18/03/16 - Coluna: Última Nota Autor(a): Jean Pierry Leonardo
“Já que é pra tombar,
tombei!”. É parafraseando o seu maior sucesso, “Tombei”, que se pode resumir a
apresentação da rapper Karol Conká
na tarde do último domingo (13/03), no festival Lollapalooza, em São Paulo. Abrindo as apresentações no palco
eletrônico, desta vez ao ar livre e não em tenda, a curitibana levou muitos
sintetizadores, batidas marcantes, versos fortes, cores e feminismo/ativismo para uma galera, majoritariamente, formada por
jovens de estilo alternativo e o público LGBT da festa.
Com um look altamente chamativo e colorido, usando e
abusando da fluorescência com franjas e cabelo rosa trançado, Conká mostrou
porque desponta como única mulher de maior destaque, atualmente falando, no
cenário nacional do rap. A curitibana levantou a galera com seus maiores
sucessos além de Tombei, como “Boa Noite”, “É o Poder” e “Lista Vip”. Dona de
uma personalidade forte, Karol costuma fazer dos versos de suas músicas um protesto
contra todo o sistema elitista, homofóbico, machista e preconceituoso do
Brasil, que se configura numa bela presença de palco e espírito. “Eu tenho o privilégio de poder falar por
meio das minhas músicas e ter um alcance. E é isso que eu faço, falo pra
incomodar e para chamar atenção sobre algum assunto”, afirmou a artista em
entrevista ao jornal “Folha de São Paulo”.
Não foi à toa que ela dominou a cena no início da tarde passada, no Autódromo de Interlagos, local do festival. Com um público sabendo suas letras de cor – mostrando a popularidade alcançada nos últimos anos – ela fez do palco, uma plataforma para seu lado ativista. Ao defender as mudanças sociais conquistadas pelo feminismo, ela não hesitou e objetivamente disse: “Aceita que dói menos”. O lado político se afirmou ainda mais quando convocou a funkeira MC Carol, símbolo da auto aceitação do corpo feminino e também feminista em seus discursos, para dividir o momento porta-voz. “É importante que essa ideia não seja deturpada”, disse ela. Nunca a junção de estilos tão diferentes entre si, mas ligados por contextos sociais, foram tão bem capitaneados num evento indie brasileiro.
Esse momento pode ser considerado emblemático. Sim, porque
Karol Conká transpôs a barreira elitista que costuma separá-la de eventos como
esse, geralmente marcado e freqüentado por um público mais seletivo e branco,
para fincar o protagonismo das mulheres e mulheres negras, bem como de outra
“frente de batalha” assumida em seu trabalho: o apoio à causa LGBT (Lésbicas,Gays,
Bissexuais, Travestis e Transgêneros), público esse expressivamente presente no
Lollapalooza e base de seus fãs em shows pelo país.
Todos esses elementos reforçam a significância de Karol
Conká para a música brasileira, que abre um caminho para a introdução de
mulheres num meio musical, predominantemente machista, onde elas já as tiram
como referencial. O único pesar disso é perceber que, apesar de tudo isso,
Conká ainda não tem o reconhecimento de público e mídia como deveria, no estilo
já concebido a Anitta e Ludmilla, por exemplo.
Mas com um disco prometido para maio ou junho, muito “buzz” e talento, será questão de tempo. Afinal, “Mamacita fala, vagabundo senta”. E também vai aplaudir.
Mas com um disco prometido para maio ou junho, muito “buzz” e talento, será questão de tempo. Afinal, “Mamacita fala, vagabundo senta”. E também vai aplaudir.
Imagem 1: Divulgação
Imagem 2: Francisco Cepeda/AGNews
Imagem 3: Reprodução