quarta-feira, 2 de março de 2016

Conheça Nyl MC com a CM


02/03/16    Coluna: Cultura Manifesta       Autor: Israel Esteves



Tenho o prazer de voltar a escrever para vocês, amantes da cultura. Como toda semana é semana de Cultura Manifesta, nesta não podia ser diferente. Na cena desde 2007, convidei o produtor cultural, agente social e rapper, Nyl MC. O músico que deu seu recado semana passada sobre a Lei Rouanet, dessa vez volta, para mostrar seu trabalho e projetos em nosso espaço de cultura independente. Por isso, aquele pedido especial que faço, peguem um bom café, sentem em um ótimo sofá e confiram.

Quem é Nyl MC?

Certa vez ouvi que uma pessoa na verdade são três: o que os outros acham o que ela é, o que ela acha que é e o que ela realmente é. Daqui posso dizer que sou um cara tranquilo, na medida do possível, que encontrou na arte um canal pra se expressar, se libertar e se afirmar. Sabe aquele anseio de mostrar pro mundo, que tenta te silenciar e “invisibilizar”, que você existe, tem algo a dizer e deixar nessa terra? Tipo isso... Não acredito muito em predestinação, mas creio que não estamos nesse mundo à toa.

Conta um pouco mais sobre seu trabalho.
Sou MC, faço rap há nove anos. Comecei incentivado pelos amigos que eu andava mais na época. Tava geral pilhando de cantar rap, mas eu não me via fazendo isso, mesmo que já gostasse de escrever. Na mesma época conheci um amigo chamado Fydell que já rimava e ele me ensinou bastante sobre rap. Dai passei a fazer back vocal dele e depois me dediquei mais ao grupo, BDO Mcs, que se encerrou em 2009. No ano seguinte iniciei meu corre solo e pelas andanças conheci o Row G, que além de DJ é produtor musical e executivo, Em 2013 ele me chamou pro selo #NovaBlack no qual estamos juntos até hoje. Lancei um EP chamado “Escuta essa Parada” e em 2014 o CD Original da Pista. Nesse mês tem single novo no ar!

Além da música, faço parte do coletivo Resistência Cultural, que é basicamente a soma do Nyl MC e da banda Bala N'agulha em prol da abertura de espaços e de uma política de cultura mais democrática. Realizamos encontros multi-linguagens na Arena Dicró e na Lona de Vista Alegre, agregando música, artes cênicas, dança e exposições com entrada grátis e até o momento sem um grande patrocinador ou grana de edital, só apoio do comércio local e construindo com a nossa rede mesmo. Não é nada fácil, mas vem dando ótimos resultados e já potencializamos a carreira de alguns artistas da cena independente. Muito gratificante contribuir para isso também.
 

 
 
Quais são suas inspirações e referências?

Muita gente me inspira! Bnegão, Marcelo D2, MV Bill, Kamau e Nelson Maca são alguns. Procuro assimilar bastante coisa, de Kendrick Lamar ao A Tribe Called Quest. Sem deixar de ouvir Jorge Aragão e Gonzaguinha. Tenho ouvido muito Aláfia e Russo Passapusso também!
 
Teve participação no programa de nove anos de A Voz das Periferias, apresentado por MV Bill, ao lado de outros nomes da nova cena do rap. Como enxerga essa junção entre novas e as mais antigas gerações do rap?
Isso é essencial pra se ter um movimento na prática. Sem dúvida, ótima oportunidade de troca. Respeito é um dos grandes ensinamentos do Hip Hop e vai muito além de ganhar moral pelas suas habilidades. É mais sobre respeitar os outros. Saber chegar e saber sair pra poder voltar. Aprendo sempre nas conversas com os mais velhos e poder trocar ideia com alguém que é referência pra mim sempre será enriquecedor. E sendo mais novo posso contribuir de outra forma também.




