quarta-feira, 16 de março de 2016

Bondade dos bons

Valeria Vianna


Por que tenho medo da “bondade dos bons”? Explico.  

 
Um dos Procuradores do caso Lula é, segundo dizem, um homem bom, religioso e fiel a uma igreja evangélica (acusada de explorar crianças e adolescentes, obrigando-os a vender sanduíches em vias públicas, de madrugada, e a realizar serviços de faxina no templo, em Porto Velho).[1] Em 2014, o Procurador foi denunciado ao Juizado de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher, acusado de agressões físicas contra sua esposa. Segundo a imprensa[2], o Procurador teria espancado sua esposa com um cipó e cinto, deixando-a em cárcere privado, obrigando a dormir no chão, sem cobertor e a se alimentar somente depois que os outros fizessem sua refeição, o que culminou no adoecimento de sua esposa.

Estamos cansados de pessoas de bem, que proclamaram Sérgio Fernando Moro como um Herói; que aplaudem a condução coercitiva (ilegal) do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e que se alegraram ainda mais diante do também ilegal pedido de prisão preventiva. Ignorando o fato de todas as atitudes serem inconstitucionais e, portanto, ferirem fortemente os direitos dos envolvidos e, claro, de todos. Até então essas atitudes (arbitrárias) que ocorrem diariamente no país não eram tidas como notícias de telejornais e sendo assim, compreensível (talvez, melhor acreditar) por falta de conhecimento desses fatos existenciais lamentáveis. Desculpem-me dizer, mas cuidado ao apoiar o poder, negando os direitos de outros cidadãos. Afinal, amanhã é você que vai querer seus direitos reconhecidos; e quem vai decidir é o mesmo que prendeu sem julgamento ou que condenou sem provas concretas.

Manifestantes adeptos e defensores da moral e dos bons costumes, que foram para a rua pedir o impeachment da Presidente Dilma Roussef desconsideraram os requisitos impostos pela lei que regulamenta o impechment. Ora, Dilma foi eleita democraticamente por meio de uma eleição onde teve voto da maioria. A sociedade é feita de regras; é como um jogo: se você jogou (votou) e perdeu, amigo, espera a próxima rodada (quatro anos depois) e tente novamente, pois é assim que a Constituição determinou que o jogo fosse jogado. Afinal, um bom jogador é aquele que sabe perder também. Quer uma revanche? Analise, estude, veja onde errou, e se prepare para encarar tudo de novo. Não é porque perdeu que você vai querer acabar com tudo como uma criança mimada, sob pena de incorrer no denominado complexo do pombo enxadrista, isto é: "Discutir com ignorante é o mesmo que jogar xadrez com um pombo: ele defeca no tabuleiro, derruba as peças e sai voando, cantando vitória."


[1] WWW.rondoniaovivo.com.br
[2] WWW.noticias.gospelmais.com.br

Imagem: Brasil247.com