segunda-feira, 28 de março de 2016

Há 25 anos Ayrton fez história ao vencer o GP do Brasil


28/03/16    -    Coluna: Esporte Manifesto    Autor(a): Leandro Soares

Há exatos 25 anos, no dia 24 de maço de 1991 Ayrton Senna vencia pela primeira vez o GP Brasil de Fórmula 1, conquistado no circuito de Interlagos, em São Paulo. Vitória em que Senna almejava tanto e veio a conseguir na oitava tentativa, desde sua estreia que ocorreu em 1984 quando iniciava sua trajetória na categoria com sua pequena equipe Toleman, no circuito de Jacarepaguá no Rio de Janeiro.

O final de semana daquele GP Brasil foi intenso, pois os treinos livres apresentaram uma Williams extremamente forte com sua dupla de pilotos Nigel Mansell e Ricardo Patrese, como os grandes favoritos a brigar pela vitória. Já Ayrton vinha no embalo de bons resultados, com a recente conquista de seu bi-campeonato, e pela vitória que havia conquistado na estreia da temporada de 91, ocorrida no GP do EUA, no Texas.


Basicamente aquele final de semana resumiu nas disputas entre os carros Williams que já aparentava ser a grande força daquela temporada, mas que sofria com a confiabilidade do seu carro cheio de recursos eletrônicos, e Senna em um bom momento embalado por correr em casa.

Na classificação foi o aperitivo de como seria a corrida no dia seguinte, Mansell cravou a pole. Porém, Patrese logo na sequência superou o leão e cravando o melhor tempo tomando a primeira posição deforma que surpreendeu a todos, com um incrível tempo 1:16.775’. Sendo que na sua última tentativa, Ayrton literalmente voou no traçado de Interlagos e arrancou no final do treino a pole positian de Patrese, estabelecendo o tempo 1:16.393’ levando o público ao delírio.

Link da volta que marcou a pole de Ayrton

 
 
No domingo (24/03), com o tempo instável em torno do autódromo apontava como mais um ingrediente para colocar mais emoção ao público e um drama aos competidores durante a corrida. O grid de largada formado por Ayrton, Patrese, Mansel e Berger que ocupavam as duas primeiras filas. Um susto antes da largada com o carro de Berger que teve um princípio de incêndio, apagando logo na sequência após a largada. Nesse momento Senna disparou na frente, sendo seguido por Nigel Mansel, superando Patrese logo na largada.

Durante boa parte da corrida a disputa ficou entre o brasileiro e o inglês, se distanciando dos demais competidores. Senna obteve vantagem após sua parada nos Box, onde foi bem sucedida sendo que o leão teve problemas. Nesse momento Ayrton obteve uma vantagem mais de 30’ segundo a frente de Mansel. No entanto esta vantagem começou a diminuir, quando a caixa de câmbio de Senna apresentou os primeiros sinais de problemas.

Enquanto Mansell começava a se aproximar na caça ao líder, sua Williams também apresentou problemas com o seu câmbio - que era um semi-automático, novidade naquela época – fazendo o leão rodar no S do Senna, terminando assim sua participação no GP. Com isso Patrese assumiu a segunda colocação com uma diferença de mais de 40 segundos atrás de Senna, completadas 60 voltas, num total de 71.

No que se encaminhava para uma vitória tranqüila, se tornou uma corrida dramática. A cada volta que se completava o problema de Ayrton se agravava, primeiro foi a terceira e quinta marcha a falhar e na sequência foram as demais, travando o câmbio na sexta marcha. Na época a informação não era tão instantânea como nos dias de hoje. Quando um carro perdia rendimento, sabia que apresentava algum problema, mas não com precisão, para poder explicar o tempo de 1:28.9’. O resultado disso na prática foi aproximação assustadora de Patrese em cima de Senna, que nessa altura virava 1:22.3’.


Com adrenalina nas alturas, ninguém foi capaz de perceber que nas voltas finais Ayrton não mexia mais na alavanca do câmbio – naquele período o cambio da maioria dos carros era manual, tendo uma alavanca localizada na parte de trás do volante – além de comentários de quem acompanhava de perto a corrida, percebia que o barulho do motor do Senna não tinha tanta força na reta, enquanto o motor de Patrese berrava de forma ensurdecedora. 

O drama aumentou de vez com a chuva que começou a cair no circuito de forma leve, porém o suficiente para fazer um piloto rodar com o carro.  Nesse momento que começa acontecer o inexplicável. Ayrton começa acelerar mais fazendo que a diferença não caísse bruscamente, assim conseguindo marcar 1:25.7’, enquanto Patrese girava em torno 1:21.6’ já nas voltas finais com uma diferença que era de 40s, para apenas 8s.

Nas últimas voltas veio à consagração, com a chuva apertando cada vez mais deixando a pista sinuosa e perigosa. Senna de forma inexplicável acelerou ainda mais, registrando o tempo 1:24.7’ enquanto Patrese com dificuldades que o asfalto molhado apresentava, marcava 1:23.4’.
Desta forma veio a vitória do GP Brasil, a primeira de Ayrton em casa com uma diferença de apenas 3 segundo para o segundo colocado. De forma dramática, com muito esforço e dor, ele levou mais de 70 mil torcedores que lotavam o autódromo ao foram ao delírio, que junto com locutor de televisão passava essa mesma mensagem aos telespectadores com a forma emocionada por narrar àquela linha de chegada. Isso ficou bem claro pela forma emocionada e marcada pelos gritos eufóricos de Senna, dentro do cockpit, não havendo a necessidade de tradução para o mundo que acompanhava aquele momento.

Todo esse esforço levou Ayrton ao limite, não conseguindo conduzir o carro aos boxes devido às dores musculares causada pelo esforço extremo. Mesmo sem força física, para se manter em pé, ele fez questão de comparecer ao pódio. A dificuldade em levantar o troféu demonstrou a todos o quanto foi difícil conquistar aquela vitória. Mas a sensação que tenho e está gravado em minha memória é que tudo aquilo só foi possível com a energia da torcida que acelerou junto e emanou força, para tudo aqui ter sido possível.

No final Senna descreve emocionado como conseguiu realizar tal feito – "Achei que não ganharia. Nas últimas 3 voltas, pensei 'se der vai ser no grito. Mas lutei tanto pra chegar nisso. Vai ter que dar" e completou dizendo "Deus me deu essa corrida".

Sem dúvidas esse foi uma corrida especial de Ayrotn, não só por ter vencido em casa mas pela forma que foi construída, do que seria impossível se tornar possível. Algo que ele fazia com muita maestria, tornando especial e inesquecível. Quem presenciou aquele momento terá marcado na memória. Para quem não pode presenciar, compartilho esse momento com essa singela homenagem desse dia inesquecível, e claro com a ajuda do youtube.

Volta final mais pódio

 




Imagens:

Reprodução