17/03/16 - Coluna: Litera Manifesto Autor(a): Alex Gilson
Começo este texto tentando visualizar o grande Tom Jobim, compondo a canção águas de março no contexto atual. Imagino, ele com seu piano e os primeiros acordes ecoando à poesia brasileira. Infelizmente, não é só pau e pedra que ele veria pelo caminho.
Ele se depararia com uma atlântida diante de seus olhos,
onde saneamento básico não é prioridade, onde sediar grandes eventos é mais
oportuno para uma próxima eleição e para manter um poderio monopolista
partidário. Tom ainda encontraria um resto de toco, um caco de vidro, a noite e
com certeza a morte.
A morte de pessoas tornou-se apenas mais uma para as
estatísticas. É a vida sendo levada pela negligência daqueles que tem por
função ser nossa voz, nossos olhos e zelar pelo nosso bem estar. Retomo eu de
novo, para a imagem de Jobim sobre o piano, será que ele encontraria inspiração
ao ver tanta mazela, tanto sofrimento.
Entretanto, acho que Tom meio que já previa que nada seria fácil, já dizia ele a avé do céu, a avé do chão, É o fundo do poço, é o fim do caminho... No rosto um desgosto, é um pouco sozinho. Mas Jobim era sábio, ele saberia como mostrar em cada verso um grito de que ainda há esperança, chance de mudanças.
Ele diria: ‘São as águas de março fechando o verão, é a promessa de vida no teu coração’.