudo certo e hoje é lindo olhar aquele
mapa e ver nosso nome em Marechal Hermes.
Como
veem a influência do rock no país?
Renan
Sparrow: Muito pequena, mas acho que em um “trabalho de
formiguinha” estamos tendo destaque. Não sei se teremos uma nova safra como
aconteceu em Brasília décadas atrás. Mas acho que tem algo bom vindo. Ao menos
acredito nisso. Malta não ganhou o Superstar à toa. Suricatos e Scalene não
ganharam reconhecimento nacional à toa. O Rock In Rio, com mais ou menos Rock,
tem a sua importância para o meio. E aqui no Rio de Janeiro tivemos o retorno
da Rádio Cidade, que de alguma forma mostra que existe ainda mercado para o
gênero. Se a economia girar ao redor do Rock, haverá investimento e,
consequentemente, colheremos os frutos disso no futuro.
O que gostariam de falar ao público?
Renan
Sparrow: Participe! Participe mesmo. Não é só compartilhar
ou dar curtida nas redes sociais. Faça presença nos eventos, festivais e shows.
Compre os CD’s, camisas ou qualquer coisa que a banda ou evento venda e te
agrade. Não precisa ser falso, se te agradar, faça o esforço de consumir.
Através do consumo vamos crescer e alcançar ainda mais pessoas. Não assista o
show em um bar e compre cerveja no bar do lado por causa de 50 centavos. Esse
tipo de atitude estúpida prejudica o mercado e pode acabar te deixando sem
opções no fim de semana, terá de voltar para o pagode, funk, sertanejo... Então
saia de casa e VIVA o Rock!
Raphael
Palladino: Gostaria de dizer também às bandas: Vocês também
são público! Prestigiem o evento e apareçam, quem sabe vocês possam estar no
palco em edições futuras!
Paula
Puga: Ouça, curta, compartilhe e principalmente, vá nos
eventos! Existem trabalhos maneiríssimos e de estilos variados. Chame os
amigos, e curta o rock! Bandas, compareçam também!
Curtiram? Conheça mais sobre o evento na página
oficial do Roquealize-se no facebook clicando aqui. E, continue acompanhando a coluna Cultura Manifesta, todos os sábados. Até a próxima!
Imagens: Produção Roquealize-se