Tratando de temas como mobilidade urbana, sustentabilidade, entrou na lista “Os sete cantores que falaram sobre sustentabilidade e você percebeu”, do site “Menos 1 Lixo ”, ao lado de grandes nomes como Vanessa da Mata e Tom Jobim. Qual foi a sensação de ver seu nome nessa lista e o que esses temas representam pra você?

Sempre bom ser lembrado, principalmente quando ouvem o que você diz e conectam a temas tão importantes e que estão ligados diretamente as nossas vidas. É uma das músicas que mais gosto do Original da Pista e escrevi a partir da minha relação direta com a Avenida Brasil, principal via da cidade do Rio. Foi bem natural, nunca foi pensado em ser ‘’a música que vai falar sobre sustentabilidade’’. Isso é bom, porque reafirma o quanto essas questões estão próximas da gente, nos afetam e precisam ser debatidas para se construir novas possibilidades. O Rio de Janeiro tem uma deficiência grande no transporte público e a sua principal lagoa é totalmente poluída. Que cidade é essa que temos pras Olimpíadas? E qual cidade que vão nos deixar de legado?
 
 
Já cantou com nomes que passaram aqui pela Cultura Manifesta como El Toco e Caio Nunez. O que pode dizer sobre esses duetos?

São pessoas maravilhosas! Talentosos e iluminados. Sempre me receberam bem e fico feliz de poder fazer música com estes caras. Acredito muito no Rap indo além do seu meio e sendo levado a outros lugares, a outros ouvidos e se somando em outras vertentes. Sem dúvidas, vamos ouvir e vê-los muito por ai.  Logo menos terão algumas parcerias com estes caras saindo nos trabalhos deles e no meu.
 
Com uma sociedade mais politicamente correta, como acredita que isso se reflita no rap? Está mais fácil ou mais difícil abordar temas que hoje são considerados mais delicados?

Acredito que o Rap sempre foi o incômodo do moralismo e a forma de amplificar a voz dos que vivem a margem dos padrões da sociedade. Hoje existem mais narrativas, sejam de pessoas da classe média ou de homossexuais assumidos. Acho que a diversidade faz bem e é necessária. Só não podemos esquecer que arte também é posicionamento, mesmo que inconscientemente. E que o Hip Hop é uma cultura de matriz africana, sendo um desdobramento dos Soundsystems, Soul, Funky, Jazz, Afrobeat e dos ritmos tribais.
 
Terá uma coluna com a gente, aqui na Manifesto. O que espera dessa nova experiência?

Pouca gente sabe, mas cheguei a iniciar o curso de Jornalismo, mas devido a contratempos da vida tive que trancar e não conclui. Hoje estudo na ESPOCC - Escola Popular de Comunicação Crítica e tenho aprendido muito sobre o conceito de Publicidade Afirmativa. Tenho resgatado o hábito de escrever textos e espero contribuir para o site, trazendo minha vivência pra cá, a partir das questões da população preta no Brasil e no mundo.  Será desafiador e uma grande responsa.
 
 
Se pudesse adicionar algo novo ao seu trabalho, o que seria?

Hoje eu me vejo mais próximo do tipo de MC que gostaria de ser.  Então adicionaria mais arte, cultura, comunicação, tambores, melodias, “flows” e quem sabe isso tudo não venha com uma banda pra ser minha e tocar comigo?
O que gostaria de falar ao público?
Agradecer a cada um que vem fortalecendo e acreditando nessa empreitada. Desde o início até aqui nesse momento. Que cada um possa ser um elo nessa corrente para transformar a nossa realidade.

E aí pessoal, conhecer o Nyl ? Então, eu também curti! É ótimo ter mais uma vez a presença do rap nesse nosso espaço cultural. Bem, vamos chegando a mais um final de coluna. Eu sou Israel Esteves e lhes deixo mais uma Cultura Manifesta
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Fotos: Jéssica Andrade, Letícia Barcelos, Lucas Sá